Dormimos entrelaçadas. E o dia amanheceu sobre os nossos olhos
fechados, iluminando os nossos corpos desacordados. Aquelas eram as nossas últimas
horas juntas em Buenos Aires. E elas atravessaram o nosso sono, caladas, como
quem não quer perturbar uma quietude recentemente conquistada. As gargantas
ainda arranhadas, as olheiras secas, a ressaca. Mas acordamos, inevitavelmente –
com o celular da Clara tocando aos gritos quando já eram quase 16h.
A minha cabeça doía. Os meus músculos pareciam ter sido
esmagados por um caminhão. E a Clara aparentava se incomodar com um torcicolo –
provavelmente por ter dormido com o pescoço desajeitado sobre o meu braço.
Deslizava a mão pela própria nuca e apertava os olhos em desconforto. Já em pé,
eu a observa a alguns metros de onde estava sentada na cama, admirando-a – eu
te amo, garota. E senti um impulso apaixonado de beijá-la, a sua pele. Mas
a Clara estava quieta.
_Quanto tempo temos?
Perguntei e logo me abaixei para arrumar a mochila no chão,
agachada de costas para o colchão. Minhas roupas estavam largadas ao redor. E como
não ouvi resposta nos segundos seguintes, me virei para ela.
_Clara?
_... – os seus olhos não me encontraram, cabisbaixa, encarando as
próprias mãos; e aí murmurou, pensativa – ...alguma, a-alguma vez você já
mentiu para mim?
_O quê? – eu ri, sem entender a pergunta.
_Mentiu? – insistiu.
Respirei fundo. Soltando as roupas sobre a mochila.
_Por que isso, meu? – me angustiei – Por que cê quer...
_O que... – me interrompeu – ...o que tem entre você e a Mia?
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