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abril 22, 2013

Má ideia

“Você tá bem?”, a Mia perguntou baixinho, me abraçando pelas costas. E eu suspirei, procurando recuperar a sanidade. “Não”. Maldição. A realidade parecia escorregar entre os meus dedos, se misturando a contragosto com as linhas do poema. Estava embriagada demais para evitar seus perigos sorrateiros, machucada. O meu coração não aguentava mais; e eu sabia. Num momento de lucidez eu soube. Por isso, não conseguia continuar.
 
Ela também sabia. Eu estava exausta, exaurida – dos meus erros, da forma como vivia a minha vida. Cansada de não a ter. E de nunca realmente ter ninguém. Por culpa minha ou dos outros, das circunstâncias. O meu coração fora se desgastando. Naqueles anos todos. E eu destruí as pessoas que amava pelo caminho. Não, mano, não entra nessa brisa, implorei a mim mesma, sabendo que a bebida e o contexto me induziam ao pior, não faz isso agora, porra. Mas o sentimento me tomou, subindo pela minha garganta.
 
A Mia sabia que cada linha tinha intenção – e é, talvez não fossem as melhores linhas para se dedicar a alguém, mas eram a verdade. Eram a gente. E me dilaceravam dum jeito. Porque yo te tengo y no, foi o que faltou dizer. Sentia toda aquela madrugada, aquela semana de merda pesarem de uma só vez no meu corpo. E uma vontade idiota de chorar, por que, p-por que diabos fui ler essa merda? Perdi o rumo por um instante, deitando no colchão. E a Mia deitou ao meu lado.
 
Eu perdi tudo, senti a ansiedade me sufocar. Suas mãos me envolveram a cintura, acariciando a minha pele, passando pela costela e depois por todo o decorrer do meu braço. Até segurar, por fim, na minha mão. E aí eu entendi, contendo as lágrimas silenciosamente nos meus olhos. Que aquilo não era pra sempre. Que íamos dormir e íamos acordar e que nada mudaria. Como não mudou em todo aquele tempo. E toda vez que ela me deixasse por ele, de novo e de novo, ia me machucar. Não importava o combinado entre nós. Eu, também, machucaria os outros – como já tinha machucado por tempo demais. “Fica comigo”, lhe pedi então, num sussurro, o que milhões de vezes antes eu não tive coragem de dizer, e a Mia me beijou o rosto, sem entender plenamente o que meu coração pedia.
 
Por favor.

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