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julho 08, 2010

Saída de incêndio

32... 33... 34... 35... 36... 37... Cheguei ao 38º degrau da escada do meu prédio, sem saber direito porque eu havia decidido subir por ali ao invés do elevador. Não passava um tempo sozinha com um travesseiro há dois longos dias e o cansaço me fazia arrastar os pés entre os degraus. Isso é patético. Exausta e meio atordoada, me sentei no degrau de número 39 e coloquei os pés no 38, apoiando os antebraços sobre as minhas pernas. Olhei para a parede em frente a mim e a situação toda me incomodou.
 
O que diabos eu tô fazendo, afundei o rosto nas mãos, argh. Tinha acabado de subir um monte de degrau à toa. Não tinha nada ali – só eu e as minhas ideias brilhantes. E inapropriadas. Inferno, me irritei comigo mesma, enquanto olhava para as paredes sujas e descascadas que cercavam as escadas. Ainda faltavam muito mais do que os 30-e-poucos degraus iniciais. Quis me levantar na mesma hora, num impulso de sair daquele buraco em que me meti, mas alguma coisa me segurou ali.
 
Fernando.
 
E a muitos-e-não-sei-quantos degraus da porta do nosso apartamento, de repente, eu perdi a coragem. Caralho. Enfiei a cabeça mais uma vez entre as mãos, sozinha naquela área abandonada do prédio, e quis sumir. É. Eu estava enrolando – e no fundo, eu sabia. A demora para sair do bar, a conversa fiada com a garota do caixa, minhas últimas palavras em excesso no carro da Marina e a contagem lenta dos meus passos enquanto subia escada acima. Tudo até então – evitando a porra daquele apartamento e a realidade para a qual eu não queria voltar tão cedo.
 
Mordia o dedo de leve, sem perceber a ansiedade que gritava em mim, fazendo um esforço mental enorme para esquecer tudo aquilo. Respirei fundo. E encarei mais uma vez a merda da parede à minha frente – cinza, velha e feia. Que se foda, pensei para mim mesma, batendo as mãos nos joelhos, e levantei. Vamos lá acabar de vez com isso.
 
Terminei de subir os degraus e entrei no corredor do meu andar. Podia ouvir os meus passos ecoarem no escuro, junto com o barulho da porta corta-fogo que se fechava atrás de mim. Tirei a chave do bolso com certo nervosismo. E repeti para mim mesma em pensamento – não dá pala, porra.
 
Antes que pudesse perceber, já estava atravessando a nossa sala de estar com pressa.

8 comentários:

Mari disse...

Tenso!

Anônimo disse...

aaaah
é isso que eu gosto.
tensão!

priguiducci disse...

Agora sim...de volta à realidade.

Lu disse...

É... e agora José?

jupiter disse...

que post frustrante... contrastou tanto com os tantos outros felizes que tenho lido. nao tinha como demonstrar com mais precisão essa 'volta à realidade', mesmo... :{

Anônimo disse...

Ai, a tensão voltando.
Depois dos momentos alegres todos, a ficha tinha que cair.
/tenso

Anônimo disse...

fodeu....

Pri Araújo disse...

Ah meu, subir sei lá quantos andares pela escada é tortura, né, e se fosse resolver alguma coisa tudo bem, mas não adiantou nada porque cedo ou tarde ela acabaria chegando ao apartamento.

Atravessando a sala correndo e pensando: “Don't call my name, bye, Fernando” #Gagafeelings

Agora seria legal se no corredor ela desse de cara com a Mia e o Fer! hahaha