Uma vez na vida cheguei cedo no meu trabalho – o que não me
impediu de acender um cigarro na calçada da frente e me atrasar de todo jeito. Claro.
Sentei na minha mesa e tirei o celular do bolso de trás da calça, abrindo-o
para ler mais uma vez a mensagem da Mia da noite anterior. Ainda não a tinha
respondido – a conversa com o Fer naquela manhã tinha me fodido demais a cabeça
para escrever para ela como se nada estivesse acontecendo.
Cacete.
Tentei me manter ocupada. E passei a maior parte do dia tratando um
pacote imenso de imagens num programa desatualizado que meu chefe insistia em
manter em todos os computadores do estúdio. Lá pelas três da tarde, recebi mais
um SMS da Mia, me perguntando se eu estava trabalhando. São duas e cinquenta numa terça-feira, mano. O que mais eu estaria
fazendo?
Empurrei as costas contra o encosto da cadeira, mordendo
inconscientemente a ponta do dedo, de leve, enquanto minha cabeça se perdia nas
mesmas ansiedades de sempre. Argh. Que se dane. Peguei o maço na
mesa e meti o isqueiro no bolso, levantando para mais uma pausa. Subi as
escadas do estúdio, já colocando um dos cigarros nos lábios, e atravessei a
recepção.
Ao sair pela porta, dei de cara com a Mia.
_O que cê tá fazendo aqui? – tirei o cigarro da boca e sorri, meio
desnorteada.
_E-eu... – ela riu, igualmente surpresa – ...ia lá te chamar. Espera, o que você tá fazendo aqui?
_Tava saindo pra fumar, meu – disse, mostrando o cigarro na minha mão.
E então ela me abraçou, me dando um beijo na bochecha. Não um
daqueles esbarrar de rosto com que se costuma cumprimentar as pessoas – foi um
beijo mesmo. Sorri para ela, com o canto da boca, enquanto colocava o cigarro
de volta nos lábios e a observava ali. Feliz com a surpresa. A desgraçada
estava maravilhosa, com uma calça skinny rasgada e uma blusa justa
preta, por baixo duma jaqueta de couro. Meu deus, a olhei com saudade, como
se não a visse há anos, a garota acabou de chegar e eu já tô idiota assim?
Respirei fundo, desviando o olhar para baixo. Então fui com ela
alguns metros para lá na calçada, sentando no meio-fio para fumar. A Mia se sentou
ao meu lado, abraçando os joelhos dobrados em frente ao corpo, e eu finalmente
acendi o cigarro. Joguei o maço adiante na sarjeta, com preguiça de colocá-lo
de novo no bolso da calça.
_E aí, bonita... – pisquei na sua direção e ela sorriu – ...cê tá
melhor?
_Tô. Apesar de, né, certas pessoas não terem cumprido a promessa...
_Eu?! – ri.
_É! Cê disse que ia ficar...
_Ah, qual é... – argumentei – Eu fiquei até de manhãzinha!
_Não é o bastante... – me empurrou de leve com o corpo, num flerte gostosinho – ...tonta.
_Tá, tá... – sorri, achando graça – ...na próxima eu fico.
Sentia o meu estômago embrulhar, silenciosamente, se misturando
com a felicidade de estar com ela de novo. Argh. Aquilo era difícil pra
caralho.
_E o que cê veio fazer pros lados de cá?
_Ah, sei lá... – riu, como se fosse óbvio, e o meu coração pulou uma batida – Cê recebeu minha mensagem ontem?
_Recebi...
_Tá tudo bem?
_Tá... – traguei o cigarro – ...só, sei lá. É complicado.
_Como assim?
Suspirei, hesitante. Cacete. Não queria tocar no assunto.
_Cê... – disse, já sabendo a resposta – ...cê falou com o Fer?
_Quê?!
_Com o Fer... – traguei mais uma vez e olhei para ela – ...ele não foi na sua casa no domingo?
_Foi, mas... o que isso tem a ver?
_Nada. Só tô perguntando.
_Perguntando por quê?
_Falou ou não falou?!
_Nós não... – ela respirou fundo – E-eu não deixei ele subir, eu... e-eu não queria falar... sei lá. Ainda tô brava com ele, sabe, ele não devia ter te mandado embora da festa daquele je...
_Ele não me mandou fazer nada, Mia, eu que decidi sair.
_Não interessa... Ele não tinha que ter começado a briga!
_E cê realmente acha que a gente tava com a razão? Que o Fer estava errado?! – me indignei, balançando a cabeça – Mano, o que cê faria se fosse o contrário? Se você visse ele dançando com outra mina daquele jeito?
_É diferente.
_Não é diferente.
_É, sim.
