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fevereiro 26, 2011

Game over

Idiooota, eu me pendurava no galão de água, sofrendo com a minha própria estupidez. Sozinha na cozinha do estúdio, aquele fracasso em plena sexta-feira de manhã. Mas como eu sou idiota, cara. Olhei o ambiente em volta, completamente enjoada. Não me sentia tão mal assim há alguns anos – e olha que eu me esforçava bastante.
 
Acontece que a falsa impressão de que eu conseguia aguentar o tranco, alimentada pela arrogância de quem tinha bebido e cheirado mais do que devia, rapidamente se transformou, como já era de se esperar, em uma bad fenomenal. E toda aquela disposição de merda foi para o espaço. Virada há dois dias, o meu estado atual era deplorável. Que ideia mais imbecil, mano, eu me condenava, odiando cada neurônio cego dentro da minha cabeça oca, acorrentada ao trabalho e com o expediente todo ainda por vir.

Quinto copo de água. O café estava me embrulhando o estômago e agravando aquela minha dor aguda de cabeça – não, fora de cogitação. Tudo se misturava na minha barriga e eu sentia cada gota de líquido ingerido naquela manhã e na noite anterior rodando dentro de mim, como numa máquina de lavar roupas. E a cada volta, me dava uma vontade desgraçada de vomitar. Peguei o celular, na esperança de já terem se passado ao menos cinco minutos. Mas, como se já não me sentisse mal o suficiente, toda maldita vez que olhava para o visor, via mais uma chamada não-atendida da Marina e me sentia uma amiga de merda. Não estava em condições de atender.

Enfiei a testa na lateral do galão de água, apertando-a contra aquele plástico azul para ver se eu conseguia sumir do planeta. Nada. Então abri os olhos e o movimento denso da água ali dentro me deu ânsia, de novo. Que bosta. Me sentia mal fisicamente, mas também me sentia um lixo de pessoa. Eu sabia – sabia – que a bad ia passar. Uma hora ou outra, aquele sentimento autodestrutivo de eu-não-faço-porra-nenhuma-decente-com-a-minha-vida ia desaparecer e ser substituído por alguma forma qualquer de anestesia, de catatonia.

Contudo – e eu tinha uma certeza terrível disso –, a droga do enjoo e aquela fraqueza insuportável não iam me abandonar tão cedo. Ahh, não, não... Eu ia me sentir doente pelo resto do dia e, pior, seria obrigada a manter os meus olhos abertos durante cada minuto de merda das próximas horas. Mas eu sou uma imbecil mesmo, eu enchi o sexto copo d’água e tive vontade de chorar, por que diabos eu apareci nessa porra?! Argh. Minha cabeça se comprimia, doendo dentro de si, e minhas pernas imploravam para que eu parasse de forçá-las em pé no chão. É, como eu disse, estava num estado deplorável.

E o dia levou uma eternidade excruciante para passar. Cada olhada no relógio me indicava o quão longe eu ainda estava da reta final – e eu lidei com isso da pior maneira possível, evidentemente. Quando, enfim, o ponteiro alcançou as 18 horas, me arrastei da cadeira onde eu estava até a recepção do estúdio com um entusiasmo nada aparente e me pus a caminho de casa. Me sentia como uma zumbi.

Pensei em ligar para a Marina, retornar as ligações, mas não tinha a mínima vontade de fazer qualquer esforço mental. Ela perguntaria o que eu queria na tarde de quinta e eu teria que contar da Mia e do Fer e ia ser um porre. Sem contar que ela vai falar daquela Bia, certeza, e de como elas estão bem e como reataram e que agora estão namorando e que o sexo foi ótimo e que elas vão casar e ter filhinhos e uma casinha no campo e serem felizes para sempre, reclamei para mim mesma sentada no metrô, e eu não quero ter que ouvir essa merda. Saí da estação da Consolação mais rabugenta do que nunca.

Fumei um último cigarro, enquanto caminhava até meu prédio, tomada por um sono violento. A Frei Caneca nunca me pareceu tão longa e inclinada quanto naquele momento. Passo por passo, com um certo esforço, eu procurava não tropeçar em mim mesma. Até que não seria má ideia, sei lá, de repente ir rolando até lá embaixo. Argh. Tirei o lenço palestino do pescoço – essa merda tá me sufocando – e senti um alívio em ter o vento correndo na minha pele. Agora não tinha nenhum colega de trabalho engraçadinho para me encher o saco sobre os chupões. Lembrei da Isa, do nada, por um instante. Devia ter feito ela parar, pensei, sem fazer muito sentido comigo mesma, e joguei o cigarro na sarjeta.

Virei a maçaneta. Chegar inteira em casa era quase um triunfo. Dei dois ou três passos para frente e capotei de qualquer jeito no sofá da sala. Com a cara afundada naquele estofado azul marinho, delicioso. Larguei as chaves no chão e minha mão permaneceu pendurada ali mesmo. Aquele foi o último som que ouvi antes de cair em sono profundo, o do meu chaveiro contra o nosso piso de madeira. Depois disso, toneladas e toneladas de ar – ou seja lá o que fosse – pareciam me pressionar, agradavelmente, me afundando naquele tecido grosso. Apaguei.
 
E apaguei mesmo – nenhum sonho, nenhuma ajeitada de corpo ou tirada de cabelo sobre a cara. Blackout instantâneo.

8 comentários:

Milk :D disse...

noooossa, que bad. Eu não teria aguentado um dia de trabalho nessa situação não, hein. hahaha. Ameeei ♥

Amanda disse...

A cada vez que o nome Marina aparece meus olhinhos brilham aqui. Tira essa mulher dessa história e manda ela pra minha vida! :(

PS: Essa semana, enquanto eu lia outras "webs", eu percebi o quanto Fucking Mia é incomparavelmente melhor que qualquer outra e que tu escreves bem pra caralho! Parabéns :)

Anônimo disse...

Marina é atitude, é high quality.
Mas antes, eu queria que a THFG desse a volta por cima, por sim mesma. Que não fugisse pra MArina. Marina é legal, não quero que ela pegue uma TGFM toda fodida rsrs

Monica disse...

seii q o comentário eh estranho mas...


este post tá super existencialista

a caaaaaaara de O estrangeiro do Camus...


falar em qualidade eh pouco pra vc hein, Mel!

Parabéns

BGS

R. disse...

blackouts de exaustão não são nada legais .-.

eu passo por eles de vez em quando :/

e oq tanto a marina queria?

Marina disse...

Ganhei a aposta cmg mesma na qual eu dizia que as ligações eram da Marina *_*
Agora eu já nem lembro se foi escrito o nome da loira no outro post ou não...
Tudo tem um lado bom... a FM não reclama de noites mal dormidas, pronto! Dormiu sem problema algum uashuahsuas

Anônimo disse...

Quase senti a ressaca dela aqui em casa!! Você escreve MUITO bem!!

A FM tinha que ficar com a marina e parar de sofrer com a Mia #teammarina

Ludi disse...

Ohh .. ressaca desgraçada hein ..rs' ... Saudade desse Blog.Meses sem acesso e a unica coisa que lamentei foi nao acompanhar o blog.