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fevereiro 23, 2012

Despertando, de novo

Minha cabeça doía. Meus olhos se forçavam a ficar fechados, mas a luz do sol invadia violentamente o cômodo todo. Desgraça. Não tinha dormido nem cinco horas e o meu corpo sentia o estrago em cada músculo. Ouvi uns passos arrastados no fim do corredor, depois atrás do sofá. E abri os olhos com certo custo, colocando o antebraço sobre a testa para tentar bloquear a luz. Argh. O Fer estava parado ali, destruído, com umas olheiras fundas e a pior cara de ressaca que já vi.
 
_Mano... – murmurou, confuso – ...cê viu se a Mia passou aí, mais cedo?
 
Devia estar indo atrás dela depois de acordar sozinho, desavisado, horas depois de toda a comoção.
 
_Ela tá no meu quarto, Fer.
_Tá? – esfregou os olhos, com uma aparência horrível.
_Tá. Eu encontrei ela caída no banheiro de madrugada, te chamei várias vezes, meu – resmunguei – Ela tava mal pra caralho – senti minha cabeça doer ainda mais e o olhei parado ali, em pé atrás do sofá – Tomar no cu você também, hein, cê não me ouviu?!?
_Não, meu. Não ouvi nada! Ela tá bem???
_Tá. Tava bêbada só – me sentei, desconfortável – Vomitou umas vezes, troquei a roupa dela e ela capotou na minha cama.
_Eita. Vou ver se ela t...
_Não... – o interrompi – ...deixa ela dormir, meu.
_A, a gente encheu a cara ontem, mano...
 
Ah, cê jura.
 
_...mas num sabia que, que tinha sido tão, sei lá... – ele passou a mão na nuca, preocupado – ...e-ela, ela parecia bem quando a gente foi dormir, mano, mas que... q-que merda! Caralho.
_Tá tudo bem, Fer.
_E cê dormiu aí, meu? – lamentou – Porra, muito zoado. Desculpa... Temos que ir almoçar em algum lugar da hora hoje pra compensar!
_Não, meu. Deixa.
_Mas a gente não vai comemorar seu aniversário, pô?
_Acho que vou lá pra Clara...
_Hum. Aí fica complicado, né...
_Como assim?
_De competir... – ele riu, fazendo graça – ...com essa comemoração sua aí.
_Cala a boca!
 
Me levantei e passei por cima do encosto do sofá, rindo, dando um tapa atrás da cabeça do Fer. E então nos separamos – ele foi para a cozinha e eu fui até o meu quarto. Entrei tentando não fazer barulho. A Mia continuava dormindo na cama, apagada. Caminhei até o armário e abri uma das gavetas cuidadosamente, pegando uma cueca e a vestindo em silêncio. Daí troquei de camiseta e coloquei uma bermuda. Depois alcancei um moletom na prateleira de cima.
 
Assim que o vesti, passei a mão pelo meu cabelo bagunçado e observei a Mia, por um instante. Era estranho vê-la ali. Na minha cama. Dormia afundada no meu travesseiro, sequer conseguia ver o seu rosto, e estava com a minha camiseta dos Stooges. Meti as mãos nos bolsos do moletom, a olhando dormir. Tinha as pernas tatuadas meio descobertas pelo lençol. Respirei fundo. Me sentindo estranha, por um segundo.
 
E aí saí.

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