Cheguei em
casa, exausta, às três. Ainda não tinha conseguido dormir e aquele almoço se prolongou
mais do que deveria. E com bem mais opiniões do que deveria também. A
minha mãe ficou reclamando que eu não largava do celular, trocando mensagens
com a Mia durante o almoço todo. E para piorar, enquanto o meu velho não decidia
se levantar da cadeira, éramos obrigadas a ficar ali na mesa – aí eu me lembrei
por quê não era tão fã de almoços em família. Argh. De volta ao
apartamento, joguei o meu corpo no sofá e fiquei largada ao lado do Fer,
em silêncio por alguns segundos, aliviada, escutando os seus dedos se movendo rapidamente
no controle do videogame.
_Se divertiu lá? – ele me olhou, após algum tempo.
_Ô! – fiz um sinal de “joia” para ele, sarcástica, e ele riu – Nossa, ainda bem
que isso só acontece a cada seis, sete meses.
_Eles são seus pais, meu... – ele disse, sem tirar os olhos da TV – ...dá uma
trégua.
_Olha quem fala! – resmunguei e o Fer mordeu a língua – Mano... Acho que se um
dia eu for obrigada a morar com a minha mãe de novo, eu me mato. Tô falando
sério!
_Ah, cara... eu gosto deles.
_Puxa-saco! – dei um soco de brincadeira no seu braço e observei o que ele
estava jogando – Ô, deixa eu correr também?
_Toma aí – me passou o segundo controle, sem pausar – Deixa só eu terminar
essa, falta uma volta.
_E a Lê? Foi embora?
_Foi. Depois que cê saiu – respondeu, concentrado.
_Hm. E você foi onde ontem?
_...
_Fer?
_Filho-da-puta! – jogou o controle no sofá, enquanto a televisão indicava o seu
segundo lugar na corrida; aí se apoiou contra o encosto, derrotado, e só então me
olhou – ...o que cê disse?
_O rolê de ontem...
_Ah, fui com os moleques no pub aí da... Como chama, caralho?! O que tem
sinuca, sabe? Onde o Felipe tocou uma vez... Ali, na... na Itu, manja? O... – ele
seguiu, tentando lembrar, e eu o olhava de volta sem nenhuma sugestão – ...o O’Malley’s!
_Ah, tô ligada... – disse, distraída, selecionando a opção de dois jogadores –
...foi só os caras?
_Não, a
namorada do Rafa e a do Vini tavam também. Só a Mia que não foi...
_Hum. Tá
tudo bem com vocês?
_Tá nada, uma
bosta, meu. Ela tá me dando o maior gelo... – comentou, escolhendo o carro na
TV – ...desde sexta. Não me respondeu ontem o dia todo. Continua puta, não quer
me ver, não quer falar comigo.
Bom, comigo, por outro lado. Me ajeitei no sofá e, então, a corrida começou.
_Que bad, meu.
_Ah, me fode demais isso – disse, parecendo chateado – Eu gosto dela pra
caralho.
_Eu sei – me
senti uma mentirosa, tentando consolá-lo – É osso. Mas, às vezes, ela só
precisa de um tempo, sabe...
_É. Sei lá
– lamentou, respirando fundo, com os olhos ainda no jogo – Eu fiz merda, cara.
_Calma, Fer,
não foi tanto assim...
_Ah,
velho, ela não tá nem me atendendo... Tenho medo de ter fodido as coisas por
causa duma discussão idiota, de bêbado, meu. A gente brigou muito feio na sexta,
eu não devia ter falado aquelas merdas.
_Não,
calma... – me senti péssima – ...cê vai ver, daqui a pouco ela tá batendo aí de
novo.
Suspirei,
escorregando contra o encosto com o controle nas mãos. Não sabia o que me fazia
sentir pior – a minha traição de merda ou dizer que tudo ia ficar bem, enquanto
desejava com todo meu coração que não ficasse. Inferno.
_É. Quem
sabe... – ele murmurou – Espero que sim.
_Vai, sim,
meu.
_Pode ser.
A Mia é cheia dessas também, faz greve por uma semana e depois vem aí queren...
_SAI DA FRENTE, PORRA! – gritei com a TV, de repente, interrompendo aquela
conversa antes que começasse a me dar um desgosto maior.
2 comentários:
Descontar a raiva no video-game sempre é uma boa saída haha
E se quando eu sair de casa for obrigada a morar com os meus pais por qualquer motivo q seja eu tbm me mato, pq é foda gente enxerida querendo de saber de tudo e se metendo onde nao deve
A Mia deveria ver o Fer só no dia em que a testosterona dele sumir!
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