Na manhã seguinte, senti doer cada músculo do meu corpo – num
lento despertar dos sentidos. Minha cabeça era devorada pela ressaca. Por que diabos inventei de tomar tanto
vinho? Ao contrário dos destilados, com porre de vinho eu não tava
acostumada. Me destruía completamente. E para piorar, sentia minhas pernas fracas
de toda a atividade na madrugada anterior, a pele calejada de hematomas e
mordidas nas costas, chupões no pescoço, roxos nas pernas e marcas do lenço
torcido nos pulsos – de quando a Clara resolveu se vingar.
A sensação geral era tinha sido atropelada por um caminhão. Tô ficando velha, lamentei, passando as
mãos no rosto sentada à beira da cama. Caralho.
Me bateu uma crise um dia antes de fazer 25. Uns outonos antes, pensei, teria
levantado só com uma ressaca leve e ido contabilizar as marcas no espelho,
achando graça. Olhei para o lado, para a Clara adormecida ali. É.
Mas uns outonos antes, sorri, eu não tinha você. E virei para frente, colocando o rosto entre as
mãos novamente. Essa garota vai me matar,
puta que pariu.
Me enchia o peito duma felicidade boba estar assim com ela, viver
as coisas ao seu lado. Juntei forças para me levantar. E fui até a mochila
largada no canto do quarto, pegando uma cueca qualquer e a vestindo, após um banho
rápido naquele chuveiro gelado. Então coloquei o único jeans que tinha levado e
uma regata branca. E deixei o quarto, à surdina. Saí na rua, andando algumas
quadras até encontrar o que parecia ser um café.
Gesticulei. Fiz mímica. Gastei o todo meu espanhol fajuto para comprar un
café de la mañana. E a atendente riu – repetindo desayuno algumas vezes. Finalmente entendi que era a mesma coisa. Comprei
o que deu com uns pesos que a Clara tinha, apontando o que pareciam ser uns
sanduíches e pegando dois cafés para viagem. Fiz o que pude para garantir que
não tivesse carne nos lanches, mas saí sem muita certeza de que a garota realmente
tinha me entendido. O bairro era ainda mais bonito durante o dia. Voltei observando
as ruas, tentando não me perder. E a Clara ainda estava dormindo quando
cheguei, vinte minutos depois.
Sorriu ao abrir os olhos e me ver parada ali, com dois cafés na mão
– “vou ficar mal acostumada assim”, murmurou. Comemos em cima do colchão e ela se
divertiu, implorando para eu repetir como tinha pedido tudo aquilo no café. Achando
graça, me escutando balbuciar aquele espanhol ruim. E em menos de meia hora, estávamos
saindo pela porta. Tínhamos muito para ver – de uma estranha flor de metal a um
palácio não tão rosa, uma avenida muito larga.
Andamos o dia inteiro. Os meus favoritos foram os murais de artistas
de rua dedicados ao Quino e a estátua da Mafalda, ao lado da qual sentei e pedi
pela primeira vez na viagem toda que a Clara tirasse uma foto. Almoçamos num
restaurante em San Telmo e como já beirava as 16, tomamos mais vinho. “Estamos
na Argentina”, justificamos o tempo todo, que se dane. E aí pedi para a
Clara me levar em algum estúdio de tatuagem – queria um rabisquinho internacional.
Entramos no primeiro que achamos e eu fiz um “33” quase nas costas da mão, em
homenagem ao vinho, em cima do pulso ainda marcado daquela madrugada.
Nem uma hora depois, movida pelo meu entusiasmo com a Pequena Notável
mais cedo, a Clara me arrastou até uma livraria alternativa do bairro, com pilhas
caóticas de livros empoeirados por toda parte e que era administrada por um
casal de caminhoneiras. Que animal. Absolutamente todos os lugares que a
Clara me levava me empolgavam, numa vontade de ver, de viver tudo que podia
ali.
_Eu gostava de vir aqui... – me contou, baixinho, cumprimentando de
longe uma das sapatas – ...quando era nova, com uns 11, 12 anos. E minha mãe,
em negação, achando que eu era hétero.
Olhei para ela, achando graça. Aí peguei um livro que estava numa grande
cesta de palha no chão, em promoção. Parecia meio de sebo, com as bordas detonadas.
Era de poesias. A Clara seguia adiante, buscando pelas prateleiras mais ao
fundo para ver se me achava um Quino original – em espanhol. Folheei as páginas
com certo interesse em ver quanto daquilo eu conseguia entender.
Inicialmente, os poemas eram curtos e simples. Me pareciam o tipo
de coisa que a Marina ia gostar de ler. E pensei em levá-lo de presente para
ela. Até que, na página 79, as linhas finais de um dos poemas me prenderam, estranhamente.
