De alguma forma, quando o ponteiro menor chegou à nona casa do
relógio, eu me encontrava a caminho do apartamento no banco da frente de um
carro. Um corsa preto e detonado, que há meses eu não via. Fumando com o vidro
aberto e congelando a motorista, conforme atravessávamos a Av. Pompéia em
direção a Jardins. Ouvíamos Stooges no último volume e xingávamos uma à outra
por conta da porra da janela.
Eu gostava quando as minhas amigas decidiam parar de namorar e
voltavam repentinamente à vida social, dispostas a sair todos os dias e todas
as noites da semana, sabe como é. E a
Lê tinha acabado de terminar com a namorada mais pé-no-saco de todos os tempos,
a mesma lesma morta com quem ela havia se encasulado por longos oito meses – para
o meu desgosto. Ou seja, a Lê era a companhia perfeita para aquela noite.
Chegamos na Frei Caneca tão logo o trânsito nos permitiu – argh, São Paulo – e estacionamos muito
mal estacionado em uma vaga estreitíssima a duas quadras do meu apartamento. As
quatro Itaipavas divididas no barzinho perto da casa dela, enquanto eu me
atualizava prolongadamente sobre o seu término com a garota, já haviam batido
no meu estômago vazio e subido consideravelmente à minha cabeça. Contudo, o
vento gelado rua acima tratou logo de me deixar sóbria de novo.
Entramos no apê, com as luzes já acesas, e ela fez qualquer
comentário maldoso sobre a sala – que, de fato, estava uma zona. Larguei ela lá
para tomar um banho rápido e trocar a roupa sem graça do trabalho. Passei pela
porta aberta da cozinha e vi o Fer só de bermuda, fritando qualquer coisa no
fogão, de costas viradas para o corredor. Puta
frio e o outro aí, quase sem roupa, não dá para entender. Pedi não muito
educadamente para que ele arrumasse a bagunça que havia deixado em cima do sofá
para minha visita ter onde se sentar.
Quarenta minutos de água-toalha-armário-secador-jaqueta-e-tênis
depois e eu estava pronta para acompanhar a Letícia até o Inferno se fosse
preciso. Mas, digo, figurativamente falando, e não a balada a poucas quadras
dali. Minha mais recente obsessão era um novo par de Nikes vermelhos, que eu
usava para cima e para baixo, combinando com uma camiseta velha do Misfits, uma flanela vermelha
amarrada na cintura e um skinny jeans rasgado. Saí para a sala me achando a
mais sapatão das galáxias.
A Lê não ficava muito atrás – com aquele cabelo K.D. Lang partido
ao meio, butch, filha de japoneses e coberta de tatuagens. Era baixinha e
tinha o rosto bem redondo, os pulsos e as panturrilhas largas. Estava me esperando
em pé, lendo uma Rolling Stones que larguei jogada em cima da mesa. E só então,
já sem o seu respectivo casaco, que reparei numa manga fechada ao redor do seu
braço.
_Que foda, cara... – disse, impressionada, pegando na tatuagem para
olhar direito – ...quando cê fez?!
_Faz uns quatro meses... não, espera. Cinco.
_Numa sessão só?
_Não, foram duas.
_Nossa... Ficou demais, meu!
_Fiz com a Thaís, mano, ela manda muito.
_Puta, aliás, preciso te contar uma parada aí que rolou... – eu ri – Cê num vai acreditar.
_Ih. Lá vem... Cês se pegaram, foi?
_Como cê sabe?! – tomei um susto – Ela contou?
_Nem precisa, né? – a Lê gargalhou – Velho, eu sabia que cês duas iam se pegar desde o dia que apresentei. Tava só esperando...
_Ah, meu... Num é assim também!
_Não? E essa sua tatuagem aí... – apontou para a mordida da Mia no meu braço, que já começava a virar um hematoma, me zombando – ...a Thaís que fez também?
Antes que eu pudesse responder, de repente, o Fer entrou na sala –
agora devidamente vestido –, com cara de quem estava atrasado, e se meteu entre
nós para vasculhar a mesa, onde estava a revista e uma tonelada de papéis.
_Ou, cê viu minha chave?!
_Não... – murmurei – Não tá na cozinha, talvez?
_Não – resmungou de volta, sem me olhar, e passou a procurar pelo sofá – Caralho, viu. Já era pra eu tá passando na Mia... Cê vai hoje, né?
_Meu, nem vou – respondi – A gente vai comer no Vitrine com umas amigas agora e depois... sei lá...
_Tá me tirando?! – ele olhou pra minha cara, interrompendo a busca.
_Não, por quê?
_Por que cê não vai lá, meu? – se irritou.
_Ah, cara, sei lá... Não tô afim de ir na Sarajevo. Já disse parabéns pra ela na terça, já tá bom.
