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setembro 01, 2012

AM

_Bi... – eu ri, enchendo o seu rosto de beijo – ...acorda!
 
Já tinha me levantado há quase 40 minutos, tomado banho, feito café e a Clara continuava desmaiada entre os lençóis. Balancei os cabelos molhados, os bagunçando com a mão, para que respingasse na sua cara. Nada. Uma careta aqui, outra ali, e ela se afundou ainda mais no travesseiro, sonolenta. “A gente vai se atrasar”, cochichei então, subindo em cima dela. Mas nada feito.
 
Na noite anterior, acabamos fumando um baseado e nos enroscando no sofá, assistindo um filme qualquer na TV enquanto a sua gata passava inconvenientemente em frente à tela. Afundei-me nos seus braços e nos ajeitamos deitadas, levemente tortas, naquele pequeno espaço. Até que começamos a nos cutucar por baixo das nossas camisetas de dormir, como duas bobas, e a brincadeira virou uns amassos meio adolescentes – que logo se transformavam num passatempo um pouco mais adulto. Dessa vez com sucesso. E o que começou no sofá da sala, uma hora passou para o quarto. Lá pelas tantas da madrugada.
 
Agora eu lutava para tirar a Clara da cama. Quando finalmente consegui, não deu tempo nem de comer qualquer coisa – saímos correndo, atrasadas e rindo, derrubando o café pelo corredor do prédio e tropeçando nos nossos próprios passos para descer as escadas. Corri até a estação Sumaré e peguei o metrô lotado para a Brigadeiro. Assim que desci na Paulista, chequei um relógio eletrônico de rua e o visor já marcava 09:11. Ops, ligeiramente atrasada

Acendi um cigarro, apressada, e peguei o meu celular para enviar uma mensagem ao tal do Du, conforme descia a rua.“Oi, o gui me passou seu numero. Ce quer ir hj ver o apto? Pode ser umas 18?”, digitei. E ainda estava descendo na calçada da Brigadeiro quando ele me respondeu – “preciso ta na rodoviária as 5, passo o Natal c/ minha família no interior :/”, lamentou. Aquele era o último dia antes do recesso na produtora e eu tinha uma gravação para acompanhar até às 13 na Liberdade. “Pode ser dps do almoço? 14?”, perguntei a muito contragosto, já calculando o corre que ia ser sair do set para ir até em casa. “Sim, com ctz!”, piscou na minha tela, uns segundos depois.
 
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Passei o endereço e fiz como se fosse guardar o telefone de volta no bolso, mas, por algum motivo, mudei de ideia a poucos passos da entrada da produtora. E numa idiotice impulsiva, abri mais uma vez a caixa de mensagem. Vejam bem. Não foi planejado, foi... n-não sei o que foi. Foi um “pensei em vc do nd ontem, meu, na hr mais nd a ver... rs”, escrito meio sem pensar para a Mia, conforme dava um último trago no cigarro. Apertei o “enviar” antes que pudesse me dar conta do que estava fazendo. E na mesma hora, senti um revirar leve no estômago.
 
Não queria passar a impressão errada, nem desencadear nada. Mas, não sei, me senti tomada por uma vontade boba de lhe mandar algo. De falar com ela. Pra quê?, me incomodei comigo mesma.

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