Sentei
naquele snooker bar sujo, contando os poucos trocados que eu
tinha no bolso. R$ 2,47. Isso só me garantia 4 fichas – talvez 5, se eu
chorasse um pouco para o cara do caixa. Enfiei as moedas de volta no bolso da
calça. E logo em seguida, avistei a minha amiga atravessando a rua em frente ao
boteco. Numa regata branca e jeans largos, o boné virado para trás – puta merda.
Estava gata.
A Thaís era
a única tatuadora num estúdio cheio de macho em Pinheiros. Era uma dessas butch
gordas que tem uns braços fortes e um sorriso que te desgraçam a cabeça. Para
piorar, recentemente ela ainda tinha tatuado a porra da lateral do pescoço. Cacete.
Entrou no bar com aquela cara de quem tinha caído do sofá dez minutos antes.
Parou no balcão antes de me cumprimentar e pediu uma garrafa de Brahma gelada –
que o cara entregou para ela junto com dois copos americanos. Então veio até
onde eu estava sentada.
_E aí,
sapatão!
_E aí... –
a Thaís sorriu, colocando a cerveja na mesa e puxando uma cadeira.
_Te
acordei, meu?
_Não,
tranquilo... Precisava sair daquele sofá, foi bom que cê ligou.
_Porra, saudade,
faz tempo que a gente num se vê. Acho que desde a festa, não?
_Nossa...
– arregalou os olhos e começou a rir, passando a mão na cara – Que que foi
aquela sua festa, mano. Não sei nem como cheguei em casa naquele dia...
_Eu sei bem
como cê chegou em casa... – pisquei na sua direção, sorrindo.
_Cala a
boca.
_Quê? – eu
ri – Eu lembro.
_Fica
quieta que cê tava caída do lado do sofá, com a porra da Aninha em cima de
você, velho. Cê não viu merda nenhuma...
_Ah, então
não era você saindo pela porta com a sua ex do lado?!
_Filha da
puta...
Ela riu,
balançando a cabeça, e se esticou para frente para colocar cerveja nos nossos
copos.
_Vem.
Vamos beber, vai!
Brindamos e
tomei um gole, achando graça na cara de pau da minha amiga. Ela ria também e me
contava os desdobramentos daquela noite. Assim que terminamos o primeiro copo, levantei
para comprar as fichas no bar. O boteco era um clássico trash paulistano – com uma
estufa de salgados de origem duvidosa, um banheiro imundo com porta sanfonada e
uma estátua de São Jorge empoeirada ao lado dumas laranjas e uns conhaques na prateleira
atrás do balcão. Me sentia em casa. Peguei quatro fichas e ocupamos uma das mesas
de sinuca, apoiando os nossos copos na beirada.
Jogar
contra a Thaís era má ideia. Toda vez. Não gostava nem de pensar na quantidade
de dinheiro que eu já tinha perdido para ela ao longo dos anos, apostando
cerveja atrás de cerveja em mesas exatamente como aquela. Não que eu fosse ruim,
isto é, eu até que me garantia contra os bêbados da Augusta – mas não uma sapatão
de respeito daquelas. E ela fazia questão de me provocar a toda maldita jogada que
eu errava. É. Para depois ir lá e encaçapar três seguidas como se nada
fosse.
Inferno.
Numa
dessas, a bola branca aterrizou a poucos centímetros de uma das minhas.
Praticamente na reta da caçapa. Tomei um gole da minha cerveja e coloquei o
copo para o lado, me inclinando sobre a mesa. Era para ser uma bola fácil. Mas
a Thaís ficou parada ali, me observando mirar, com os braços cruzados naquela
regata e – cacete. Ergui o olhar na sua direção por um segundo e ela sorriu
para mim. Como se por um breve instante soubéssemos o que se passava na cabeça
uma da outra. E quando voltei a minha atenção para a droga da bola, agora já levemente
desconcertada, acertei o taco muito para a esquerda. Maldição. A branca
pegou de raspão na outra bola, que bateu na quina da porra da caçapa e eu errei
feio.
_PUTA
MERDA! – a Thaís gritou e começou a rir – Que vergonha. Que vergonha pra nossa
classe, mano...
_Cala a
boca.
_Velho, na
boa, cê tem sorte de ser gata assim, porque cê joga mal pra caralho...
_Ah, vai
se foder!!
_COMO CÊ
ERRA UMA BOLA DESSAS??
_PEGOU
ERRADO NA BRANCA, CARALHO, IA ENTRAR!
_Ia... –
ela zombou, rindo da minha cara – ...ia, sim. Tá bom.
