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janeiro 01, 2013

Trégua

_Volta pra cama... – pedi, amassando o rosto na cintura da Clara – ...vem.
_Tenho que sair em quinze minutos, Bo... – ela riu e afundou as mãos no meu cabelo, num carinho distraído.
_Mas cê já foi sábado passado, meu. Ninguém pode ir pro cê hoje, não?

Ela sorriu, balançando a cabeça. A luminosidade no quarto machucava os meus olhos, numa ressaca desgraçada. Desci a boca, aos pouquinhos, pela sua pele macia. Touch me, yeah. Até meus lábios esbarrarem na linha da sua calcinha, retorcida na lateral do seu corpo. Make me feel like I am breathing, feel like I am human. O seu quadril, as suas coxas. Estiquei o meu corpo na beirada do colchão, beijando suas pernas descobertas, logo atrás do joelho, enquanto ela se olhava no espelho – em pé ao lado da cama, arrumando o cabelo.
 
Meu amor por aquela garota matava um pedacinho de mim. A parte que amava a Mia, é. Me desviava de quem eu era. Quem era mesmo? Mas quando estava com a Clara, nada disso me importava; só ela. Caminhou até seu armário, saindo do alcance das minhas mãos – que agora pendiam no ar, abandonadas. Afundei no cheiro dela no travesseiro, a escutando se mover pelo cômodo enquanto se preparava para sair.
 
E apesar dos meus esforços minutos depois, segurando a Luna no ar e fingindo que falava, convencendo sua dona a faltar no trabalho, a Clara não ficou. E aí eu também tive que ir, não é mesmo? O problema é que eu não tinha um puto na carteira e só me lembrei disso quando cheguei na porta do metrô, contando moedinha na frente da cobradora como se os vinte centavos que faltavam para a passagem fossem aparecer milagrosamente no balcão. Inferno.
 
Subi as escadas de novo e resolvi encarar a caminhada de meia hora até a Augusta – uma tarefa ingrata sob aquele sol, de ressaca. Argh. Cada passo era um arrependimento pelos erros da noite anterior. Mas assim que cheguei no meu quarteirão, depois de andar mais de três quilômetros, avistei um rosto conhecido do outro lado da rua. E abri um sorriso na mesma hora.
 
Sentado em frente ao prédio, fumando um cigarro, estava o traste do Fer.

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