Idiooota, eu me
pendurava no galão de água, sofrendo com a minha própria estupidez. Sozinha na
cozinha do estúdio, aquele fracasso em plena sexta-feira de manhã. Mas como
eu sou idiota, cara. Olhei o ambiente em volta, completamente enjoada. Não
me sentia tão mal assim há tempos – e olha que eu me esforçava.
A falsa impressão de que eu conseguiria aguentar o tranco,
alimentada pela arrogância de quem tinha bebido e cheirado mais do que devia,
rapidamente se transformou em uma bad fenomenal. Como já era de se
esperar, toda minha disposição de horas antes foi para o espaço. Virada há dois
dias, o meu estado atual era deplorável.
Que imbecil, mano, eu me condenava,
odiando cada neurônio burro dentro da minha cabeça oca, inconsequente, acorrentada
ao trabalho e com o expediente todo ainda por vir.
Quinto copo de água. O café estava me embrulhando o estômago e
agravando uma dor aguda de cabeça. Não, fora de cogitação. Tudo
se misturava na minha barriga e eu sentia cada gota de líquido ingerido naquela
manhã e na noite anterior rodando dentro de mim, como numa máquina de lavar
roupas. E a cada volta, me dava uma vontade desgraçada de vomitar. Peguei o
celular, na esperança de já terem se passado ao menos cinco minutos. Mas, como
se já não me sentisse mal o suficiente, toda maldita vez que olhava para o
visor, via mais uma chamada não-atendida da Marina e me sentia uma amiga de
merda. Não estava em condições de atender.
Enfiei a testa na lateral do galão de água, apertando-a contra
aquele plástico azul para ver se eu conseguia magicamente sumir do planeta. Mas,
nada. Abri então os olhos e o
movimento denso da água ali dentro me deu ânsia, de novo. Bosta. Me sentia mal fisicamente, mas também me sentia um lixo de
pessoa. Como se minha vida inteira fosse um grande erro. E eu sabia – sabia
– que a bad ia passar. Uma hora ou
outra, aquele sentimento autodestrutivo ia desaparecer, o eu-não-faço-porra-nenhuma-direito
seria substituído pela anestesia. Catatonia. Contudo, e eu tinha uma
certeza terrível disso também, aquele enjoo e fraqueza insuportáveis não
iam me abandonar tão cedo. Ahh, não,
não... Eu ia me sentir doente pelo resto do dia e, pior, seria obrigada a
manter os olhos abertos durante cada minuto de merda das próximas horas.
Eu sou uma
imbecil mesmo, enchi o sexto copo d’água e tive vontade de chorar, por que diabos eu apareci nessa porra?! Argh.
Era quase melhor ser demitida de vez. Minha cabeça se comprimia, doendo dentro
de si, e minhas pernas imploravam para que eu parasse de forçá-las em pé no
chão. É, como eu disse, estava num estado deplorável.
O dia levou uma eternidade excruciante para passar. Cada olhada no
relógio me indicava o quão longe eu ainda estava da reta final – e eu lidei com
isso da pior maneira possível. Em perpétua autocomiseração. Quando, por fim, o
ponteiro alcançou as 18 horas, me arrastei da cadeira onde estava até a
recepção do estúdio com um entusiasmo nada aparente e me pus a caminho de casa.
Como uma zumbi.
Pensei em ligar para a Marina, retornar as ligações, mas não tinha
a mínima vontade de fazer qualquer esforço mental. Ou emocional. Ela
perguntaria o que eu queria na tarde de quinta e eu teria que contar da Mia e
do Fer e eu não estava em condições. Sem
contar que ela vai falar daquela Bia e de como elas estão bem e como reataram e
que agora estão namorando e que o sexo foi ótimo e que elas vão casar e ter
filhinhos e uma casinha no campo e serem felizes para sempre, tenho certeza,
reclamei para mim mesma sentada no metrô,
e eu não quero ter que ouvir essa merda. Ia ser um porre.
Saí da estação da Consolação mais rabugenta do que nunca. Fumei um
último cigarro, enquanto caminhava até meu prédio, lutando contra um sono
violento. A Frei Caneca nunca me pareceu tão longa e inclinada quanto naquele
momento. Passo por passo, com um certo esforço, eu procurava não tropeçar em
mim mesma. Até que não seria má ideia, de
repente, ir rolando até lá embaixo. Tirei o lenço palestino do pescoço – essa
merda tá me sufocando, argh – e senti um alívio em ter o vento correndo na
minha pele. Agora não tinha nenhum colega de trabalho engraçadinho para me
encher o saco sobre os chupões. Meu pescoço parecia um campo minado. Lembrei da
Isa, do nada, por um instante. Devia ter
feito ela parar, pensei, sem fazer muito sentido comigo mesma, e joguei o
cigarro na sarjeta.
Portão. Elevador. Corredor. Porta. Virei a maçaneta. Chegar inteira em casa era quase um
triunfo. Dei dois ou três passos para frente e capotei de qualquer jeito no
sofá da sala. Com a cara afundada naquele estofado azul marinho macio. Larguei
as chaves no chão e minha mão permaneceu pendurada ali mesmo. Aquele foi o
último som que ouvi antes de cair em sono profundo, o do meu chaveiro contra o piso
de madeira. Toneladas e toneladas de ar pareciam me pressionar para baixo, me
afundando naquele tecido grosso. Apaguei. E apaguei mesmo – nenhum sonho,
nenhuma ajeitada de corpo ou tirada de cabelo sobre a cara. Blackout.
8 comentários:
noooossa, que bad. Eu não teria aguentado um dia de trabalho nessa situação não, hein. hahaha. Ameeei ♥
A cada vez que o nome Marina aparece meus olhinhos brilham aqui. Tira essa mulher dessa história e manda ela pra minha vida! :(
PS: Essa semana, enquanto eu lia outras "webs", eu percebi o quanto Fucking Mia é incomparavelmente melhor que qualquer outra e que tu escreves bem pra caralho! Parabéns :)
Marina é atitude, é high quality.
Mas antes, eu queria que a THFG desse a volta por cima, por sim mesma. Que não fugisse pra MArina. Marina é legal, não quero que ela pegue uma TGFM toda fodida rsrs
seii q o comentário eh estranho mas...
este post tá super existencialista
a caaaaaaara de O estrangeiro do Camus...
falar em qualidade eh pouco pra vc hein, Mel!
Parabéns
BGS
blackouts de exaustão não são nada legais .-.
eu passo por eles de vez em quando :/
e oq tanto a marina queria?
Ganhei a aposta cmg mesma na qual eu dizia que as ligações eram da Marina *_*
Agora eu já nem lembro se foi escrito o nome da loira no outro post ou não...
Tudo tem um lado bom... a FM não reclama de noites mal dormidas, pronto! Dormiu sem problema algum uashuahsuas
Quase senti a ressaca dela aqui em casa!! Você escreve MUITO bem!!
A FM tinha que ficar com a marina e parar de sofrer com a Mia #teammarina
Ohh .. ressaca desgraçada hein ..rs' ... Saudade desse Blog.Meses sem acesso e a unica coisa que lamentei foi nao acompanhar o blog.
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