_VOCÊ SABE MUITO BEM! – a Mia reclamou alto na minha direção,
competindo com a música.
_Ah, sei?! – ri.
_Você, meu... – passou as mãos no rosto, nervosa comigo – ...VOCÊ
É INACREDITÁVEL!!
_Mano... CÊ TÁ LOUCA, PORRA?! – me incomodei com a sua atitude – DO
QUE DIABOS CÊ TÁ FALANDO?!?
Aí ela me encarou, séria, como
se fosse óbvio. Ah, não me vem com essa.
_DIZ! DIZ, MIA! – a provoquei, brigando com ela no meio da multidão
– DIZ O QUE CÊ QUER DIZER! FALA QUAL É O PROBLEMA!
_O MEU PROBLEMA É VOCÊ!
_Olha, Mia, até onde eu sei essa noite é minha, cara... – balancei
a cabeça, sem paciência – ...e eu posso fazer o que eu quiser.
_FODA-SE SE A NOITE É SUA! FODA-SE! O problema... – ela se
aproximou do meu ouvido, argumentando bêbada, me pegando de novo pelo braço –
...é que cê tá fazendo de propósito... – me segurou com força e aquilo começou a
me incomodar – ...e VOCÊ SABE!
_TÔ FAZENDO DE PROPÓSITO, MEU?! – questionei de volta no seu
ouvido, já puta da cara, aí afastei o rosto e a encarei, indignada – ESCUTA, MEU
MUNDO NÃO GIRA MAIS EM TORNO DE VOCÊ, SABIA GAROTA?!?
Por um
segundo. Por um segundo, vi os seus olhos se perderem na minha resposta.
Me encarando de volta, quieta e mordida. Pareceu se ofender.
_E QUEM DISSE QUE É ISSO QUE EU QUERO?! – gritou de volta.
“Quem
disse...”, comecei a rir, nervosa, sem engolir mais uma só mentira que saía da
sua boca. Não depois de assistir os seus olhos me seguirem, desconfortáveis, por
toda aquela porra daquela balada, cada maldito segundo, cada droga de boca que
eu beijava, cada garota que eu segurava, a merda da noite inteira. Agora vinha
com esse discursinho idiota para cima de mim. “Quem disse”. Não podia acreditar na cara de pau dela de vir tirar
satisfação comigo, assim, aquilo me enchia de uma raiva tremenda, perigosamente
combinada com doses e mais doses de tequila. Inferno de garota.
_Não quer, né? – a encarei, irônica – Tá bom, então.
_Olha, você não sabe nada da minha vida! – rebateu, fechando a
cara.
_É E VOCÊ OBVIAMENTE NÃO ENTENDEU PORRA NENHUMA DA MINHA TAMBÉM! –
pistolei – NÃO PARA VIR AQUI E SE ACHAR NO DIREITO DE FALAR A MERDA QUE QUISER
PRA MIM!
_VAI TOMAR NO CU!
Gritou mais uma vez, antes de dar as costas para mim e se enfiar na
multidão. Perdi de vez a paciência. Vai
se foder, mano, vai se foder – desviei de um grupo de meninas que
dançava à minha direita, seguindo em direção ao bar, mais irritada do que
ficara em muito tempo. Aí trombei com o Fer, a menos de três metros de onde
estávamos. Desavisado, ele vinha com duas bebidas nas mãos e me olhou como se
ainda tentasse entender por que diabos tínhamos acabado de discutir e agora
saíamos cada uma para um lado.
_O QUE ACABOU DE ACONTECER ALI?!
_NADA! – resmunguei, rancorosa, esbarrando nele para passar.
Ficou parado ali, com os copos em mãos, me observando ir para o
outro lado. Não te devo satisfação, porra. Trombei com mais pessoas do
que gostaria no caminho até o bar, deixando atrás de mim um rastro de má
educação. Meses, cara... Meses! E a porra
da Mia ainda me faz perder a cabeça, me
indignei comigo mesma. Não conseguia me conformar com como seguia me deixando
afetar por ela, tomada por uma raiva desmedida. Primeiro me dá um fora e agora vem com essa merda? Tá com ciúme?? Tomar
no cu, caralho! Vê-la virar as costas para mim, se achando a certa na droga
da história, fez subir todo o sangue que eu sequer sabia que tinha à cabeça. Folgada.
Não podia acreditar na pachorra da Mia de vir me cobrar qualquer
diabo que fosse. Ah, você perdeu esse
direito, garota, resmungava dentro de mim, fervendo de ódio, conforme pedia
a quinta ou sexta dose da noite. Virei numa tacada só. Então fiquei de costas
contra o balcão, apoiando os antebraços na madeira atrás de mim. Aí respirei
fundo, fechando os olhos, tentando recuperar certa calma. Um, dois, três,
quatro... dez. E olhei para a pista movimentada, de novo.
Agora eu vou
fazer de propósito, sua desgraçada.