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dezembro 18, 2009

Roberta

Desembarcamos, eu e as minhas más intenções, numa ruazinha inclinada de Perdizes. Apto 42. Roberta. Esse era o nome da garota que eu estava prestes a sacanear por motivos totalmente egoístas. A mesma que provavelmente me chutaria de volta para Baixo Augusta caso descobrisse que alguma vez a imaginei como uma vítima indefesa da minha própria falta de integridade – que era exatamente o que eu estava pensando, parada em frente ao interfone do seu prédio.
 
Quarto andar e nem um fucking elevador. Como eu odeio esses prédinhos namastê de Perdizes. Muitos degraus depois e a Roberta abriu a porta. Encostou no batente como se já me esperasse há algum tempo e eu sorri. Um sorriso sincero, feliz por revê-la. A Rô tinha aquele jeito dyke de ser, cabelo curtinho descolorido e uns braços fortes. Irresistível. Com o tempo, desenvolvemos certa cumplicidade, mas algo me impedia de estar realmente com ela. A minha falta de maturidade, provavelmente.
 
Era uma dessas minas pós-punk que ouvem EBM. Sabe? Dessas que cresceram no interior escutando uns Front 242 baixado ilegalmente no Napster, depois veio morar na capital e entrou na cena hardcore eletrônica. Uns anos depois, ela acabou caindo nuns sons experimentais depressivos, e densos, tinha um projeto de discotecagem com um amigo que fui ouvir uma vez numa quebrada no centro de São Paulo, não sei bem explicar. Mas eu gostava. Gostava de tudo nela. E o sexo era, meu deus. Gostava também de pensar que era para isso que nos ligávamos, de tempos em tempos, ainda que provavelmente essa fosse só a minha perspectiva. Não a dela.
 
_Então quer dizer que cê ainda tá viva?
 
Cruzou os braços, rindo, encostada no batente.
 
_É... E-eu, eu andei meio ocupada – menti – Correria no trampo.
 
A Rô levantou a sobrancelha, como se não acreditasse, e em resposta a beijei contra o batente. Puta merda, como eu precisava disso. Tem umas bocas que simplesmente se encaixam. E a da Roberta me fazia esquecer de todos os desencontros da minha vida. Me afundei no seu gosto e ela me puxou na sua direção. Eu sorri entre os seus lábios.E aí, posso entrar?”, fiz graça, já me dirigindo para dentro do apartamento, certa da resposta.
 
_Na verdade... – ela me segurou, tirando as chaves do bolso – Eu tava saindo pra almoçar, quer vir?
 
Espera. Quê?
 
Fiquei parada ali. Não. Não, não, a encarei sem reação, pega de surpresa. Não, não, não, você não tá entendendo, gata. Eu preciso de horas intermináveis de sexo da mais baixa categoria e você quer ir comer? Mas nem a pau.
 
_Pode ser. Mas... – a encostei de volta contra o batente da porta, sem me dar por vencida – ...p-primeiro, vamos lá dentro comigo um pouquinho, vai? Pra gente decidir direito o que vai comer...
 
Cafona, é, eu sei. Mas a Roberta riu e colocou os braços ao meu redor de novo, me beijando demoradamente. E pareceu funcionar. Danem-se os vizinhos e os bons modos, a porra toda. Estava pronta para tirar a roupa ali mesmo. Desesperada por qualquer coisa que me ocupasse a boca mãos mente corpo o coração naquele momento. Fui descendo pelo seu pescoço, deslizando os lábios na sua pele. E a Roberta mordeu a pontinha da minha orelha. Aí aproximou a boca do meu ouvido:
 
_Eu tô com muita fome... – arrastou as palavras lentamente, me provocando, e aí segurou o riso, se afastando – É sério. Eu tô morrendo de fome, vamos?!
 
Filha da puta.
 
Aquilo era vingança. Eu podia ver ela se divertindo com a situação e com a minha nítida cara de frustração. Isso que dez minutos antes eu estava plantada em frente ao seu prédio imaginando-a como uma vítima indefesa da minha arrogância. Pois é. Agora eu é que era arrastada para um almoço inoportuno, a três quadras dali, com um fogo desgraçado e a cara mais emburrada do mundo. Isso não tá acontecendo, me indignei.

3 comentários:

Lari disse...

Huahsausahshauha vc ñ prestaaaaaaa!!bem feito pra ela, adorei haushasuasa

escreve maisss logo! qro saber no q deu =D
bju

Larissa disse...

Caralho, vc escreve mt bem.
Tô adorando tudo *-*

AmyLy Love disse...

Tambem velho você escreve muito bem mesmo.hsuahsaush'
Minha vida ta a mesma que a sua
hsauhsauhsauh'