Para baixo, joguei a
franja para fora da cara, mais um pouco.
O isqueiro já me queimava o dedo, perigando derreter de vez o tubo. E eu fazia
uma força enorme. Um pouco para direita, isso,
assim. Acontece que uns dias depois da noite lá do SWU, a nossa lava-roupas
começou a vazar. A rosca estava péssima e, passada uma semana de inundações na
área de serviço, decidi trocar eu mesma a peça só para não ter que pagar pelo conserto.
Me encontrava, então, sentada na área de serviço e rodeada por
ferramentas. E o que deveria ser uma simples, porém cara, troca de cano – logo se
tornou uma barata e complicada empreitada contra o plástico do tubo de saída. Por que fazem essas porcarias tão duras assim?
Argh. O meu polegar já estava vermelho, tentando lacear o furo com o
calor do fogo. E estava quase dando certo – fui empurrando a boca de ferro para
dentro do cano, usando toda a minha força. Concentrada em resolver de vez
aquela merda. E foi quando ouvi a porta da frente bater.
Mas, que
porra...?
Não pode ser o Fer, pensei. Era sábado de manhã. A muito
contragosto, uma semana antes, ele descolou um emprego temporário, como
vendedor numa loja de skate no Shopping Morumbi. Quase uma hora para chegar lá e
o contrato acabava logo depois do Natal, mas pelo menos pagaria parte das
nossas contas atrasadas. No último mês, sem muito sucesso, ele tentou mais alguns
freelas para cobrir os gastos, até discotecou numa festa de rocksteady de um
amigo nosso no Centro – mas o dinheiro ainda era pouco. Da minha parte, eu já tinha
emprestado até o que não tinha e daqui a pouco ia começar a dormir na produtora
de tanta hora extra que pegava. É. Tava foda.
Olhei para o relógio. Faltavam quinze minutos para meio-dia.
Limpei a mão na bermuda – com os dedos sujos de poeira, que soltava daquele tubo
imundo e do plástico queimado – e me levantei. Meia hora no chão ao lado da
máquina e a minha testa já estava molhada de suor. Preciso tomar um banho. Fui até a sala para ver de onde vinha o
barulho. Talvez eu tenha deixado a porta aberta, calculei, imaginando
que a Clara tinha chegado antes da hora para irmos almoçar. Sei lá. Mas saí da cozinha e dei de cara
com o Fernando, largando a mochila com raiva sobre o sofá e tirando a camisa meio
de qualquer jeito.
_Mas o... – o encarei, confusa – ...q-que cê tá fazendo aqui?!
_Nada – resmungou, puto.
_Fer! – insisti – Seu horário não vai até as três hoje?
_Vai.
_E...??
_E EU PEDI DEMISSÃO, PORRA!
_O QUÊ?!?
_Pedi. Caí fora, meu! Aquele cara é um babaca! – se exaltou, se apoiando com ambas as mãos no sofá – Ele acha que pode falar e fazer o que bem entende com os funcionários, mano! Desgraçado! Acha que eu sou obrigado a aguentar essa bosta de emprego, o filho da mãe nã...
_Não. Cê tá me zoando que você... – comecei a aumentar o tom de voz, interrompendo-o, nervosa – ...LARGOU A PORRA DO PRIMEIRO EMPREGO QUE VOCÊ CONSEGUE EM MESES, PORQUE VOCÊ NÃO GOSTA DO SEU CHEFE, MEU?!
_“NÃO GOSTO”, NÃO! NÃO FAZ SOAR COMO SE FOSSE FRESCURA MINHA, CARALHO! O CARA TÁ ME TESTANDO A PACIÊNCIA DESDE O PRIMEIRO DIA QUE EU PISEI NAQUELA PORCARIA DE LUGAR!! TRATA TODO MUNDO QUE NEM LIXO!!
_E VOCÊ NÃO PODIA SEGURAR A PORRA DA SUA BOCA?!?
_O CARA É UM ESCROTO, MANO!!
_FODA-SE! PRECISA IR LÁ E BRIGAR COM ELE?? CÊ NÃO SE SEGURA TAMBÉM, CACETE! VOCÊ ACHA QUE É O ÚNICO COM UM CHEFE DE MERDA NO MUNDO?!
_Ah, tá – revirou os olhos para mim – Falou a que não vê a hora de ir pro batente pra ficar vendo a chefe gostosona...
_NÃO VEJO A HORA?! – me irritei – EU NÃO AGUENTO MAIS PEGAR HORA EXTRA NAQUELA PORRA DAQUELA PRODUTORA, POR SUA CAUSA, E VOCÊ VAI ME DIZER QUE EU GOSTO DE IR TRABALHAR?! POR QUÊ? POR QUE A MINHA CHEFE, PELA PRIMEIRA VEZ NA VIDA, NÃO É UMA FILHA-DA-PUTA?! AH! SE LIGA, FERNANDO!! QUANTO CHEFE BABACA EU JÁ NÃO TIVE QUE ATURAR NA MINHA VIDA, PORRA! A GENTE ENGOLE ATÉ ACHAR OUTRA COISA, TODO MUNDO FAZ ISSO! CÊ ACHA QUE É ESPECIAL, CACETE?!?