_Pô, mano... Que sacanagem. A Mia me perguntou mil vezes se eu tinha falado com você essa semana e cê fazendo cu doce aí, porra. Ela queria que você fosse. Cola lá, meu, nem que seja só pra dar um oi. O Vitrine é ali do lado, a gente vai chegar lá pela meia-noite...
_Ah, Fer... não sei – respondi, relutante, e ele me olhou sem paciência – Vou ver...
_Mancada, hein?!
_Não é, meu. Só não tô afim.
_Tá. Cê que sabe – se apressou – Preciso sair.
Continuou procurando e, assim que achou a maldita chave, saiu
batendo a porta. A Lê me olhou imediatamente, sem entender o porquê de eu ter
mentido três ou quatro horas antes quando liguei desesperada para ela e reclamei
por estar absolutamente carente de um programa para sexta à noite – o que não
fazia o menor sentido agora, ainda mais tendo em vista que a Sarajevo era
declaradamente uma das minhas baladas favoritas em São Paulo. A Lê me encarou,
confusa.
_E-eu... – hesitei em explicar, sem realmente querer tocar no assunto
– ...meio que peguei essa mina dele.
_Cara... – ela arregalou os olhos e começou a rir – ...cê tá sempre na merda, hein?!
_Faz uns quatro meses... não, espera. Cinco.
_Numa sessão só?
_Não, foram duas.
_Nossa... Ficou demais, meu!
_Fiz com a Thaís, mano, ela manda muito.
_Puta, aliás, preciso te contar uma parada aí que rolou... – eu ri – Cê num vai acreditar.
_Ih. Lá vem... Cês se pegaram, foi?
_Como cê sabe?! – tomei um susto – Ela contou?
_Nem precisa, né? – a Lê gargalhou – Velho, eu sabia que cês duas iam se pegar desde o dia que apresentei. Tava só esperando...
_Ah, meu... Num é assim também!
_Não? E essa sua tatuagem aí... – apontou para a mordida da Mia no meu braço, que já começava a virar um hematoma, me zombando – ...a Thaís que fez também?
_Não... – murmurei – Não tá na cozinha, talvez?
_Não – resmungou de volta, sem me olhar, e passou a procurar pelo sofá – Caralho, viu. Já era pra eu tá passando na Mia... Cê vai hoje, né?
_Meu, nem vou – respondi – A gente vai comer no Vitrine com umas amigas agora e depois... sei lá...
_Tá me tirando?! – ele olhou pra minha cara, interrompendo a busca.
_Não, por quê?
_Por que cê não vai lá, meu? – se irritou.
_Ah, cara, sei lá... Não tô afim de ir na Sarajevo. Já disse parabéns pra ela na terça, já tá bom.
_Pô, mano... Que sacanagem. A Mia me perguntou mil vezes se eu tinha falado com você essa semana e cê fazendo cu doce aí, porra. Ela queria que você fosse. Cola lá, meu, nem que seja só pra dar um oi. O Vitrine é ali do lado, a gente vai chegar lá pela meia-noite...
_Ah, Fer... não sei – respondi, relutante, e ele me olhou sem paciência – Vou ver...
_Mancada, hein?!
_Não é, meu. Só não tô afim.
_Tá. Cê que sabe – se apressou – Preciso sair.
_Cara... – ela arregalou os olhos e começou a rir – ...cê tá sempre na merda, hein?!
12 comentários:
Não dá pra não rir da desgraça da TGFM. LADSÇÃPL´WLS~LD0PQKPADOSK
E, ai, cada vez eu amo mais a Mia. Coisinha fofa dos infernos :((( ♥
hahahaha, adorei o post de hoje! ;) Será que ela vai? :p
hahahahaha Essa menina é muito enrolada, mas eu gosto dela..rsrs
Eu acho que ela vai acabar indo...bebada..rs
ADOOOOOOOOOOOOOOOOORO ♥_♥
Com certeza vai aparecer sim .. bêbada e vai fazer mais merda .. asiuhdashduasdhusad ..
AdoroO
Iiii muita gente ta começando a saber que ela pegou a Mia, isso nao é bom nao!! =P
Isso ainda vai dá merda :x
E a Mia que não consegue mais conter a necessidade dela de tá perto da FM? Linda *-* Adorei, Mel. Parabéns (:
Ih! É muito bom mesmo, amigos(as) sem namorados(as)! =X Esse povo que namora e some...tsc tsc...
oba... uma letícia na história... adorrroooo
http://s3prod.weheartit.netdna-cdn.com/images/3049186/tumblr_l40svd3e2O1qzmaego1_400_large.jpg?1279428535
x)
Eitxa situação conflitante...
Da uma passadinha, ou não?! És a questão,rsrrs
Foda-se, eu iriaaaaaaaaa...Na maior.
Post, quero maisssss...
Bjs MEuL....
@Edflavia_ems
"você tá sempre na merda, hein." neh?! haushuahs
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