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maio 09, 2011

Intervenção

_Você tá com uma cara péssima.
_Ah, Marina, na boa, não enche.
_Alguém precisa te dizer isso... – foi entrando no meu quarto, sem que eu a convidasse – ...e cê tava dormindo até agora?!
 
É, né. Estava.

_O que cê tá fazendo aqui, meu?! – resmunguei, enfiando a cara no travesseiro, enquanto ela abria a porra da janela.
_Eu vim ver se consigo te salvar de você mesma...
_Deixa de ser ridícula, mano. Nada a ver.
_Eu?! – ela me observou, irônica, e eu revirei os olhos – Olha, cê me desculpa, mas a ridícula nesse quarto é outra...
_Eu não preciso ser “salva”, Marina.
_Não?! E quando foi a última vez que você saiu?
_Ontem e já me arrependi – levantei da cama, a contragosto, com o cabelo terrivelmente amassado – Quem te deixou entrar, afinal? O Fer?!
 
A Marina não respondeu, com metade do corpo já dentro do meu armário, vasculhando a pilha bagunçada de roupas que se acumulava sobre as gavetas. Fiquei parada em pé, amolada, numa camiseta desbotada dos Strokes e com a mesma cueca que estava usando no meu encontro fracassado da noite anterior, sem vontade alguma de socializar com a porra da minha ex naquele momento.
 
Inferno. Eu odiava as “intervenções” da Marina – na época em que a gente namorava, ela costumava invadir a minha casa contra a minha vontade, no meio da tarde, e “salvar” o nosso relacionamento das nossas muitas brigas. Era sempre assim e, uma hora ou outra, eu cedia. Naquele fim de tarde infeliz, todavia, eu não estava com saco para aquilo.

_Tem alguma coisa aqui que esteja passada?! – disse, falando sozinha, enquanto mexia no bolo de tecido.
_Sei lá – murmurei – Preciso mijar...

Larguei ela ali e arrastei os pés até o banheiro. Sentei na privada, sem me dar ao trabalho de fechar a porta, e fechei os olhos enquanto fazia xixi. Exausta. Minha cabeça doía, meu corpo todo doía depois de me apertar no banco de trás de um Gol velho com a Isa por meia hora e aí andar quatro quilômetros até em casa, bêbada. Argh. Dei descarga e encarei os tons arroxeados, cansados, que se camuflavam sob a minha pele ao redor dos meus olhos. Frente ao espelho do banheiro, destruída. A Marinha tinha razão – eu tô com uma cara péssima mesmo, puta merda.
 
_Marina, nem pensar.
_Só veste logo!
_Meu, eu não... – me joguei na cama, por cima das roupas que ela tinha separado e deixado ali – ...n-não vou pra lugar nenhum, caralho.
_Ah... você vai, sim! – ela me puxou pela mão – Vem! A gente pode só jantar rapidinho...
_Má, por favor... – choraminguei, passando as mãos no rosto.
_Você não tem escolha – continuou, começando a me irritar.
_Marina, é sério, eu não quero.
_Não tô perguntando.
_Má... – sentei na cama e a encarei nos olhos para resolver aquilo de vez – ...pára. Me deixa em paz!
_E qual é a alternativa, hein?! – ela me enfrentou de volta, levantando a voz – Me diz! Vai ficar aqui sentindo pena de você mesma?!
_Ninguém tá sentindo pena de ninguém! – cortei ela, indignada, aumentando ainda mais o tom da discussão – Eu tô pedindo ajuda por um acaso?! Hein?! Te disse alguma coisa esses dias? Fui chorar no seu ouvido?? Fui?!? – levantei da cama, irritada – Não, não fui!! Não fui, Marina! Então não enche, porra!!
 
Desgraça. Eu não aguentava mais brigar com todo mundo ao meu redor. Puta que pariu.

