Mais uma, pensei
ao enxergar o fundo do copo recém colocado sobre a bancada e fiz um gesto para
o atendente, sem pensar suficientemente a respeito. Aquela era a minha segunda dose
e o tempo insistia em passar devagar. Cruelmente devagar. Não queria dar
bandeira junto com a Mia, mas chegar bêbada em casa naquelas circunstâncias
também não era a melhor das ideias. Infelizmente, eu não tinha outra estratégia
para passar a porra do tempo. Olha a que
ponto você chegou, me indignava comigo mesma.
Observava em pé o movimento deprimente do boteco, com metade do
corpo apoiado contra o balcão. Argh. Levantei o olhar e o relógio na
parede marcava cinco para a meia noite. Mais
uma e eu caio fora, planejei. Um velho rabugento com a barba por fazer
enchia o meu copo com o que seria a saideira de rum da noite – já com certa má
vontade. A Mia estava no apartamento com o Fer há mais de meia hora. Eu sabia
que ia precisar me controlar uma vez que chegasse lá em cima e, ciente de que aquela
confusão frequentemente me tirava a racionalidade, sabia também que precisava
parar de beber.
Virei a dose. Aquela seria, de fato, a última. Paguei o cara no
caixa com as notas amassadas que tirei do meu jeans e me dirigi à saída com o
maço de cigarros na mão, pretendendo enrolar mais alguns minutos na frente do prédio.
Quando finalmente virei a chave na porta de casa, o meu celular já marcava
quase meia-noite e quinze.
A primeira fresta aberta entre a porta e o batente, revelou um som
alto vindo da sala. Milésima multa, previ,
conforme terminava de empurrar a porta apartamento adentro. O Fer estava
sentado no sofá, debruçado para a frente, como se mexesse em algo na mesinha de
centro. Ele me viu assim que entrei e acenou, sem me dar muita importância. A
Mia, ao seu lado, me olhou rapidamente e logo tornou a encarar o chão. Até aqui tudo bem, reforcei
positivamente, como um mantra anti-vexame, enquanto me punha a atravessar a
sala, esperando não ser muito notada.
_Falou parabéns? – o Fer me chamou, poucos passos antes de eu
chegar no corredor.
Droga. Olhei
para trás como se não tivesse entendido e ele sorriu para mim, colocando a mão
na coxa da Mia – que estava só de calcinha e moletom no sofá.
_É aniversário dela, pô...
Pois é. Eu
sei.
_Parabéns – respondi fingida, andando até o sofá, e a Mia se
levantou brevemente para um abraço automático, ambas despistando o melhor que
podíamos.
_Fuma um aí com a gente... – o Fer sugeriu.
Só então reparei o baseado na mão dele. Era isso que estava
fazendo na mesinha.
_Não... – murmurei, querendo sair o quanto antes dali – Tô de boa.
_É aniversário da Mia, meu... Sério que cê vai dormir?! – ele riu – Fica aí um pouquinho, mano... Bolei agora, é só acender.
_Não, valeu... – resmunguei, me virando para retomar o caminho.
_Ela tá cansada, amor... – a Mia cochichou do lado dele – ...deixa pra lá, num precisa.
_É, e eu não tô muito afim... sei lá... Já bebi hoje também, vai me zoar.
_Ah, meu... qual é?! Cê anda muito chata! – ele reclamou e riu, de novo – Nunca fez mais nada com a gente! Pô, fuma aí... Só um, vai... pra comemorar!
O argumento até que não era ruim. Aliás, era melhor que o meu – se
não considerarmos a verdadeira justificativa por trás do meu sono incomum às 0h
da “madrugada”. Eu odiava mentir para o Fer. Olhei nos olhos do meu melhor amigo,
ali, sendo todo simpático comigo e me detestei por andar tão cretina com ele
nos últimos dias. Por um instante, a sua sugestão não me pareceu tão má ideia –
e isso certamente envolve motivos maiores, digo, de teor alcoólico. Mas, ah... que mal poderia fazer? É só um.
Observei-o novamente e suspirei, dando-me por vencida.
_Tá.
_Fuma um aí com a gente... – o Fer sugeriu.
_É aniversário da Mia, meu... Sério que cê vai dormir?! – ele riu – Fica aí um pouquinho, mano... Bolei agora, é só acender.
_Não, valeu... – resmunguei, me virando para retomar o caminho.
_Ela tá cansada, amor... – a Mia cochichou do lado dele – ...deixa pra lá, num precisa.
_É, e eu não tô muito afim... sei lá... Já bebi hoje também, vai me zoar.
_Ah, meu... qual é?! Cê anda muito chata! – ele reclamou e riu, de novo – Nunca fez mais nada com a gente! Pô, fuma aí... Só um, vai... pra comemorar!
11 comentários:
conheço bem esse sentimento matador de imaginar a pessoa com outro/a.
dói de um tanto que nem dá pra acreditar ser possível...
que dó dela.
e dó do fer bobinho.
ai.
fico mal com FM.
A mia está sendo muito cretina na minha opinião...
blog está d+
Caralho, uma cena aí me lembrou de algo que já vivi, me transportou pra lá e me arrancou uma lagriminha de nostalgia...
Parabéns por conseguiu despertar isso nas pessoas, gata.
=*
ai gente tambem quero chegar em casa e encontrar meu melhor amigo e a pessoa que eu gosto me esperando na sala com um beck :~
mas nao assim, pra ver os dois desaparecerem trancados em um quarto mais tarde, né...
Que situaçãoooo! :(
Poxa, a FM não presta e talz, mas também não merece passar por tanto :/
Ta muuuuito boa a história! *O*
conheço bem esse sentimento de imaginar a pessoa com outro/a.
dói de um tanto que nem dá pra acreditar ser possível...
que dó dela. +1
ai eu acho que isso não vai dar certo.
Sem palavras, a descrição da situação retirou qualquer comentário.
Parabéns pelo texto
ela nao merecia isso meu e a mia só brincando com os sentimentos dela
ta d mais o blog
Meeuu,
"Tengo miedo" do que pode acontecer na sala depois desse biriri.
Até que ela tá se saindo bem, mas vai saber como vai reagir a qualquer troca de carinho entre o Fer e a Mia. A Devassa pode surtar a qualquer momento.
Ela super deveria ter fugido com a Mia depois do beijo. Sabe, não ter dado a chance da Mia pensar que o Fer tava no apê esperando.
Sou a favor de um sequestro. hahaha
OH GOD!
#tenso isso hein!
eu não seria coerente e certo que faria merda, ainda mais se estivesse bebada.
boa noite cinderela pro fer e o resto é só alegria
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