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dezembro 08, 2012

I've exposed your lies

“…baby, the underneath’s no big surprise”
(Muse)
 
_Você vem, Bo?
_Não, vão vocês.
 
Pisquei rapidamente para a Clara e ela se virou para acompanhar a Ju do lado de fora, aproveitando a pausa para fumar um enquanto a Thaís trocava a agulha da máquina. Fiquei largada no sofá e minha amiga começou a procurar as tintas e as agulhas de preenchimento na gaveta duma bancada baixa. Já tinha terminado todo o contorno da tatuagem.
 
Àquela altura, fazia umas duas horas desde que a Mia tinha ligado e eu não tinha checado meu celular desde então – só sabia que tinha vibrado mais algumas vezes. Temporariamente sozinha naquele sofá, tirei-o do bolso e vi mais uma chamada não atendida, junto com três mensagens não lidas da Mia. O que acontece?, estranhei. Abri minha caixa de entrada, curiosa, e li um “ME ATENDEEE”, seguido de “PFVRRRR CADE VCCC? PRECISO TE PERGUNTAR UMA COISA KKKK”. E eu sequer pretendia responder naquela hora, sabia que a Clara estava logo ali do lado, mas aí li o terceiro SMS – “É URGENTE! A gnt ja fez rebuceteio???”.
 
Quê?!
 
Comecei a rir na mesma hora. O rádio tocava Muse ao fundo. Me afundei no sofá, sem conseguir me conter, digitando de volta – “ESSA eh sua pergunta importante?? rs”. E nem trinta segundos depois, chegou a resposta dela – “sim!!! :x pq?? vc ja fez???”. “C sabe do q vc ta falando? rs”, achei graça. “Ñ! kkkk to no bar aqui na rua debaixo do Mackenzie e uma mina sapata q estuda cmg tava falando q mandou ver no rebuceteio e eu fiquei curiosa kkkk”. Passei a mão no rosto, já me divertindo. “Acho q vc ta achando q eh outra coisa, Mia, rs”, enviei, aí me pus a explicar. Antes que terminasse a minha mensagem, no entanto, a Mia mandou mais uma – “ñ eh sexo?? ela falou q foi dormir na casa duma mina la!”.
 
Meu deus, pensei, essa é a melhor conversa que já tive na vida

Estava quase gargalhando no sofá, sozinha. “Eh uma gíria sapatao pra qdo vc pega alguem q sua ex ou sua amiga ja pegou”, expliquei. “Ah, tipo talarico?”, a Mia pareceu decepcionada. “Ñ, talarico eh mais na maldade e o rebuceteio eh meio inevitavel, rs. pq a cena lesbica eh um ovo e td mundo ja se pegou, ñ tem como fugir, meu, uma hr c acaba participando”. Passei a mão no meu cabelo bagunçado, o tirando da cara, e logo chegou mais uma mensagem dela – “hum, e c ja participou??”.
 
Comecei a rir, de novo. “Ah, ja :P tipo, q nem, eu peguei a jessica, q pegou a thais, q eu ja peguei, q pegou a le junto cmg, q hj pega a jessica e q já pegou a marina, q eh minha ex, q ja pegou a clara... e por ai vai, rs”, expliquei, achando graça.
 
_Com quem cê tá falando? – a Thaís me questionou, de repente, do outro lado da sala.
 
Ergui os olhos e vi a minha amiga ali, me encarando de volta, como quem suspeita de algo, enquanto separava na bancada as cores que ia usar na tatuagem.
 
_Não, nada... – desconversei, na mesma hora – ...c-com ninguém.
_Sei – retrucou, sem paciência – O mesmo “ninguém”?
_...
_Cê tá falando com a Mia, não tá?
 
Respirei fundo, sem responder à bronca gratuita, enfiando o celular de volta no bolso. E a Thaís me observou, também quieta. Que foi, meu?, me incomodei, se tem alguma coisa pra falar, fala logo. Ela se esticou para alcançar uma cerveja sobre a bancada e, então, continuou:
 
_Olha, eu não vou me meter... – resmungou, abrindo a latinha entre as pernas, com os antebraços apoiados nos joelhos, e aí olhou pela janela para ver se as garotas continuavam fumando – ...mas a Clara é uma puta mina da hora.
_Eu sei, porra, a...
_E eu pensaria bem antes de foder as coisas com ela... – me interrompeu, com certa seriedade – ...ainda mais se for com alguém que já te deixou tão na merda.
_Não é assim, meu.
_Então, como é? – deu um gole, indisposta com a minha desonestidade – Porque até onde eu sei, ela ainda namora seu amigo.
_Mano, a gente só tava trocando mensagem...
_Tá bom, então – se irritou.
_Qual é, Thaís?!
_Velho, só não quero ver você quebrando a cara de novo por essa mina... só isso. E eu sei que você ama a Clara, que não quer magoar ela...
_E-eu... – hesitei, sem saber o que responder direito, e aí esfreguei a mão no rosto – ...eu, eu sei. E eu não quero mesmo, porra, é só que... – me angustiei – ...inferno. Eu gosto dela, Thá. Eu... e-eu ainda gosto dela pra caralho e, e eu não sei o que fazer...
 
Nisso, ouvimos a porta abrir. E a Clara entrou junto com a Ju, rindo, interrompendo imediatamente as palavras que saíam da minha boca.

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