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junho 25, 2011

Nothing is real and nothing lasts

...
 
...abri os olhos, sentindo um chuvisco respingar gelado na minha cara, amassada contra o jeans do Fer. Caralho, o que aconteceu? Suas pernas estavam largadas num chão imundo e eu senti minha cabeça densa, apoiada no seu colo. Morrendo de frio. Como se todo sangue tivesse sido drenado das minhas veias, deitada naquela calçada suja da rua paralela da Trackers, com o braço contra um concreto que provavelmente já tinha sido mijado incontáveis vezes. Argh. Senti a repulsa correr sob minha pele, num impulso de me levantar dali, mas não conseguia mover um músculo sem toda aquela tequila e sei-lá-mais-o-quê se revirar dentro de mim. Prestes a sair pela minha garganta, de novo.
 
De novo?
 
É. Não fazia ideia. Era como se uma parte da noite tivesse sido apagada da minha memória – inferno, eu não lembrava de porra nenhuma. Meu corpo doía por dentro e minha boca estava amarrada, com gosto de vômito. Eca. Ainda me sentia embriagada, chapada, completamente fora de mim. Apoiei a mão na perna do meu amigo, me erguendo com muito esforço até encostar sentada contra a parede pichada. O Fer me observou, com um olhar preocupado, se esforçando para se manter minimamente sóbrio consciente. Deve ter me arrastado até aqui para, não sei, pensei, com certa dificuldade, para eu vomitar? Sei lá.
 
Ele estava igualmente alcoolizado – provavelmente tinha vomitado junto. Colocou o braço ao redor dos meus ombros e eu apoiei a cabeça nele, sentindo um vento gelado soprar a garoa pra cima de nós. O breu da madrugada já começava a clarear aos poucos, no trechinho de céu que dava para ver entre os prédios antigos da República. Ficamos sentados ali, num estado quase contemplativo, ainda bastante bêbados. Metidos nas nossas próprias viagens. Me passavam pensamentos aleatórios pela cabeça, dispersos, se confundindo com as luzes que dançavam refletidas no prédio em frente à Trackers, deslizando pelos meus olhos em meio aos graffitis.

_V-você... – respirei fundo e perguntei, sem pensar – ...você sente falta dela?
_Hum?!
_...sente?
_De quem?
_Da Mia... – murmurei, confessando o seu nome em meus pensamentos – ... cê... num pensa nela?

O Fer se virou para mim, largando a cabeça contra a parede, e me encarou por um instante, como se não entendesse por que diabos eu estava falando daquilo naquele momento. Tinha os olhos exaustos.

_Não.

Fiquei encarando ele, ali acima de mim, ainda com o rosto apoiado em seu ombro. Então a expressão nos seus olhos mudou e ele suspirou, cansado, com as pálpebras pesadas.

_Sei lá, a, a real é que... – falou baixo, arrastado – ...q-que sim, sinto. Pra caralho.
_Hum.

Voltei o olhar para os pôsteres colados na parede à frente. Lambes de festas. Cartazes rasgados de lojas de ouro. Adesivos desbotados. E pixos. Não quis falar nada. Para não confessar que eu, talvez, no fundo de toda aquela bagunça dentro de mim, também sentia. Senti o meu interior vazio. Num lapso indesejado de consciência, bêbada demais para lidar com aquilo. Podia ouvir o Fer respirar ao meu lado, com o seu braço ao redor de mim, repentinamente pensativo. Ambos quietos.
 
É... então é assim.

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