Diziam:
“Porque eres mía
Porque no eres mía
Porque te miro y muero y peor que muero
Si no te miro amor, si no te miro
Porque no eres mía
Porque te miro y muero y peor que muero
Si no te miro amor, si no te miro
Porque tú siempre existes dondequiera
Pero existes mejor donde te quiero
Porque tu boca es sangre y tienes frío
Pero existes mejor donde te quiero
Porque tu boca es sangre y tienes frío
Tengo que amarte amor, tengo que amarte
Aunque esta herida duela como dos
Aunque te busque y no te encuentre
Y aunque la noche pase y yo te tenga
Y no”
Aunque esta herida duela como dos
Aunque te busque y no te encuentre
Y aunque la noche pase y yo te tenga
Y no”
E não sei bem por que, mas meu coração acelerou. Fechei o livro, em silêncio. E olhei por cima das prateleiras, a Clara estava ao longe. Pensei em devolvê-lo ao cesto – mas parte de mim queria levar. Não para a Marina, nem para mim. Cacete. Relutei, subitamente apegada àquelas páginas.
24 comentários:
Mel, minha linda mel. Eu quero maais :D rsrs por favor, não custa. rsrs
"Porque tú siempre existes dondequiera"
NÃO ADIANTA FUGIR, FM! A MIA ESTARÁ EM TODO LUGAR QUE VOCÊ ESTIVER HAUHAUAHUAH #TEAMMIA
Apesar de estar amando a Clara e a Argentina e etc rs
...Porque te miro y muero
Y peor que muero
Si no te miro amor
Si no te miro...
eu acho que já senti isso uma vez...
...Tengo que amarte amor
Tengo que amarte...
#tenso
ps: cadê o Feeeeeeer!??!?! não era nesse?!?! rs
Tava tudo muito lindo...
Por favor!!!!
CHAMEM UMA MÃE DE SANTO PRA MANDAR ESSE ESPÍRITO OBSESSOR VOLTAR PRAS PROFUNDEZAS DE ONDE NUNCA DEVERIA TER SAÍDOOOOOO!!!
Clara, traz o clima bom dessa viagem de volta POR FAVOOOOOOOR!!!!
Blergh, Mia, Mia, Mia...tava demorando...rs
Aaaah, ela pensou na Mia...que lindo.. este poema combina muito bem com ela mesmo... Lindo, lindoo... volta logo pra Mia..
Chega de Clara, manda logo a MIA. É ela que interessa!
Nossa Mel...
não é que vc apavorou com esse poema... lo siguiente!!
Mandou muito mesmo!
Olé tú y tu arte de manejar las palabras y las mentes de los que te leen hasta donde quieres!
;)
Tenho que concordar com a Bárbara Leão.. "Clara, traz o clima bom dessa viagem de volta POR FAVOOOOOOOR!!!!" <3
Foco FM, FOCO! Não se perca, porra!
P.S.: Desculpa, mas é a Clara na Argentina. é muito amor genteee u.u
Sempre Mia Mia Mia! Poxa Mel, não corta o clima bacana que tá rolando na Argentina com a Clara.
Amei o poema <3
Fiquei sem palavras e sem reação... Ahhh... tô confusa gente...q nem a FM!! Mia ou Clara... ou Mia e Clara.. ainda não consegui me decidir...se é q precisa né... aiai... Vida díficil!!
Mel obg pelo presente incrível assim numa quarta-feira para alegrar a semana!! ;-)
(ANA CURI)
bring the MIA back! =)
Bolão... Quem acha que é pra Mia e quem acha que é pra Clara? k
O poema é lindo, mas nao sei nao. rs
Alguns outonos antes e eu não estaria me sentindo assim...Uns outonos antes eu não tinha você. HUMMMMMMMMMMMMMMMMMM Clara s2
Ameiiiii o poema mel :)
lindo mesmo eheheh
podem me julgar, mas mel, deixar pra gente imaginar como foi a noite delas foi MIL vezes melhor do que contar tim-tim-por-tim-tim. adorei! foi uma surpresa ótima o post de hoje, principalmente pela Mia de volta, de alguma forma.
LEVA O LIVRO E DÁ PRA MIA!!!
Aaaaaahhh, delicinha!
Lembrou da Mia, claro! Não adianta, é uma ligação cármica entre as duas.
E quando for a hora, tudo dará certo.
Fm + Mia
Nossa cara, mostra a foto aí da FM, po hahahahha
Meu coração deu uma pontadinha de alegria com o poema, sempre será a Mia. o/
----
E desculpa só ter vindo agora, mas vim na lan só pra ler, mudei e ainda tô sem net. Não aguentei esperar, tá maravilhoso!
Mia encosto <3 love it
Não! rs Na próxima semana dentro da cronologia da história!! (:
e agora, josé?
A Mia, até calada, estraga tudo u.u
tava amando o clima, apaixonada pela Argentina, aí lá vem ela --'
Da pra mandar ela pro Iraque com o Fernando, não? Kkkkk :D
brincadeira :x
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