Tentei virar a chave um milhão de vezes, mas algo me
impedia.
Tinha medo do que encontraria do outro lado. Imaginando que daria
de cara com o meu melhor amigo e estimado colega de apartamento, me esperando
no meio da nossa sala, puto, depois de descobrir que eu havia chegado perto o
suficiente para beijar a namorada dele caso eu quisesse. E eu queria. Agora me via parada ali, no
corredor, antecipando mentalmente cada insulto que ele cuspiria na minha
direção. Sem conseguir abrir a maldita porta. A Roberta já tinha deixado dois
recados na minha caixa postal e o meu celular registrava inúmeras ligações
perdidas. Todas suas. Caralho. Só faço merda. Quando finalmente criei
coragem, abri a porta e...
Nada.
Estranho. Entrei
silenciosamente no escuro e, como ninguém se manifestou, acendi as luzes – o
apartamento estava vazio. Sem ninguém. Nada. Sem reações explosivas, sem ciúmes,
sem conclusão nenhuma para todo aquele rolo que eu havia começado de manhã. Sem
porra nenhuma. Sem desfecho ou indícios do quanto havia sido falado entre
aquelas quatro paredes na minha ausência. Nada. Um grande nada.
Ah, isso era bem pior.
Parte de mim, quase preferia a treta. Onde diabos eles se
enfiaram? Andei pelo corredor até o quarto do Fer e a porta estava aberta. Entrei
por um instante para constatar se realmente não havia ninguém ali. Os lençóis estavam
desarrumados – argh. Como eu
odiava aquilo. Odiava as coisas que passavam pela minha cabeça quando via a
cama dele bagunçada depois da Mia ter estado lá. Sentia o meu coração rasgar;
ficava inquieta, desconfortável. Sem direito nenhum, é, mas acontecia. Assim
como aconteciam as minhas grosserias, as babaquices que eu fazia para lidar com
o meu próprio caos.
A minha ansiedade tomou conta de mim. Eu queria saber. Queria ter
certeza do quanto o Fer sabia. Queria olhar nos olhos da Mia e ver se
tinha feito alguma besteira irreparável. Ou se todo aquele surto era resultado
da minha própria paranoia. Queria alguém ali. Queria alguma certeza. Qualquer
uma – mas não tinha nada.
Só a droga
do silêncio.
2 comentários:
Que coisa paranóica, né?
Tormentoooo
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