Estava entre a diretora de arte da produtora e uma das atrizes no
set, quando senti o celular vibrar no meu bolso. Tirei-o discretamente da calça
e espiei a resposta da Mia – “e oq era?
:3”. Digitei em poucas palavras – “dps
t conto”. Tornei a focar os meus olhos na prancheta cheia de rabiscos e
naquele caos organizado do cliente, sem dar bandeira. A manhã parecia durar
para sempre.
Céus. Não
é possível que achem isso ‘cool’, julguei silenciosamente, observando com certo desgosto as
escolhas trágicas da equipe de figurino. Umas roupas pretensiosas que contrastavam
escandalosamente com a calçada suja e aquele charme urbano de São Paulo. Mas
quem era eu pra falar, né, metida numa bermuda e com a mesma camiseta desbotada
de quatro dias antes.
Esperei as coisas acalmarem um pouco e dei uma escapada para
fumar. Fiquei fofocando com uma das assistentes, entre uma tragada e outra, do
lado de fora. Ela ria dos meus comentários sobre o figurino. A gravação, claro,
estava atrasada. Aí olhei no meu relógio e faltavam menos de vinte minutos para
as 14h – merda, merda. Joguei a
bituca no chão, com pressa, apagando a brasa com a ponta do meu All Star
encardido. Corri até a tenda onde estava o restante da equipe e avisei que ia
tirar o meu horário de almoço, largando a prancheta com um estagiário.
Subi então para o metrô, descendo na Consolação e cruzando a pé
para a Frei Caneca, de olho no horário. 14:07.
A menos de um quarteirão do nosso prédio, vi um cara de cabelo loiro escuro
parado em frente ao portão. Vestia uma calça saruel preta e tinha uns óculos
escuros Clubmaster da Ray-Ban. A regata branca com o corte fundo na lateral o denunciava
como amigo do Guilherme. 100% viado.
_E aí, beleza? – me aproximei, o cumprimentando – Você que é o Du?
Ele sorriu e se apresentou, pegando a mochila que estava no chão;
tinha umas tatuagens esquisitas no braço – dessas propositalmente toscas e
aleatórias, descoladas. Não sei bem explicar. Fomos juntos até o
elevador do prédio. E apertei para o nosso andar. Aí enrolei as mangas da
camiseta sobre o ombro, cansada da descida em ritmo apressado até a Frei. Me
sentia confortável ali com ele, o que era bom sinal. Agora que o via mais de
perto, todavia, não me parecia ser mesmo gay. Ou será que é?, me ocupei com o meu radar por um instante,
distraída.
Andamos até a porta do apartamento e eu entrei, largando minhas
chaves na mesa e chamando o Fer para checar se estava em casa – mas ele não
respondeu. O apê estava vazio. Fui na frente, mostrando o espaço e puxando assunto,
sondando mais sobre o Du. Ele era ator de teatro, assim como o Gui, só que de uma
outra companhia que eu nunca tinha ouvido falar. Trabalhava dando aula e fazia mestrado,
tinha 26 anos. A princípio parecia meio quietão, na sua, não abriu muito a boca,
mas algo me dizia que era debochado.
_E cê tá querendo sair lá de onde cê mora?
_É. Moro com uma família no Santa Cecília, tenho um quarto alugado – o Du olhava os cômodos conforme a gente ia andando – Mas é ruim lá, meu, não tenho privacidade e ficam cagando regra. Não funciona.
_Não te deixam levar gente pra dormir ou o quê?
_Ah, entre outras coisas... – riu – ...mas, assim, já fodi meio vale ali escondido enquanto eles tavam ouvindo louvor no andar de baixo.
E aí estava, o deboche.
Achei graça. Senti que a gente podia se dar bem. Chegamos enfim ao
quarto que ele ocuparia caso resolvesse se mudar pra lá e eu afastei a bagunça
do Fernando com os pés para que pudéssemos entrar direito. Expliquei que aquele
era ligeiramente maior que o meu, então o aluguel não seria dividido exatamente
na metade. E que a maioria dos móveis ali iam sair – tudo o que o Fer não fosse
levar, ele ia tentar vender, então não ia sobrar muita coisa. Nem mesmo a cama.
_Hum. E o seu amigo tem planos de voltar quando?
_Então, daqui uns meses, acho. Assim que ele arranjar um trampo e juntar uma grana, se estabilizar, aí ele vem de novo. Mas dá pra ir conversando... – cocei a nuca, já voltando pra sala – Quanto tempo cê acha que ia precisar aí?!
_Ah, meu... uns sete, oito meses. Tô tentando uma bolsa na gringa, a ideia é fazer uma parte do meu mestrado fora, mas isso deve rolar só lá pra julho, agosto... O que der pra eu ficar aí antes já ia ser perfeito. O apê de vocês é do caralho, meu... do lado da Augusta, porra! Animal.
