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março 27, 2013

(...)

Dormimos entrelaçadas. E o dia amanheceu sobre os nossos olhos fechados, iluminando os nossos corpos desacordados. Aquelas eram as nossas últimas horas juntas em Buenos Aires. E elas atravessaram o nosso sono, caladas, como quem não quer perturbar uma quietude recentemente conquistada. As gargantas ainda arranhadas, as olheiras secas, a ressaca. Mas acordamos, inevitavelmente – com o celular da Clara tocando aos gritos quando já eram quase 16h.
 
A minha cabeça doía. Os meus músculos pareciam ter sido esmagados por um caminhão. E a Clara aparentava se incomodar com um torcicolo – provavelmente por ter dormido com o pescoço desajeitado sobre o meu braço. Deslizava a mão pela própria nuca e apertava os olhos em desconforto. Já em pé, eu a observa a alguns metros de onde estava sentada na cama, admirando-a – eu te amo, garota. E senti um impulso apaixonado de beijá-la, a sua pele. Mas a Clara estava quieta.

_Quanto tempo temos?

Perguntei e logo me abaixei para arrumar a mochila no chão, agachada de costas para o colchão. Minhas roupas estavam largadas ao redor. E como não ouvi resposta nos segundos seguintes, me virei para ela.

_Clara?
_... – os seus olhos não me encontraram, cabisbaixa, encarando as próprias mãos; e aí murmurou, pensativa – ...alguma, a-alguma vez você já mentiu para mim?
_O quê? – eu ri, sem entender a pergunta.
_Mentiu? – insistiu.

Respirei fundo. Soltando as roupas sobre a mochila.

_Por que isso, meu? – me angustiei – Por que cê quer...
_O que... – me interrompeu – ...o que tem entre você e a Mia?

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