40 minutos, 2 sanduíches e muitos cigarros depois e nós estávamos
de novo no apartamento. A fome da Roberta foi embora, levando junto alguns dos
meus poucos reais restantes, que gastei num novo maço no caminho de volta. Mas,
enfim, de volta. O apartamento dela quase não tinha móveis. Numa pegada
meio industrial, minimalista. Eu a observava dançar distraída pela sala, lentamente.
PJ Harvey, "Beautiful Feeling".
A música pesada, de alguma forma, se misturava com a sua personalidade. As
cortinas escureciam todo o cômodo, mas eu conseguia vê-la, de costas para mim, movendo-se
de um lado para o outro. Com os pés descalços soltos no chão. Ela tinha uma
linha reta tatuada no meio do indicador, que subia por todo o braço e até a
nuca. Outra vinha do seu calcanhar até o meio da coxa. Ela se virou e sorriu
para mim, de longe. Eu podia me
apaixonar por você, garota, pensei. E por um instante, me esqueci do que me
levara até a casa dela mais cedo naquele dia. Me esqueci dos motivos, do meu único motivo. Me esqueci dela.
A Mia.
Do nada, ela voltou. Por que
eu fui pensar nisso?! Mia. Mia. Mia –
argh. De repente, a
desgraçada tomou conta de todos os meus pensamentos. De novo e de novo. Contra
a minha vontade. Você tá estragando isso,
inferno, me irritei. E ela
estava. A Mia estragava a Roberta, estragava tudo. E sabe, se a namorada hétero
do seu amigo é capaz de arruinar uma garota dessas dançando sem roupa numa sala
vazia, meu bem, você tá perdida. E eu
já era.
Droga. Larguei o
cigarro, incomodada, e me levantei do sofá. Vamos
lá. Eu consigo fazer isso. Fui até o meio da sala e segurei a Roberta com
todas as minhas melhores piores intenções. As suas mãos subiram a
camiseta pelas minhas costas. Mordi seu queixo e subi a minha boca até a sua. No
entanto, quanto mais eu a beijava, mais a Mia invadia a minha cabeça. Os meus
dedos a seguravam com vontade e apertavam a sua pele, numa tentativa de fazer
com que a porra da Mia desaparecesse. Eu queria que ela desaparecesse. Que sumisse de todas as extensões do
meu corpo, de cada veia sob a minha pele. E do meu coração – sobretudo do
coração. Mas não. Nada. Ela
continuava lá. Em mim. Insistentemente. Mia. Mia. Mia. Mia. Mia. Argh.
Mas resisti.
Eu vou
fazer você sumir, porra.
2 comentários:
Poxa!!! Pj Harvey! Gamei!
Vai entender? Dois posts ótimos seguidos e só 4 comentários!
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