Aí o Fernando ficou quieto, puto da vida, com os braços cruzados e
o corpo apoiado contra o encosto do sofá. Não me respondeu. E o meu argumento ficou
ali, solto no ar. Aquela era a primeira vez que ele conseguia alguma coisa em
meses e ele foi lá e jogou tudo pela janela. É de foder. Não podia acreditar, a gente não tinha como arcar com
aquilo. Naquele mês, eu já ia precisar pedir grana emprestada para os meus pais
de qualquer jeito, com ou sem o emprego do Fer. Não tínhamos mais um puto.
_Nada – resmungou, puto.
_Fer! – insisti – Seu horário não vai até as três hoje?
_Vai.
_E...??
_E EU PEDI DEMISSÃO, PORRA!
_O QUÊ?!?
_Pedi. Caí fora, meu! Aquele cara é um babaca! – se exaltou, se apoiando com ambas as mãos no sofá – Ele acha que pode falar e fazer o que bem entende com os funcionários, mano! Desgraçado! Acha que eu sou obrigado a aguentar essa bosta de emprego, o filho da mãe nã...
_Não. Cê tá me zoando que você... – comecei a aumentar o tom de voz, interrompendo-o, nervosa – ...LARGOU A PORRA DO PRIMEIRO EMPREGO QUE VOCÊ CONSEGUE EM MESES, PORQUE VOCÊ NÃO GOSTA DO SEU CHEFE, MEU?!
_“NÃO GOSTO”, NÃO! NÃO FAZ SOAR COMO SE FOSSE FRESCURA MINHA, CARALHO! O CARA TÁ ME TESTANDO A PACIÊNCIA DESDE O PRIMEIRO DIA QUE EU PISEI NAQUELA PORCARIA DE LUGAR!! TRATA TODO MUNDO QUE NEM LIXO!!
_E VOCÊ NÃO PODIA SEGURAR A PORRA DA SUA BOCA?!?
_O CARA É UM ESCROTO, MANO!!
_FODA-SE! PRECISA IR LÁ E BRIGAR COM ELE?? CÊ NÃO SE SEGURA TAMBÉM, CACETE! VOCÊ ACHA QUE É O ÚNICO COM UM CHEFE DE MERDA NO MUNDO?!
_Ah, tá – revirou os olhos para mim – Falou a que não vê a hora de ir pro batente pra ficar vendo a chefe gostosona...
_NÃO VEJO A HORA?! – me irritei – EU NÃO AGUENTO MAIS PEGAR HORA EXTRA NAQUELA PORRA DAQUELA PRODUTORA, POR SUA CAUSA, E VOCÊ VAI ME DIZER QUE EU GOSTO DE IR TRABALHAR?! POR QUÊ? POR QUE A MINHA CHEFE, PELA PRIMEIRA VEZ NA VIDA, NÃO É UMA FILHA-DA-PUTA?! AH! SE LIGA, FERNANDO!! QUANTO CHEFE BABACA EU JÁ NÃO TIVE QUE ATURAR NA MINHA VIDA, PORRA! A GENTE ENGOLE ATÉ ACHAR OUTRA COISA, TODO MUNDO FAZ ISSO! CÊ ACHA QUE É ESPECIAL, CACETE?!?
_Escuta... – encostei contra o sofá também, ao seu lado, e baixei
a voz – ...eu sei que é foda, meu, ouvir merda e engolir, ficar quieto. O cara é
folgado pra caralho mesmo, mas... – hesitei – ...n-não sei, Fer, eu não sei o
que mais a gente pode fazer, meu.
Cruzei os braços também. E ele abaixou a cabeça, ainda quieto. O
clima na sala ficou pesado. Não sabíamos mesmo mais o que fazer. Cogitamos
tudo, tudo o que podíamos. Desde vender o carro dele, que ainda acumulava algumas
parcelas para ser quitado, até pedir para os pais da Mia – por grana ou vaga no
sofá. Tudo. Argh. Odiava
quando as coisas saíam do controle assim. E por mais que a gente andasse
discutindo, não queria ver o meu amigo naquela situação. Inferno. Sem
muita alternativa, então, o Fernando desencostou do sofá e foi em direção ao
corredor do prédio.
_Vou ligar pro velho... – disse, desistindo.
14 comentários:
NÃOOOOOOOOOOOOOOOOO!!!!!!!!!!! =((((((((
Fernando tem o que na cabeça, hein???
Ênfase para o lado idiota do Fernando! Não baixou a crista pro chefe, agora vai ter que baixar pro pai... o q seria pior?!
=S
só eu acho sexy mina que sabe manejar ferramentas? FM consertando a maquina, uhmmm. '6
só eu acho sexy mina que sabe manejar ferramentas? FM consertando a maquina, uhmmm. '6 <<<<<<<-- KKKKKKK MELHOR COMENTÁRIO!!
aff fernando fdp =O
Todo mundo critica eternamente o Fernando, mas não lembram que a FM é a versão feminina dele (ou vice versa). A personalidade é a mesma!
Estou com pena do Fernando!
E espero que esse clima de final de novela, não represente de fato, o final da história!
Tchau Fernando, na boa já deu
E eu imaginei a FM super sexy com as ferramentas
Ahhhhh eu fico triste pela historia ter que destruir a amizade dos dois pra que a aconteça algo entre a FM e Mia! =/
caralho mano, fodeu
Coitado do Fer, maior corno, sacaneado pela amiga, desempregado e ainda tem que aguentar toda ala lésbiCa contra ele no FM huashashauhsuahsahsaushuaushausa Epero q ele fique bem ://
POOORRA, FER!
Cara, por que o Fer tem que ser tão mesquinho? porra :(
PORRA, FER! Que sacanagem :(
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