Mas não veio. Sei disso não porque me lembro, mas porque quando o
frio me acordou e amanheceu do lado de fora, a Mia não estava lá. Não tinha
ninguém ali comigo. Minha cama estava vazia – como sempre. Sozinha entre os lençóis, a minha memória custava a
recordar como eu havia chegado da porta até ali. Deve ter sido a bebida, pensei, ao abrir os olhos e sentir um enjoo
horrível, afundada no meu próprio cabelo com cheiro de cigarro. O meu braço
despencava do colchão, descoberto, e a minha cabeça parecia pesar mais do que o
normal contra o travesseiro.
Ressaca, argh.
Tinha preguiça até de me mexer – o restante da cama não estava tão
quente quanto o pedaço onde eu estava deitada e isso me tirava toda a coragem
de sair dali. Despertar um músculo sequer parecia um esforço desnecessário. Manhãzinha ingrata, resmunguei mentalmente,
azeda. Mas, ainda assim, me estiquei. Empurrei o corpo levemente para cima,
apoiada no braço direito, e usei o outro para alcançar a coberta amassada ao pé
da cama. A colcha estava gelada de tanto tempo jogada ali, às traças, mas só de
cobrir aquele tanto de pele exposta – de quem dormiu equivocadamente só de cueca
e com a janela aberta –, ah, já me deixou
bem mais confortável. Me aconcheguei e fechei o olho por um instante.
Daí reabri, de repente.
Tive a impressão de que o “instante” – que era para ter durado dez
segundos – tinha sido bem mais do que aquilo. Merda. Chutei as cobertas para baixo novamente, pulando apressada
da cama. Argh, eu odiava levantar
assim tão bruscamente, ainda mais de ressaca e com a cabeça doendo. Inferno.
Saí do meio dos lençóis e corri para pegar meu celular no bolso da jaqueta, ainda
largada no chão perto da porta. Bosta,
xinguei para mim mesma ao ver as horas, bosta, bosta. Apoiei a testa
contra a madeira do batente, apertando meus olhos fechados, devia ter saído
vinte minutos antes para trabalhar e não estava sequer vestida. Que ótimo.
Arrastei-me lentamente até o corredor, abrindo a porta, e fiquei
parada por um tempo, observando o silêncio no apartamento. Então atravessei até
o banheiro e escovei os dentes para tirar aquele gosto da boca. Ignorando o meu
atraso, entrei no chuveiro e liguei a água, fui me deixando tomar por aquele estado
contemplativo melancólico de quarta-feira-de-manhã. A água escorria pela minha
cabeça e eu me afundava em mim mesma – num cansaço desanimado. Aquela lentidão
sem fim. Ao sair, me enxuguei e andei pelo apartamento com o cabelo molhado,
pingando pelo chão conforme eu andava.
Cheguei na cozinha e parei por alguns segundos em frente à
geladeira. Até me decidir pelo ovo – cura-ressaca
infalível: torrada, ovo mexido e uma fatia de queijo por cima. Anos de eficiência.
O frio arrepiava o meu corpo descoberto. Lá fora, o dia estava cinza – feio e
escuro e bem paulistano. Ainda assim, eu me recusava a acender qualquer luz na
casa e a interferir no meu mau-humor. Tinha dias em que fazia questão de me
afundar na fossa lama. Peguei meu prato e levei-o para o quarto, sem
qualquer senso de urgência pelo atraso. Deixei-o em cima da cama, enquanto me
enfiava em um moletom-quentinho-de-dormir.
E então decidi: não vou pro
trampo.
Concluí que a desculpa até que colaria, considerando o quanto eu supostamente já não me sentia bem no dia
anterior. Liguei e avisei. Que se dane.
Coloquei uma meia no pé e subi na cama para terminar de comer. E aí... aí...
Bom, aí o dia ficou livre, não é. Droga.
Eu tinha horas – horas e horas e horas – desocupadas pela frente e nem
um maldito plano do que fazer senão me recordar de que continuava sozinha
naquela porra de quarto. Deprimida. Um fracasso amoroso ambulante. Para ajudar,
a blusa da Mia continuava junto ao resto das outras coisas largadas no chão.
Ali, paradinha, só me incomodando. Que
inferno. Tentei ignorar aquele pedaço de pano, enquanto ele me lembrava
cruelmente com quem eu não havia dormido naquela noite, e pus-me a pensar no
que fazer com o meu dia.
Tá. Sentada
aqui sozinha não vai rolar, levantei e liguei o computador. Meti o som no
último volume, claro, na esperança de que aquilo ocupasse o cômodo vazio.
A primeira música aleatória tocava enquanto eu rodava a minha playlist atrás de
algo que combinasse com o meu humor. Sabe-se-lá quantos GBs de obsessão musical
em pastas e subpastas, arquivos baixados ilegalmente ao longo dos anos, centenas
de nomes pequenininhos correndo pela tela. E aí, como quem não estava
procurando, achei a música que eu havia perdido. É. A mesma da noite
anterior. Coloquei os pés cruzados em cima da mesa e deliberadamente pus “Oh
You Pretty Things” para tocar, me sentindo vingada.
Foi então que me veio uma ideia de como aproveitar o meu tempo
livre de forma mais produtiva – e de
repente, o meu mau-humor sumiu.
12 comentários:
aposto que a FM vai aproveitar o tempo dela fazendo oq nao fez na noite anterir haha
e eu achava que a mia ia visitar ela :(
posta mais mel? (a)
eu sabia que ela não ia.
ganhei deizão!
HAHAHAHAHHA, maneira mais produtiva, hummmmmm....
Pensamentos maliciosos...
Ara Mel, eu não vou para a Alemanha para brigar com vc, ok?
Vou deixar passa, só essa vez, hein?!... heheh
mais mais mais...posta maiiiiiissssss!!!!!!!!!
Eu queria mto que ela fosse buscar o presente dela, mas no fundo sabia que ela ñ ía. Tomara que pelo menos o da seja mais produtivo do que
à noite. Bjo Mel ;*
E a Mia não foi... =[
Ela não foi D:
FM safadchênha já tá pensando besteirinha, rs. Posta mais *-*
tu não vai manter esse silencio por mais muito tempo, né?
PELAMORDEDEUSPOSTAMAIS!!
:~~~~~~~~~~~~~~~~~~~MIMIMIMIMIMI
AAAH, que dorgas, axei que a Mia ia até lá..):
Mas tomara que a FM consiga aproveitar o dia da maneira que eu estou pensando (yn)
mano confesso..fikeei puuuuuta jah na primeira frasee #lixa
mas o fiim me deu esperança -q//
bgs pra queem eh travestii e Tuccão, cão mor!
õ/
Bom! Eu sabia que ela não iria. Ao menos ficou real, nem tudo é mar de rosas haha.
Olha, às vezes tenho uma leve impressão de que a FM vai perder esse emprego. Sei não...
Ain odeio suspense HAUHA 'dema' ja to roendo as unhas hauhauh
o que ela vai fazer? heim heim heim ???
#noellyhot venk
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