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janeiro 15, 2012

Alvo fácil

Desci em frente ao predinho baixo em que a Clara morava, nas redondezas do Viga, na Capote Valente. A minha orelha já estava quente de tanto ser azucrinada pela Marina – a pentelha foi o trajeto todo me zombando incessantemente. Argh, como se fosse grande coisa nos vermos pela terceira noite seguida. Quê que tem?! Corri do carro até o portão e toquei o interfone, debaixo duma chuva fria. A Marina logo saiu em direção à Heitor Penteado, provavelmente ainda rindo. E em menos de um minuto eu já estava subindo as escadas do prédio, com as roupas levemente molhadas.
 
Como se tivesse me escutado chegar, assim que pisei no seu andar, a Clara abriu a porta do seu apartamento. Sorri na mesma hora. E ela se colocou no caminho, bloqueando a minha entrada com uma mão em cada batente.
 
_Então quer dizer... – conteve o riso, se divertindo – ...que cê não aguentou de saudade?
_Cala a boca... – ri.
_Admite, vai, que não durou nem 24 horas longe de mim...
_Olha, cê não começa, hein?
 
Tentei passar e ela me impediu, com a mão na minha barriga. Estava com as pernas de fora num shortinho de algodão, descalça e com uma blusa de dormir, o cabelo preso num rabo alto. Puta merda, como você é linda, pensei. Linda e, ali, me barrando no meio do corredor do seu prédio às 23:51 duma segunda-feira. Fala sério.
 
_Diz, vai? – me puxou pela barra da camiseta, fazendo chacota de mim – Fala que precisaaaava me ver e que toooda aquela amargura na sua casa era sóóóó fachada, num era? – balancei a cabeça e ri, indignada, conforme ela miava– Diiiiiiiz, vai. Diz que, na verdaaaade, você me aaaama e não conseeeegue mais dormir sem miiiim...
_Escuta, cê vai me deixar entrar ou não?
_Vou, mas primeiro você tem que dizer. Admiiiite que quer ser a mããããe dos meus fiiiilhos... – continuou me zombando – ...e que vai molhar minhas plantas sempre que eu for viajaaaar? Que vai cuid...
_Deixa eu entrar, Clara – a interrompi, rindo.
_Deeeixo, deixo... – ela sorriu, com as mãos agarradas na minha camiseta molhada – ...só fala rapidiiiinho, vai, que quer casaaaar e ficar velhiiiiinha junto comigo...
_Tá, já chega. Eu vou embora!
 
Me virei, fazendo graça, e ela me segurou pela mão na mesma hora.
 
_Não! – riu, me puxando de novo para si – Vem cá!
_Ah, então agora eu posso entrar?
 
Ri junto. E ela colou a boca na minha, num beijo meio desajeitado, aos risos, conforme nossos pés deslizavam intuitivamente para dentro do seu apartamento.

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