E vice-versa

Merda. Assim que pisei dentro do estúdio, me bateu um arrependimento violento. Por cada palavra que tinha acabado de sair da minha boca.
 
Não sei o que diabos se passa pela minha cabeça às vezes. Mas que hora de dar pitizinho, hein... sua idiota!, passei as mãos no rosto. E tentei me livrar da sensação de que não podia deixar a Mia ir embora brava comigo. A mina vem aqui na maior boa vontade, querendo te ver, e a única coisa que você faz é falar da droga do seu amigo, porra?, eu andava de um lado para outro na recepção, eu sou uma imbecil mesmo. Esfreguei o rosto mais uma vez e aí engoli o orgulho.
 
_Onde cê tá?
_Por quê? – retrucou sem paciência, do outro lado da linha.
_Não vai embora assim, meu... Me fala onde cê tá, por favor.
_Cara, o que deu em você hoje?!
_Não sei, eu sou uma babaca. Cadê você?
_Na rua de trás.
_Tá. Fica aí, meu. Não sai daí! – desliguei o telefone e virei para a secretária do meu chefe, que me olhava como se eu fosse desequilibrada – Ô, segura as pontas aí pra mim? Eu já volto, sério, cinco minutos!
 
Virei a esquina o mais rápido que pude e avancei pela calçada, só querendo chegar logo. Dei a volta no quarteirão e vi a Mia parada ali, encostada num muro me esperando. Mesmo de longe, podia ver o descontentamento na sua cara. E, uns metros mais adiante, o ponto de táxi onde ela provavelmente queria chegar. Me aproximei, sem saber ainda o que dizer.
 
_Desculpa... – parei na sua frente e pedi, abaixando a cabeça – ...me desculpa, meu. E-eu, não sei, eu... – suspirei – ...é complicado. É o Fer e ele... ele é meu amigo, porra. Eu gosto demais dele. Não dá pra... pra achar que... que tudo bem, q-que a gente está certa. Porra, eu estava errada... na sexta. E ele tá tentando, sabe? Ele queria acertar as coisas entre vocês e, às vezes, e-eu... sei lá, parte de mim quase... queria que desse certo, porque não quero ver ele mal. Mas por outro lado, é... é você, saca? E eu... – subi o olhar até o seu – ...eu gosto muito de você... porra, eu gosto pra caralho de você, Mia, e... e então, e-eu... eu acho que não... não queria de verdade que... desse certo. E é confuso e é zoado e sabe... às vezes, eu só... queria poder ficar com você... – segurei sua mão – ...ficar mesmo com você, sabe?
_Mas é isso que eu não entendo! – ela retrucou, brava – Mano, quando eu me pego pensando em você, vindo aqui, porra... Do nada, você vira e...
_Me ignora – pedi, rindo – Pelo amor de deus, só me ignora. Eu tenho sérios problemas!
_É... – ela riu, cedendo um pouco – ...tem mesmo!
_Tenho.
_O problema é que fica difícil te ignorar, né, com você aí... sabe, me levando pra umas pistas escuras... vindo na minha casa de madrugada... s-sendo... você, o tempo todo.
 
Sorri na mesma hora. Então a puxei pela cintura, apoiando a outra mão no muro acima do seu ombro. É?  Senti seus dedos me agarrarem a camiseta, esquecendo-se da luz do dia e das redondezas, ela sorriu de volta para mim. E me beijou. Caralho. 
 
_Você fode a minha cabeça, sabia? – ela disse baixinho, achando graça.
_Eu?!
 
Se você soubesse o que faz com a minha, garota.