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fevereiro 03, 2011

Sintaxe complicada

“Ei...”, comecei a escrever no celular e me contive. Não queria me intrometer, o assunto era deles. Não podia fazer isso, sair surtando por causa de meias palavras ditas num café-da-manhã – mas, droga, como não?
 
O nome da Mia aguardava no campo do destinatário, acima da mensagem quase vazia. E a porra da ansiedade me tomava a cabeça, o corpo. Sentada à beira da cama, com a mesma regata amassada de dormir e os cabelos bagunçados, os olhos fixos no seu nome na tela – judiando cruelmente dos meus lábios, nervosa.
 
Merda.
 
Tornei a digitar, sentindo uma necessidade desesperada de tomar alguma atitude, de fazer qualquer coisa a respeito. Argh. Precisava completar a frase, as reticências imploravam por alguma verdade minha – “eu te amo”. Essa era a verdade. Mas, não. Olhei aquelas três palavras digitadas e as apaguei imediatamente, num impulso covarde. Inferno. Me sentia exposta, exposta demais – me declarar assim me deixava mais insegura do que eu era capaz de suportar. Respirei fundo e encarei o meu quarto, as roupas jogadas pelo chão e o samba-canção do Fer, agora largado ao meu lado, no colchão.
 
Diz alguma coisa, imbecil... Cê precisa dizer alguma coisa. E naquele momento, qualquer frase pronta serviria – “mal posso esperar para te ver de novo”. Não. “Gosto tanto de você”. Não, também não é isso. Não era nada daquilo. Argh, como eu odiava não poder dizer que não-quero-que-você-fique-com-ele, pedir para que ficasse comigo. Que pensasse em mim, porra, até aquele dia acabar. em mim. Que deixasse o resto do mundo para lá, esquecesse os horários marcados e a conversa e o namorado, que fosse minha e não dele.
 
Mas... não posso. Pedir assim me parecia hipocrisia. Pois é, hipocrisia. Porque antes de nós duas, existiam eles dois – e eu sempre soube. Não podia sequer fingir o contrário, já que dormia ao lado da porra da evidência. Desgraça. Os minutos se esticavam, aumentando, rodando no pequeno relógio no canto direito da tela. O Fer já tinha deixado o apartamento há algum tempo e eu restava ali, com o estômago embrulhado, sofrendo por antecipação. Pela tarde que sequer acontecera ainda. Tentei forçar um pouco de coerência goela abaixo, não entrei nessa sem saber. As minhas mãos podiam, sim, estar amarradas desde o começo – mas os meus olhos sempre estiveram abertos. E eu sabia. Sempre soube. Não me cabia agora pedir o contrário dela, da vida dela.
 
Então fica quieta, caralho.
 
Passei a mão na boca, no queixo. E a desci pelo pescoço, tentando controlar um nervosismo descabido. Sequer sabia no que aquela conversa ia dar. Talvez o Fer não a conhecesse assim tão bem – certamente não a conhecia como eu. Mas mal me aguentava, sentada ali e impotente, desejando que as coisas fossem diferentes. Que ela não precisasse sequer se encontrar com ele. “Vc ñ sai da minha cabeça”, digitei. E num gesto impensado, idiota, enviei. No segundo seguinte, claro, me bateu um desespero. Merda, o que foi mesmo que eu escrevi?, tentei lembrar ao ver, piscando na tela, uma mensagem automática – “envio concluído com sucesso”.
 
Entrei, apressada, na caixa de saída e reli a frase. Tá. Aquilo me tranquilizou, não tinha sido tão ruim assim. Agora já chega, respirei fundo mais uma vez e larguei o celular na cama, decidida a ir trabalhar. Preciso achar outra cueca.

19 comentários:

Looop disse...

Hehhehe, chegou Mel salvando a noite!!
PARABÉNS...O post ta LINDO e o blog viciante!!!

Letícia disse...

cada dia me apaixono mais plelo seu blog, *-*

Nah disse...

dói mto gostar e não poder demonstrar..brilhante o post Mel ;)

Ma disse...

'Merda, o que foi mesmo que eu escrevi?!'
HAHAH bem nessas! Quero undo msg! Já! :(

Lindiiinho dilema de envia num envia! hahahaha
Mais um perfeito, Mel! *-*

Anônimo disse...

Pqp..tô na frente do celular..nesse dilema. e detalhe PELA PRIMEIRA VEZ tô no msm papel que a mia..de ficar com mina de amigo.

Anônimo disse...

Olha.. nem precisei ser paciente. Tu foi mais rápida com o novo post.
Sem palavras para descrever o quanto é ótimo.
Valeu! ;)

Monica disse...

aiaii

soh consigo me lembrar de Mr Brightside *-*

Anônimo disse...

velho, esse lance da FM ser meio que "a outra", ter certeza disso e não ter coragem alguma de sair dessa posição me lembra de uma época da minha vida em que rolou algo muito igual... e confesso que foi uma das melhores épocas da minha vida, nostalgia bateu com tudo aqui haha

enfim, mais um post excelente, parabéns Mel ♥

Marina disse...

FM é mto suscetível a qqr coisa q envolva a Mia #arg

Andrea de Lima disse...

essa cena me fez pensar numa coisa: como é a depilação da FM? hahahahaha! conta mais :D

Anônimo disse...

Concordo com a Monica

Ianca' disse...

A arte sapatão de enviar sms *-*
cada detalhe descrito me prende mais nesse blog sensacional!

Cintia disse...

Nossa comecei a ler recentemente, mas devoro tanto o teu blog que já reli outra vez do começo só enquanto esperava por posts novos HSIUAHS Numa curiosidade imensa de saber o que iria acontecer! Parabéns você escreve perfeitamente bem!

Anônimo disse...

Andrea de Lima : hahah tb tenho curiosidade de como a Mel imagina que seja haha
Mas sei lá, ela não tem cara de quem vai em salão HAHA eu imagino como tipo beeeem aparado e acertado dos lados.

Diddy Black disse...

"O nome da Mia figurava no campo do destinatário."

Passei só pra registrar sua criatividade literária total .-.

Hahaha, loucura neh XD
Bjos

Andrea de Lima disse...

é, eu penso numa depilação tipo assim mesmo. nada tãoooo depilado, mas sem aparecer nos cantos da calcinha. ai, meu, broxei com o que eu falei agora, hahahahahaha!

Pathy disse...

Porra, só eu tô lendo o post HOJE???
tem que ver isso aí em Mel!! huahauahua

E como sempre, SEnsacional!!

Amoo

Anônimo disse...

Hahahah realmente broxante ter que descrever a depilação que eu imagino que a FM tenha hahaha
Meeeel, quando tem mais? abstinência já meeu ! haha

Ana disse...

Melzinha, não faz a gente esperar tudo isso! :( Olha, eu sinceramente acho que vc devia lançar um livro.