Trocou o CD que tocava no rádio, caminhando de volta para a cama
sem roupa, desinibida. Cómo decir que me
parte en mil…, a cantora sussurrou e a Clara se deitou diante de mim no
colchão, com os braços largados sobre a cabeça, ...las esquinitas de mis huesos. Os contornos e desníveis em sua
cintura, sua barriga, suas pernas enlaçadas formavam sombras sutis no decorrer
da sua pele. E a desenhavam no escuro daquele quarto pequeno e constantemente
bagunçado nos arredores da Sumaré.
As horas passavam despercebidas ali. Suas paredes eram repletas de
fotos e recortes e tachinhas e fitas e uns panos improvisados, pendurados como
decoração. Numa prateleira, no canto, tinha todo tipo de tralha e umas pedras que
a Clara pegou de diferentes lugares em suas viagens por aí. O frio incomodava toda
vez que eu me mexia para fora dos lençóis sobrepostos, meio amassados, e
parecia me impedir de sair dali. Quatro paredes e meio arapuca, entende?
Então eu ficava.
E as horas passavam. Enquanto nós dançávamos nuas, fumávamos
baseados e conversávamos, à toa. Eu procurava por ela, minuto atrás de minuto,
na ponta dos meus dedos, os deslizando pelo seu corpo. Nunca, nunca assim. Sexo nunca fora assim. Tão fácil, tão
instintivo. O rádio continuou – …que han caído los esquemas de mi vida. E era um perigo que fôssemos eu e ela ali,
naquela cama, em nossas ausências compulsivas de limite. Mas nos arriscávamos
com gosto, nos insinuando, brincando de chefe uma com a outra. E eu, que interpretava a mim mesma,
ia junto com ela sem resistência, encantada, a observando assumir as mais
lindas formas a minha frente.
…ahora que todo
era perfecto.
A música me lembrava o seu jeito, os seus caminhos. Nunca tinha
escutado antes. A Clara a cantarolava para si mesma, movendo os lábios em
silêncio, esparramada sobre colchão. E eu tinha vontade de estar perto dela, de
novo – numa saudade dessas que não dão trégua, de encostar a minha pele na sua.
Deslizei o pé até onde seus braços estavam, tocando-a de relance. E ela, afundada
nos lençóis, me olhou por detrás deles. Eu sorri. E a Clara entendeu – ela
costumava dizer que eu tinha cara de pilantra. Mas num é pilantragem,
garota, é vontade de você.
Virou o corpo e se levantou, num movimento fluido. Me olhou de
volta, enquanto a música continuava ao fundo. “Me cuesta abrir los ojos...”, ela pronunciou então, acompanhando a
letra, e sorriu. Quem tem cara de pilantra agora?, a observei a certa
distância, sentada contra a cabeceira da cama. Escorregou as mãos nos lençóis e
foi se aproximando, engatinhando pelo colchão na minha direção. Sem pressa,
lentamente. Enquanto as palavras saíam da sua boca – “y lo hago poco a poco,
no sea que aún te encuentre cerca”.
E eu sorri, admirada pela forma como as dizia, ainda que não entendesse tudo, sem
conseguir tirar os olhos dela.
Me desconcertava vê-la cantar assim, para mim, com os fios de
cabelo deslizando pelos seus braços, sem roupa alguma. Cacete. Sentia o
meio das minhas pernas molhar só pelos centímetros de antecipação entre nós. O quarto
era iluminado somente por um abajur, largado ao lado da cama e coberto de
qualquer jeito por um lenço vermelho. “Me guardo tu recuerdo...”, ela continuou, “...como
el mejor secreto”. Meio fazendo graça, meio me fodendo a cabeça. Sentia
uma estranheza presa dentro de mim. Como se, de repente, o errado me parecesse certo
demais.
