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fevereiro 25, 2012

E o capeta

_Relaxa... – balancei a cabeça e aí olhei para o que quer que fosse que a Mia estava tomando, achando certa graça – ...mas cê num acha que devia pegar leve, não?
_Isso?
_É.
_Ah, meu... – riu – ...tá tranquilo.
_Sei. O que tem aí nesse copo, afinal?
_Num faço ideia.
_Jesus... – passei a mão no rosto e comecei a rir também – ...puta merda, Mia.
_Quê?!
_Nada...
_Hum. E você, não tá bebendo por quê? – achou graça – Agora só te vejo aí tomando água, cervejinha...
_Ah, sei lá. Eu tava fazendo muita merda. Aí prometi para a Marina que ia dar uma trégua...
_Hum, sei.
 
A Mia arqueou as sobrancelhas na menor menção à sua arqui-inimiga, e nós rimos. Como uma piada antiga. Era gostoso estar ali com ela, assim, sem drama. Me fazia sentir que havia alguma forma de deixar tudo aquilo para trás, algum dia – que o tempo ia passar e que algumas coisas inevitavelmente deixariam de ser importantes. Sei lá. A Mia deu mais um trago e me ofereceu, enquanto as caixas de som estouravam qualquer banda punk latino-americana. Peguei o cigarro da sua mão e levei à minha boca por um momento, numa tragada rápida, o devolvendo logo depois.
 
_Bom... – ela segurou o filtro entre os dedos e me olhou, se divertindo, numa referência mais a si mesma que a mim – ...pelo menos, cê não dá vexame por aí, né.
_Que vexame, meu? – a provoquei – Adoro que vomitem na minha mão.
_Argh... – riu, colocando a mão no rosto rapidamente – D-desculpa.
_Tranquila. Já tô acostumada... – achei graça – Já cuidei de tanto bêbado que, puta merda.
_Dei muito trabalho?
_Não. Só a hora que te coloquei no chuveiro que, mano, jurei que cê ia cair. Cê num tava conseguindo ficar em pé, meu. Foi foda. E assim, né, depois de trabalhar o dia inteiro, não é como se eu tivesse muito animada para tomar banho gelado... Mas acontece, né?
_Hum... – ela tragou mais uma vez, com um sorriso de canto de boca, encarando meus olhos – ...é.
_Quê?
_Nada. Só que... sei lá, e-essa parte eu queria lembrar mais.
_Ah, queria?! – ri – Foi bom pra você, então?
 
Falei brincando. Todavia, a Mia ergueu o queixo, me observando de volta. E soltou a fumaça para cima, enquanto a minha pergunta pairava no ar sobre nós duas, solta. Sem resposta. E eu juro – juro – que se não tivéssemos cercadas por tantos amigos do Fer naquela porra daquele inferninho, ela tinha vindo. Tinha colado o corpo no meu, tinha me beijado como se o tempo não tivesse passado um só dia. Cacete. Mas aí alguém passou entre nós, entrando na cozinha. E ela se controlou, por mero contexto. Observando a minha boca, com a sua entreaberta.
 
E depois de encarar o perigo de frente por um instante, nos seus olhos, abaixei os meus – encerrando o que quer que fosse aquilo antes que começasse.
 
_Acho que... – desconversei – ...v-vou achar o Benatti, ainda não falei com ele. Vamos ver, né... – forcei uma piadinha, me virando para ir para a sala – ...se ele já largou do saco do seu namorado.

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