_Não é, Mia. Você que não entendeu isso ainda... – me frustrei – ...a gente tava errada, porra. E agora cê não vai nem falar com o cara, meu?!
_E cê espera que eu diga o quê pra ele?! – se irritou comigo – A verdade? É?
Não consegui responder. Inferno. Não quero brigar, garota. Abaixei
a minha cabeça, ficando quieta por um instante, entre uma tragada e outra. A
Mia encarava a rua, pistola comigo. Merda, não posso deixar as coisas assim,
me incomodei. E então retomei, falando mais baixo:
_E-eu não tô tentando brigar, Mia, é só... – continuei, com o
olhar na sarjeta sob meus pés – ...s-só que eu tô no apartamento todo dia, meu,
e é foda. É foda ver ele mal. Eu me sinto uma merda, me sinto culpada, porra.
Sabe, ele gosta pra caralho de você, meu...
_Tá. E você?
_Não faz isso...
_Olha... – interrompeu a conversa, brava – ...na boa, eu não preciso de você para me dizer o que o Fernando sente por mim, eu sei muito bem. Caso cê tenha se esquecido, a gente namora – argumentou, já se levantando – Não sei nem o que eu vim fazer aqui, mano.
_E-eu... – ela riu, igualmente surpresa – ...ia lá te chamar. Espera, o que você tá fazendo aqui?
_Tava saindo pra fumar, meu – disse, mostrando o cigarro na minha mão.
_Tô. Apesar de, né, certas pessoas não terem cumprido a promessa...
_Eu?! – ri.
_É! Cê disse que ia ficar...
_Ah, qual é... – argumentei – Eu fiquei até de manhãzinha!
_Não é o bastante... – me empurrou de leve com o corpo, num flerte gostosinho – ...tonta.
_Tá, tá... – sorri, achando graça – ...na próxima eu fico.
_Ah, sei lá... – riu, como se fosse óbvio, e o meu coração pulou uma batida – Cê recebeu minha mensagem ontem?
_Recebi...
_Tá tudo bem?
_Tá... – traguei o cigarro – ...só, sei lá. É complicado.
_Como assim?
_Quê?!
_Com o Fer... – traguei mais uma vez e olhei para ela – ...ele não foi na sua casa no domingo?
_Foi, mas... o que isso tem a ver?
_Nada. Só tô perguntando.
_Perguntando por quê?
_Falou ou não falou?!
_Nós não... – ela respirou fundo – E-eu não deixei ele subir, eu... e-eu não queria falar... sei lá. Ainda tô brava com ele, sabe, ele não devia ter te mandado embora da festa daquele je...
_Ele não me mandou fazer nada, Mia, eu que decidi sair.
_Não interessa... Ele não tinha que ter começado a briga!
_E cê realmente acha que a gente tava com a razão? Que o Fer estava errado?! – me indignei, balançando a cabeça – Mano, o que cê faria se fosse o contrário? Se você visse ele dançando com outra mina daquele jeito?
_É diferente.
_Não é diferente.
_É, sim.
_Não é, Mia. Você que não entendeu isso ainda... – me frustrei – ...a gente tava errada, porra. E agora cê não vai nem falar com o cara, meu?!
_E cê espera que eu diga o quê pra ele?! – se irritou comigo – A verdade? É?
_Tá. E você?
_Não faz isso...
_Olha... – interrompeu a conversa, brava – ...na boa, eu não preciso de você para me dizer o que o Fernando sente por mim, eu sei muito bem. Caso cê tenha se esquecido, a gente namora – argumentou, já se levantando – Não sei nem o que eu vim fazer aqui, mano.
6 comentários:
Posts LINDOS :)
Adorei !
aaah ¬¬
minha cara fazer isso
aiaiaiii...adoro um drama...
a arte de foder td vem da sinceridadee... soh pode!
- concordo,pra que dormir?! quanto mais vc dorme, mais sono vc tem...
- ixi, a FM nao devia ficar pensando essas coisas da mia, quer dizer, eu acho q ela é mais do que brinquedo sexual pra mia
- fiquei triste com o final do psot :( mas eu acho que eu entendo o ponto de vista das duas, é dificil :/
(fui escrevendo o comentário conforme ia lendo o post)
HAUHAU ain,arrasou huHAUHAUHA chupa Mia!!!
HAUHA ta,Curti a Devassa nesse post,psss mas segredo nosso x_x
Ahhh, aqui o primeiro post em que a Mia visita a FM no trabalho. Sabia que era um post incrível. Ela tava toda mimimi e a FM toda ogra. A Mia super interessada, perguntando dos sentimentos da outra e a mulher fala do Fer. Tipo, pfff! Achei infantil da parte da FM.
PS. A Mia tem um irmão?!? Chocada! Ela é tão filha única pra mim...
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