E a Clara veio. Como vinha vindo. Subiu no meu colo e
escorregou as pernas nas minhas – com uma de cada lado e as minhas mãos
invariavelmente nela, a segurando, como se fosse parte da nossa natureza. Esbarrou
a lateral do rosto no meu, de leve, quase que dançando ali comigo. Com os meus
sentidos, as minhas intenções. Pouco a pouco. Me provocando em cada movimento
do seu quadril. Até dizer baixinho no meu ouvido: “...que dulce fue tenerte dentro”.
Estremeci.
Puta merda. Senti um calor tomar o meu corpo todo e
respirei fundo, fechando os olhos. Num tesão na sua voz, na maneira que
pronunciava aquelas palavras. Na sua língua enrolando pelas letras. Tudo. Tudo
nela. Tudo naquela porra de garota ia me inebriando. Filha-da-mãe. A sua boca se demorou pela minha orelha, até a
pontinha, e foi indo, vindo pelo meu queixo. E descendo. Mais. Sentia a sua
pele quente contra a minha. Os seus dedos agarravam as laterais da minha cueca e
as escorregavam pelas minhas pernas.
“En esta oscuridad...”, cantou, indecente. E foi me
tirando tudo, a roupa, o fôlego, o sério, aos poucos. A cada segundo mais do
que o anterior. Sua boca percorria a minha barriga, me lambendo, sussurrando
para cada poro – “...para prestarme calma”. Suspirei. E me soltei. Ela foi. Foi.
Descendo. Me arrancando da porra da realidade. Com os olhos fechados, mas
a cabeça e cada sentido abertos. El
tiempo todo calma. Senti a sua língua, os seus dedos em mim. La tempestad y
la calma. Continuou. Cada vez
mais. La tempestad y la calma. Aumentando
a intensidade e me fazendo interromper o silêncio da madrugada.
(...)
Y
mojará..., perdi o ar por um segundo, la flor que cresce en mi.
42 comentários:
MUUUUUUUUUITO BOM ENTRAR NO BLOG E VER ATUALIZAÇÃO HAHAH QUE DELICIA
Que isso genteee (L
Mel, post sexy e hot ao mesmo tempo! aí como eu queria isso agora! :D
Acho que este é o melhor post da história do blog. Sem mais. *-* perdi o fôlego!
PAAAAAAAAAAAAARA TUUUUUUUUUUUDO. QUE POST FODÁSTICO!!!
UMMMMM agora a tarde está maravilhossaaaaaaaaaaaaaaa!!!!
vlw Mel salvou minha tarde!
São apenas 3 da tarde e eu fiquei sem fôlego, QUE POST É ESSE?!! mt bom, mt hot .. mt .. veeeeelho, não tem nem adjetivo que descreva direito!
...sem palavras...(respira fundo) sem dúvidas o melhor post de todos.
E como eu não percebi antes??? ela tava indo p/ casa da Clara ora, óbvio que seria uma música "caliente" rs.
putaquepariu.
o que eria desta história sem uma mulher dessas que nem a clara??
"Que dulce fue tenerte dentro" MEU DEUS!
MELISSA, QUE POST É ESSE?!
Que post inspirador, rs.
Boa música hein :)
Nossa...
Que post foi esse??
Muito Hot...mas passa uma sensação de tranquilidade tb...
Adorei!!
Mais! Mais!!
Vim ver o que todo mundo estava tanto falando... já sabia que era baixaria ou barraca pq são os que explodem cmments! Mas não imaginei que seria tão inteligente, delicado... bonito! Mel, vc surpreende!! Blog incrível e cada vez mais. Posta logo outro!
Tenho ciúmes da Clara, pronto!
Ciumees??? Quero ela e a FM JÁÁÁÁ na minha cama!!! Juntas!!!
Esqueçam a Mia agora eu quero a Devassa com a Clara muuuuuuuito lindo elas duas e essa forma da Mel escrever meu sério tipo uau foi lindo *-*
Ok, acho que sou sapatão. MUITO!
Deu um calor ler isso, não??? Chocada :O
Nossa!
Como eu queria uma Clara pra animar essa tarde chuvosa de São Paulo...
Nossa que delíciaaaa!!
pqp...
adorei esse post.. ;)
Ainda inventei de ler o post ouvindo a música... Quase não aguento. Gente... Olha, não vou nem dizer nada.
