_Deixa eu ver – a Mia colocou o cigarro na boca, murmurando com o
filtro entre os lábios – Dá seu braço.
Eu ri alto. Estava deitada no tapete felpudo da sala “de TV” do
seu apartamento e a cena – a famosa cena – acabara de passar, incitando um
debate intenso sobre mordidas de vampiro serem realistas ou não. Sempre achei
que os filmes exageravam. Não pode ser tão fácil assim atravessar a pele
humana. Enquanto o filme seguia rolando, a Mia pôs uma perna de cada
lado do meu corpo e esticou a mão para frente, repetindo o pedido:
_Vai. Dá seu braço!
Eu balancei a cabeça, achando graça. E obediente, estendi o braço
na sua direção – ela sorriu. Num só movimento, tirou o cigarro dos lábios e
aproximou a boca do meu antebraço, fincando os dentes em mim. Com os olhos nos
meus. Céus, isso não vai prestar. Coloquei o outro braço atrás da
cabeça, me apoiando nele e a olhando de volta. Como se nos desafiássemos para
ver até onde eu aguentava. Os seus dentes foram me apertando, cada vez mais. E
mais. Desgraçada. Estava doendo pra caralho – mas eu fingia que não, só
de afronta. Então a Mia mordia com mais força. Puta que pariu, meus
dedos agarraram a sua coxa, num reflexo de dor. Não queria dar o braço a torcer,
mas... porra. Uma hora não deu mais.
_Para, para! – apertei os olhos, já não aguentando mais de dor, rindo – Para!
A Mia afrouxou a boca na mesma hora e escorregou os lábios na
minha pele – como quem assopra uma ferida. Então deitou de novo ao meu lado,
dando mais um trago no seu cigarro. Vitoriosa. “Você gostou disso, não é?”. Ela
acenou em resposta. Meus dedos deslizaram lentamente pela sua barriga, num
trechinho descoberto pelo moletom, entre a linha da sua meia-calça e a poucos
centímetros do umbigo. Meu antebraço ainda latejava de dor, mas eu não ligava.
Observava o caminho das pontas dos meus dedos na sua pele, deitada de lado,
acompanhando cada linha, suas estrias, suas curvas, o jeito como seu corpo se
dobrava com a posição.
O filme rodava na nossa frente já completamente esquecido por mim.
Toda vez que me aproximava do plástico que cobria a nova tatuagem, a Mia se
esticava preguiçosamente e murmurava qualquer coisa – “assim não, começa a
coçar”. E continuava assistindo, enquanto os meus dedos voltavam atrás,
refazendo desenhos no decorrer da sua pele. Estar ali com ela, daquele jeito,
parecia mais íntimo do que qualquer outra coisa que já tínhamos feito juntas.
Deslizei o indicador até uma pintinha discreta alguns centímetros
abaixo do seu umbigo. E senti a sua pele se arrepiar e contrair, me arrepiando
também. Subi os olhos para o televisor e demorei uns três ou quatro segundos
até entender o que se passava no filme, que eu já havia visto dezenas de vezes.
A minha sorte é que, apesar do erotismo cafona dos anos 80 em certas cenas, o
nosso gênero favorito também era em grande parte o menos sugestivo possível –
me servindo como um balde de água fria toda vez que eu chegava perto de cruzar
a linha daquela meia-calça dos bons modos.
_Olha essa cena... – comentei, empolgada, com a Mia – ...é muito
boa, meu!
_Mas o que ela tá fazendo aí?!
_Elas vão se beijar...
_Eu não entendo quem escreve esses roteiros, porra, numa hora ela é toda moralzona e no outro vai lá beijar a outra com a boca cheia de sangue? Não faz sentido!
_Faz, sim. Cê vai ver... Presta atenção!
Pude sentir a respiração da Mia suspender, a segurando, enquanto
seus olhos encaravam atentos o desenrolar da história que ela mais-ou-menos
acompanhou. Entre os risos e conversas comigo. Escorreguei o braço pelo seu
corpo, no mesmo trecho descoberto pelo moletom, e me aconcheguei abraçada a ela,
apoiando a cabeça no seu ombro para assistir o final.
Meus olhos, entretanto, seguiam mais na Mia do que na tela. E a
poucos minutos do desfecho, em meio aos gritos de desespero, à iminência de um dos
piores efeitos do filme todo, a Mia se virou para mim. Segurou o meu rosto com
a mão, como se não quisesse mais assistir, e a ponta do seu nariz encostou no
meu. Deitadas no tapete, bem perto uma da outra, os seus olhos pareciam se esconder
nos meus.