_Cala a boca,
mano! – eu ri também e a empurrei pro lado, a Thaís se divertia – Babaca.
_Sério. Como
cê consegue se chamar de sapatão?
_Porque...
– fiz graça – ...o que importa, eu faço direito.
Ela
arqueou as sobrancelhas como se dissesse “é?” e balançou a cabeça, rindo. Era gostoso
flertar com a Thaís. Em algum lugar, nós nos entendíamos – testando os limites quando
nos dava na telha e falando merda, sem nenhuma pretensão de necessariamente
fazer algo a respeito. Encostei contra a parede. E ela me olhou ali, tomando
mais um gole da cerveja, antes de se virar para me humilhar jogar.
De repente,
existia uma tensão entre nós. Como se um breve momento tivesse desencadeado segundas
intenções em tudo o que dizíamos. Ou fazíamos. Nos esbarrando entre as jogadas,
esvaziando os copos, enchendo-os de novo e sorrindo, encarando uma à outra, sem
dizer muito de fato. Tinha certa arrogância na forma como a Thaís sabia
que eu não conseguia tirar os olhos dela. Dobrando aquele braço forte, inteiro
tatuado, para trás e deslizando o taco entre os dedos da outra mão – e olha,
eu gostava.
Quando
matamos a segunda garrafa de Brahma, saímos na calçada para fumar. A Thaís puxou
o maço do bolso de trás da calça e pegou um cigarro, colocando-o atrás da
orelha. Logo abaixo do boné, com um sorriso de canto de boca, como se fizesse
charme para mim. Depois resgatou uma ponta no fundo do maço, acendendo-a com o meu
isqueiro. Demos dois tragos cada e ela logo apagou, guardando o baseado antes
que alguém reclamasse. Não eram nem quatro da tarde ainda.
_Mas e aí...
– a Thaís subiu o olhar na minha direção, tirando o cigarro da orelha e o
colocando na boca – ...qual o lance com a Aninha, cês voltaram?
_Não, meu...
_Não?
_Foi só
aquele dia lá da festa... – eu ri e ela tragou, me passando o cigarro em
seguida – Depois até trombei com ela no Glória, num outro dia aí, mas não rolou
nada.
_Hum. Por
que não? Cê tá pegando alguém?
_Ah... –
hesitei, sem saber como diabos responder a pergunta – ...é complicado.
_Complicado
como?
_Ah,
mano... – suspirei e a Thaís achou graça – Uma mina aí, curto ela pra caralho.
Mas ela... e-ela namora. E uma hora me quer, na outra não. Esses dias a gente
saiu, dormimos juntas e depois ela não falou mais comigo, tá me ignorando agora.
Sei lá, é foda...
_Nossa.
_É... – arqueei
as sobrancelhas e ri, tragando demoradamente.
_Velho, não
dá, por isso que não tenho paciência pra me envolver com ninguém agora.
_Né? –
soltei a fumaça por um espaço pequeno entre os lábios, passando o cigarro de
volta para ela – Queria que as coisas pudessem ser mais simples, meu.
_Pode
crer.
_Às vezes,
cê... – disse e olhei descaradamente para a sua boca, conforme ela colocava o filtro
entre os lábios – ...cê não acha que seria melhor simplesmente, sei lá, transar
com suas amigas? Sabe, só... foder e se divertir, ficar de boa?
A Thaís segurou um sorriso e me olhou de volta, enquanto tragava, imprestável, quase como se me desafiasse.
_Ué, vamos
então.
8 comentários:
ooo gente. a mia tá foda estragando foda já.
engraçado que o "fim da linha" pra ela é estar apaixonada, né... hahahahah
nao adianta, acho lindo x)
A.M.->(Antes da Mia) A devassa colocava no automática e fluia....
D.M.-> ela tenta dar a partida e.........nadaaaaaaaaaaaaa...
heheh
HAUHAU como ja falei no twitter HAUAH Inglória resume HAUHAU adorei ahuahau
Adorei o nome da vizinha! hahahahaha
Mel, que luz! Eu não ia aguentar ela na vida de novo reinicando a lista telefõnica se Sampa e agora ainda com o convite da Rayssa, do Rio tb.! :)
Eu gostei dessa mudança, seria muita ilusão da minha parte?!? :/
A única coisa que tenho a dizer é: olha a Mia fucking a vida da Devassa, nesse momento, apenas no mal sentido!
Tipo, não curto quando a Devassa está fodendo tudo e todas. :(
Gosto de vê-la toda apaixonadinha e mais comportada (que é difícil).
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