HAHA tava lendo aqui, quando chego no último parágrafo vejo que minha respiração tá curtíssima haha ô dom pra enlouquecer pessoas com palavras!
Você me altera, Mel!
Muuuito hot! Fiquei sem fôlego com esse post.
Muito bom mesmo Mel, parabéns.
lindo post
Wow....So sexy!
mel vc escreve de um jeito que envolve o leitor, parabens viu =))
Glup!
PUTA QUE PARIU, MELISSA! qiso, pecado pecado.
Lindas lindas lindas demais. Muerta.
ameeeeeeeei, quero uma dessas na minha vida kakakaka
Ai!
Cara, é impossível acompanhar a vida da FM e não ficar uns 50% mais tarada...Q issooo!? É contagiosa essa saliência.
obra prima. Sem mais.
bjs Ju T
posso me sentir no direito de ser considerada uma colaboradora [mais do que] especial desse post? afinal, se não fosse pelo rádio do meu carro e pela nossa conversa sobre músicas em espanhol e Chakiras (HAHAHAHAHA!), não teria sido Bebe e nem teria sido TÃO sexy. você se superou na escolha das frases, Mel. e a última, é claro, TINHA que ser aquela. e quanto ao post em si... bom, vou ser repetitiva, tá? mas é que parece que sua cabeça opera num nível de qualidade de detalhamento tão incrível, que eu não consigo nem imaginar o que mais se passa por aí. quer dizer... eu tenho uma ideia, rs. eu praticamente dancei junto com a narrativa. foi delicioso ler cada palavra.
beijos e hasta manãna ;*
Dea, sua linda!
Participação ESSENCIAL sua neste post! Todos os créditos pela belíssima Bebe e, claro, pela ajuda na nossa busca madrugueira da música perfeita.
Love ya, muah ♥
Um post lascivo e delicado.
Incrível Mel ! Amei a trilha!
P.S.: Quando é que vem a OST 4, hein?
Combinei Bebe e chuva (http://www.rainymood.com/) !
Fuck awesome!
ótimo post! valeu especialmente pela dica musical, fui procurar e adorei a Bebe, baixei os dois CDs... mto bacana! e essa Clara até eu comia...
É oficial,Clara...me gusta hahaha #TeamClara mas não consigo largar a Mia hahah
[Não precisa aprovar o comentário, se não quiser]
Mel, você me converteu ao lado arco irís da força! Eu sempre me senti diferente, mas nunca tinha entendido em que sentido e porque.. quando eu descobri seu blog, eu comecei a lê-lo, primeiramente, porque notei que o texto era maduro, bem escrito, e também por curiosidade, porque na sociedade em que vivemos, ainda é um tabu gigante, falar sobre sexualidade (e as suas variáveis). Comecei a ler, me apaixonei pela fdp da FM, haha, e me acostumar com esse novo universo. E desde o início me senti muito confortável sabe, como quando você ouve uma música pela primeira vez, mas tem a certeza de que ela foi feita pra você.
Aprendi a apreciar, pelos olhos da FM, a natureza feminina, e assim despertar o meu instinto (latente).
Aos poucos, ainda estou me descobrindo, o que eu sinto, o que eu penso, sem me reprimir em nenhum sentido. E consigo realizar que eu não preciso de gostar de gêneros, e sim de pessoas.
E esse post com a Clara foi incrível, delicado, lascivo, envolvente, sem falar da trilha, que não para de tocar no meu note.
Só quero agradecer, por essa escritora incrível que você é, por dar vida à esse caleidoscópios de sentimentos, visões, sensações.
A cada post que eu leio no FM eu sinto 'ouvida'. Obrigada de todo coração!
BEBE????? NÃO CREIO! AMO ESSA MÚSICA!!!
eu sei que ando meio atrasada nos posts, mas to um pouco sem tempo e lendo quando dá uma folguinha no trabalho. MAS QUE POST INCRÍVEL! nossa, fico boba...
Madre mia... vaya post!
ual
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