Sorri e encostei contra o apoio do sofá, ainda meio em pé, cruzando
os braços. Ele me parecia mesmo o tipo de cara que frequentava a Society – que,
além de tudo, não era 500 metros dali do prédio –, senti que se mudaria
imediatamente para o quarto do Fer se pudesse. Estava visivelmente animado. Achei
que eu tinha que falar mais alguma coisa, não sei, mas a verdade é que
eu não sabia muito bem como diabos entrevistar alguém para dividir um apartamento.
Só tinha morado com o Fer desde que saí da casa dos meus pais.
_E... c-cê tem alguma pergunta? – o olhei, sem muitas ideias de
como prosseguir.
_Não. Ou melhor... – o Du riu – ...só por precaução, quais as regras?
_Olha, não muitas – ri também – A gente divide as contas e dá uma faxinada a cada semana, quinze dias, sei lá. Eu passo a maior parte do tempo fora, então nem vou ficar muito aí. Quando venho geralmente tô trancada no quarto... E de resto é bem de boa. Traz quem cê quiser, faz o que quiser, tô pouco me fodendo. Só não comer ninguém na cozinha enquanto tô almoçando e não largar prato sujo por três dias na pia que tá tranquilo.
_Pode crer. E assim, é “legalizado”?
O encarei como quem diz “meu bem, olha pra minha cara de
maconheira, né”.
Já gostei
de você.
_É. Moro com uma família no Santa Cecília, tenho um quarto alugado – o Du olhava os cômodos conforme a gente ia andando – Mas é ruim lá, meu, não tenho privacidade e ficam cagando regra. Não funciona.
_Não te deixam levar gente pra dormir ou o quê?
_Ah, entre outras coisas... – riu – ...mas, assim, já fodi meio vale ali escondido enquanto eles tavam ouvindo louvor no andar de baixo.
_Então, daqui uns meses, acho. Assim que ele arranjar um trampo e juntar uma grana, se estabilizar, aí ele vem de novo. Mas dá pra ir conversando... – cocei a nuca, já voltando pra sala – Quanto tempo cê acha que ia precisar aí?!
_Ah, meu... uns sete, oito meses. Tô tentando uma bolsa na gringa, a ideia é fazer uma parte do meu mestrado fora, mas isso deve rolar só lá pra julho, agosto... O que der pra eu ficar aí antes já ia ser perfeito. O apê de vocês é do caralho, meu... do lado da Augusta, porra! Animal.
_Não. Ou melhor... – o Du riu – ...só por precaução, quais as regras?
_Olha, não muitas – ri também – A gente divide as contas e dá uma faxinada a cada semana, quinze dias, sei lá. Eu passo a maior parte do tempo fora, então nem vou ficar muito aí. Quando venho geralmente tô trancada no quarto... E de resto é bem de boa. Traz quem cê quiser, faz o que quiser, tô pouco me fodendo. Só não comer ninguém na cozinha enquanto tô almoçando e não largar prato sujo por três dias na pia que tá tranquilo.
_Pode crer. E assim, é “legalizado”?
14 comentários:
Pow, morar com a FM deve ser tão de boa... Eu seria mó chata hahaha
Agora tá batendo umas tristezinha, não queria que o Fer fosse embora de fato, mas imagina a Mia no apê sem o Fer presente? Seria totalmente exclusivo e intenso (viajei)
Curti esse Du. Será que é gay? HAHAHAH
E poax, a Mia só respondeu no outro dia de manhã??? Sacanagem hein...
Só o que falta é o cara ser hetéro mesmo e levar uma namorada super linda pro apê e toda a história recomeçar rsrsrs Ahh meu ela já curtiu o cara mano, não acredito, sinto o Fer sendo largado rsrsrs (como isso fosse acontecer) Muito bom Mel, tá ótimo, vê se não demora com o próximo hein? :)
algo me diz q o fernando nao volta. hahaha
Nada da Estória se repetir com o Du hein.. HAHAHAHAHHA
adorei ele =D hahaha
Nossa, agora eu viajei em inúmeros desdobramentos dessa possível heterossexualidade... (66
"Ja gostei de voce" awn, gostei desse moço tambem hahaha
Ele não é gay. e eu acho que seria foda se ela ficasse com a mina dele kkk.
Tô com dó do Fer! :(
"Ele não é gay. e eu acho que seria foda se ela ficasse com a mina dele kkk."
Turn the hard right, nobody deserves!!!
Gostei dele e estou curiosa com a sexualidade.
o Du não faz ideia do quanto é difícil entrar num lugar e gostar dele logo de cara. sortudo dos infernos, hunf. hahahahaha! desabafos a parte, é meio estranho ler FM com você longe, Mel. quando volta mesmo? quero mais posts, quero prévias, quero discutir as personagens e quero sua companhia, poxa!
;*
Que delicia de post!!
Definitivamente Melzita vc é uma bruxa!! Acabei de vivencia a mesma experiencia com uma amiga num prédio na Frei Caneca essa semana...
Delicioso Post!!
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