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dezembro 11, 2012

Pacaembu

O problema é que também não era como se a Mia facilitasse, não é? Horas depois, lá estava eu, às quase cinco da tarde, me desgastando numa gravação sem fim no estádio do Pacaembu e discutindo com uns quatro incompetentes ao mesmo tempo, quando ela me mandou mensagem. Peguei o celular, estressada, entre um argumento e outro, e olhei para o visor rapidamente – “ei, ñ acha q ta na hr dum cigarro? ;)”.
 
Na minha última pausa, algumas muitas horas antes, eu tinha ligado para a Mia e ficamos conversando por uns minutos. Ela me torturou com a sua vontade de me ver e eu a diverti com as minhas reclamações sobre o buffet contratado pra gravação, que interpretou o meu “precisa ter opção vegetariana” como “vamos picar uma salada murcha de alface com meia rúcula”. Por que diabos não fazem uma porra dum macarrão? Dum queijo quente, mano? 
 
_Ô! – assobiei e chamei uma das minhas colegas, a uns metros dali; aí me virei para a roda de pessoas, ainda em meio à discussão – Gente, ó, resolve com ela aqui. Preciso dar uns 5!
 
E larguei a bucha da vez na mão de outra assistente, indo em direção à saída e já procurando o número da Mia nas ligações recentes, antes mesmo de responder sua mensagem. Bati o maço desajeitadamente na perna, puxando um cigarro com a boca, conforme discava e atravessava o portão de entrada – quando, para a minha surpresa, dei de cara com a Mia.
 
_O que... – sorri, na mesma hora, tirando o filtro ainda apagado da boca – ...o-o que cê tá fazendo aqui?
 
Ela sorriu, de volta. Nos seus shortinhos-com-camiseta-preta-e-All-Stars de quem só saiu pra dar uma volta no bairro e que, puta merda, me davam uma vontade desgraçada de estar em casa com ela, vendo TV e dando uns beijos à toa no sofá, sabe? Ela se aproximou e tirou a franja da cara, segurando o riso. Em uma das suas mãos, tinha um saco pardo desses de padaria.
 
_Bom... – ela riu, chegando perto – ...eu tava com saudade e, né, imaginei que cê devia tá morrendo de fome depois do fiasco da salada mais cedo, então te trouxe um lanche. E umas batatas!
_Cê...
 
Suspirei e deixei escapar mais um sorriso, sentindo meu coração encher.
 
_...cê não existe, meu.
 
Passei a mão no rosto, meio sem acreditar que ela estava mesmo ali. Segurando uma porra dum lanche para mim. E de repente – me senti a garota mais feliz de toda São Paulo. Ou sei lá, do Pacaembu, enquanto os carros começavam a se engarrafar nas ruas ao redor de nós. E a luz do sol ia ganhando um tom alaranjado bonito. Puxei a Mia pela mão e a beijei, com carinho. Daí fomos até a lateral do estádio e sentamos num canto, meio escondidas, onde comi meu hambúrguer vegano e fumamos um juntas.
 
Foram os melhores vinte minutos daquela semana inteira.

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