“Eei...”,
comecei a escrever no celular e logo me contive. Não queria me intrometer, o
assunto era deles. Não podia sair surtando com meias palavras ditas num café-da-manhã
– mas, droga, como era difícil evitar.
O nome da
Mia aguardava no campo do destinatário, acima da mensagem quase vazia. E a porra
da ansiedade me tomava a cabeça, o corpo. Sentada à beira da cama, toda nua da
cintura para baixo, com a mesma regata amassada de dormir e os cabelos bagunçados,
os olhos fixos no seu nome na tela – judiando cruelmente dos meus lábios, nervosa.
Merda.
Tornei a digitar, sentindo uma necessidade desesperada de tomar alguma atitude,
agir, fazer qualquer coisa a respeito. Argh. Precisava completar a
frase, as reticências imploravam por alguma verdade minha – “eu te amo”. Não. Assim que olhei as palavras digitadas,
as apaguei imediatamente, num impulso covarde e previsível. Inferno. Me sentia exposta, exposta
demais – me declarar assim me deixava mais insegura do que eu conseguia aguentar.
Então, voltei atrás. Respirei fundo e encarei o meu quarto, as roupas jogadas
pelo chão e o samba-canção do Fer, agora largado ao meu lado, no colchão. Diz alguma coisa, imbecil... Cê precisa dizer
alguma coisa.
E naquele
momento, qualquer frase pronta serviria – “mal posso esperar para te ver de
novo”. Não. “Gosto tanto de você”. Não, também não é isso. Não era nada daquilo.
Argh, como eu odiava não poder dizer um
simples não-quero-que-você-fique-com-ele, como queria poder pedir para que
ficasse comigo. Que pensasse em mim, porra, até aquele dia acabar – e só em mim.
Que deixasse o resto do mundo para lá, esquecesse os horários marcados e a conversa
e o namorado, que fosse minha e não dele, naquela quarta-feira.
Mas não posso.
Pedir,
assim, me parecia hipocrisia. Pois é, hipocrisia. Porque antes de nós duas, existiam eles dois – e eu sempre soube. Não
podia sequer fingir o contrário, já que dormia ao lado da porra da evidência. Desgraça.
Os minutos
se esticavam, aumentando, rodando no pequeno relógio que ficava no canto direito
da tela. O Fer já tinha deixado o apartamento há algum tempo e eu restava ali,
com o estômago embrulhado, sofrendo por antecipação. Antecipação por uma tarde
que sequer acontecera ainda. Não entrei
nessa sem saber, suspirei, forçando coerência goela abaixo. As minhas mãos
podiam, sim, desde o começo, estar amarradas – mas os meus olhos sempre estiveram
abertos. E eu sabia. Sempre soube. Não me cabia agora pedir o contrário
dela, da vida dela.
Então fica quieta, caralho.
Passei a
mão na boca, no queixo, e a desci pelo pescoço, tentando controlar o meu
nervosismo descabido. Mal me aguentava, sentada ali. Impotente, desejando que as
coisas fossem diferentes, que ela não precisasse ir se encontrar com ele. “Tô pensando
tanto em vc, meu”, digitei. E num gesto impensado, idiota, enviei. Aí no
segundo seguinte, claro, me bateu um desespero. Merda, o que foi mesmo que eu escrevi?, tentei lembrar ao ver,
piscando na tela, uma mensagem automática – “envio concluído com sucesso”.
Entrei, apressada, na caixa de saída e reli a frase. Tá. Aquilo me tranquilizou, não tinha sido tão ruim assim. Agora já chega, respirei fundo mais uma
vez e larguei o celular na cama, decidida a ir trabalhar.
Preciso de uma cueca.
19 comentários:
Hehhehe, chegou Mel salvando a noite!!
PARABÉNS...O post ta LINDO e o blog viciante!!!
cada dia me apaixono mais plelo seu blog, *-*
dói mto gostar e não poder demonstrar..brilhante o post Mel ;)
'Merda, o que foi mesmo que eu escrevi?!'
HAHAH bem nessas! Quero undo msg! Já! :(
Lindiiinho dilema de envia num envia! hahahaha
Mais um perfeito, Mel! *-*
Pqp..tô na frente do celular..nesse dilema. e detalhe PELA PRIMEIRA VEZ tô no msm papel que a mia..de ficar com mina de amigo.
Olha.. nem precisei ser paciente. Tu foi mais rápida com o novo post.
Sem palavras para descrever o quanto é ótimo.
Valeu! ;)
aiaii
soh consigo me lembrar de Mr Brightside *-*
velho, esse lance da FM ser meio que "a outra", ter certeza disso e não ter coragem alguma de sair dessa posição me lembra de uma época da minha vida em que rolou algo muito igual... e confesso que foi uma das melhores épocas da minha vida, nostalgia bateu com tudo aqui haha
enfim, mais um post excelente, parabéns Mel ♥
FM é mto suscetível a qqr coisa q envolva a Mia #arg
essa cena me fez pensar numa coisa: como é a depilação da FM? hahahahaha! conta mais :D
Concordo com a Monica
A arte sapatão de enviar sms *-*
cada detalhe descrito me prende mais nesse blog sensacional!
Nossa comecei a ler recentemente, mas devoro tanto o teu blog que já reli outra vez do começo só enquanto esperava por posts novos HSIUAHS Numa curiosidade imensa de saber o que iria acontecer! Parabéns você escreve perfeitamente bem!
Andrea de Lima : hahah tb tenho curiosidade de como a Mel imagina que seja haha
Mas sei lá, ela não tem cara de quem vai em salão HAHA eu imagino como tipo beeeem aparado e acertado dos lados.
"O nome da Mia figurava no campo do destinatário."
Passei só pra registrar sua criatividade literária total .-.
Hahaha, loucura neh XD
Bjos
é, eu penso numa depilação tipo assim mesmo. nada tãoooo depilado, mas sem aparecer nos cantos da calcinha. ai, meu, broxei com o que eu falei agora, hahahahahaha!
Porra, só eu tô lendo o post HOJE???
tem que ver isso aí em Mel!! huahauahua
E como sempre, SEnsacional!!
Amoo
Hahahah realmente broxante ter que descrever a depilação que eu imagino que a FM tenha hahaha
Meeeel, quando tem mais? abstinência já meeu ! haha
Melzinha, não faz a gente esperar tudo isso! :( Olha, eu sinceramente acho que vc devia lançar um livro.
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