_Ficou com medo? – perguntei, baixinho.
Ela balançou a cabeça, “não”, e se moveu suavemente na minha
direção – até seus lábios encostarem nos meus e abrirem minha boca para um
beijo. Puxei-a para perto do meu corpo, mais ainda, a segurando firme
contra mim enquanto as suas mãos me apertavam o rosto. A beijei de volta, com
vontade, e nossos olhos não se abriram mais até o final dos créditos.
_Para, para! – apertei os olhos, já não aguentando mais de dor, rindo – Para!
_Mas o que ela tá fazendo aí?!
_Elas vão se beijar...
_Eu não entendo quem escreve esses roteiros, porra, numa hora ela é toda moralzona e no outro vai lá beijar a outra com a boca cheia de sangue? Não faz sentido!
_Faz, sim. Cê vai ver... Presta atenção!
27 comentários:
AEEEEEEEAEAEAEAEAEAEAEAEEEEEEEE
Mia com atitude e iniciativa, QUE LHENDA *.*
A Mia é tudo!
Pelo visto ela vai atrás do presente dela!
:D
Adorei. Por isso que adoro filminhos... É tiro e queda!
Cara.... Um dia as duas me matam...
o filme era atividade paranormal??
Ai meoooo Deoooos, posta, posta, posta, posta mais... hahahaha. Senti melhor sensação do mundo ao acordar e encontrar um post novo despois de 3 de crises de abstinência rs. Mel, parabéns pelo post, tá mto bom e como sempre vc arrasou, a FM tá fazendo o "jogo" direitinho, seduzindo sutilmente, dando corda e deixando a Mia cheia de vontade, até que enfim a Mia tomou uma atitude e seguiu seus instintos. Bjooo Mel, te adoro. ;*
finalmente o beijooooooooo <3
First nos comentarios?! :)
Mel, que TESAO de cena.
P-Q-P!!!
SEm palavras. Fiquei com a cabeça sabe onde....
Bjs
PS: amo seu texto. Flawless.
Não sei neim o que comentar. Sério! *---*
A cada dia que passa me vicio mais nessa FM. <3
ai. que bom pra elas. =~
Awnnn Mel, que linda(o)!
A minha sexta foi uma merda, mas o post ajudou a salvar meu sábado!!!
Muito lindo, amei amei amei, ^^
Adorei a Mia com atitude! Post liiindo!
Nossa, a Mia super arrasou e subiu no meu conceito, achei lindo *-*
Aaaaah final de filme perfeitoo \o/
A Mia ta toda apaixonadinha!! O máximo ela tomando atitude, adorei Mel! Mais, mais mais!
Aii to suspirando ate agora..rs muuito bom Mel..
:D
:D
:D
cara...demaisssssss
tdb q fuii o ULTIMO ser viventee a ler este post...
tah mto fodaaa///
Filme eeh sempre a melhor desculpaa...e tenho dito! `666
ps: JAIMEEEEE...kero mais
BGSS
MUITO BOOOM ;) pirei nesse post ! e alias, ALGUEM quer assistir um filmin comigo? hahaha ;*
Velho na Maioria das vezes nao posto mais agora tinha que fazer isso a cena foi perfeita e o Final velho!Sem comentarios!Parabens Mel Poster Perfeito!
ass = Gabriela
Mia com atitude. Indo atrás do que ela quer! Isso mesmo Mia!
Filminhos são perfeitinhos (quase) sempre.
Delicinha total *------------*
Adorei ^^)
pensando bem... eu já fui enganada com essa desculpa de "vamos assistir um filme lá em casa". Isso dá certo =x
1º vez aki no blog e Adoreiiiiiiiiiiiiiiiiiiii!!
Passei o FDS inteiro lendo..afinal eu tinha que entender neh??!rsrs.
P.S.: Vc escreve muiitooo bem!!
P.S²: Vicieiiiiiiiiiiiiii!!
ps: the thrill of it (all)
a letra de Walking on a dream do Empire of the sun...
Noelly...vambora pro Planeta Terra ver os caras tocarem em novembro?! ;)
atualize gay! hahaaa
Ameiiiiiiiiiiiiiiiiii, cara eu quero viver algo assim, tdo q ah. Mel vc arrasa guria.
Na espera do próximo ansiosamente!!!
Ed - João Pessoa
(flavinha_ems@hotmail.com)
Ouvi e curti. Do final:
"Então venha, você sabe que você é importante pra mim
Relembrar a liberdade não é difícil
É hora de parar com todos os seus fingimentos
Você não acha que conheço a minha própria mente? "
gamei.
esse post é mara!
me lembra o "second first kisses" do obc
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