_E PRECISA?! – a Marina reclamou, insistente – FAZ DUAS SEMANAS QUE A ÚNICA COISA QUE EU ESCUTO É “AH, NÃO TÔ AFIM...”, “AH, SEI LÁ, FUI NO ESTÚDIO”, “AH, DEIXA PRA LÁ, JÁ JANTEI”!!
_E CÊ QUER QUE EU FALE O QUÊ, PORRA?!?
_QUALQUER COISA! ME LIGA, CARAMBA! CONVERSA! FALA COMO VOCÊ TÁ! ME DIZ O QUE TÁ ACONTECENDO! DAQUI A POUCO VAI FAZER UM MÊS E VOCÊ CONTINUA AÍ, NA MERDA!
_PROBLEMA MEU, MANO! O QUE VOCÊ TEM A VER COM ISSO??
_Linda, não faz assim – baixou o tom, tentando mudar o rumo daquela discussão – Por favor. Eu tô preocupada com você.
_Eu tô bem, Marina... – balancei a cabeça, respirando fundo – ...eu só preciso de um tempo.
_Meu amor, as coisas não vão se resolver se você...
_Já disse que tô bem, porra – a interrompi.
_Flor, pelo amor de deus, cê sabe que não é verdade – insistiu, segurando na minha mão – Você acha que isso é vida?! Ficar assim por causa de uma garota que...
_Eu tô bem! Eu... estou... bem! – a cortei de novo e soltei a minha mão da dela, irritada – Quer que eu repita? Não tem nada rolando, caralho!! Eu tô bem!
_Mas você não tá! Você sabe que não tá!!
_E VOCÊ QUER QUE EU DIGA O QUÊ, CACETE?!? – gritei com ela, do nada – HEIN?!? O QUE VOCÊ FARIA NO MEU LUGAR, PORRA?! SE FALASSE PRA UMA MINA QUE AMA ELA E... E A GAROTA SIMPLESMENTE SUMISSE DA SUA VIDA?? NÃO TE RESPONDESSE?? SE VOCÊ FICASSE SE HUMILHANDO, PORRA?! MANDANDO MENSAGEM? LIGANDO?! QUE NEM UMA LOUCA?? SENDO IGNORADA?! VOCÊ QUERIA QUE EU DISSESSE O QUÊ?!? QUE EU NÃO TÔ BEM, CARALHO?! QUE EU TÔ MAL? QUE EU TÔ SOFRENDO?! QUE EU NÃO CONSIGO PARAR DE PENSAR NELA?? – fui aumentando a voz, cada vez mais – É LÓGICO QUE EU NÃO TÔ BEM, CARALHO!! PRECISA VIR AQUI E ME ENCHER SACO?!? EU NÃO QUERO SAIR! EU NÃO TÔ AFIM! ME DEIXA, PORRA!!
_É ISSO! É ISSO QUE EU QUERO OUVIR!! SÓ ISSO, MEU, A VERDADE!!
_BOM, A VERDADE NÃO ME FAZ SENTIR MELHOR!!
 
Dei dois passos e bati a porta, nos fechando ali antes que o Fer escutasse a discussão, me sentindo realmente um lixo. Caralho.

_Mas, linda, pelo menos você está falando. Isso já ajuda, voc...
_E QUE DIFERENÇA FAZ?!? – me irritei mais ainda, perdendo o controle – EU CONTINUO AQUI, PORRA, ENFIADA NESSA MERDA DESSE APARTAMENTO! SEM ELA!! NÃO FAZ NEM UM MÊS QUE A GENTE TAVA AÍ SE VENDO, CACETE, ELA TAVA ME PROCURANDO, FINALMENTE, DEPOIS DE TANTO TEMPO! A GENTE TAVA BEM! E DE REPENTE, EU CAGO TUDO E ELA VAI EMBORA, FICA ATRÁS DO FERNANDO O DIA TODO, LIGA QUINZE VEZES POR DIA E ELE SÓ BRIGA COM ELA E NINGUÉM MAIS SE FALA NESSA PORRA DESSE APARTAMENTO, MINHA RELAÇÃO COM O MEU MELHOR AMIGO TÁ UM LIXO... E EU... EU... – comecei a me sentir sufocada com aquilo – ...EU SINTO FALTA DELA... EU SINTO TANTA, TANTA FALTA DELA! PUTA, MANO! QUE INFERNO!!

Enxuguei o rosto de qualquer jeito, com as costas das mãos, aí andei até a porcaria da janela e a abri. Eu não aguento mais. Não aguento mais. Tirei o maço do bolso, ainda com raiva, coloquei a droga do cigarro na boca e acendi. Primeira tragada e a Marina continuava lá, parada, me observando com aquele olhar de pena insuportável.
 
Maldição.

11 comentários:

Anônimo disse...

To muito bichinha, chorando em todos os posts.

Unknown disse...

To no mesmo estado que a FM D: Meu post mt foda *--------------*

Gabizão disse...

Oun F.M. vem cá, me dá um abraço...

'duuda disse...

quase chorei com a FM. sério, tadinha :~~~~

Anônimo disse...

awwwn que dóooo meo, coitadinha na real. tá ÓTIMO cada vez melhor ♥

Ma disse...

Aawwwn meu deus! :~~~~~~
'que dó, que dó, que dó, que dó!' haha :{ Sofri! Socorro!
Ai, gente. Todos no mundo mereciam ter uma Marina! Eu quero! :') hahaha

Que linda, postando mesmo na correria!
Obrigada! Obrigada! *-*

Beijo! ;*

Aléxia Carneiro disse...

anw gente que dó dela!

Unknown disse...

Ahhhhhhhhhhhhhhhhhhhh
Meeeeeeeel suaa linda, a demora vale a penaa!
Mto boom

Ianca' disse...

tava chorando e vim ler, tô chorando mais ainda. MULHERES SÃO PERVERSAS, LEVAM NOSSO CORAÇÃO u.u

Anônimo disse...

Eu quero uma Marina *-*

Anônimo disse...

"MULHERES SÃO PERVERSAS, LEVAM NOSSO CORAÇÃO"
CONCORDO!
Enfim, mais um post genial, Mel <3