Ergui os braços sobre a cabeça, me espreguiçando por uns segundos,
e em seguida os soltei sobre o colchão – cada músculo do meu corpo estava
exausto. E relaxado. Podia facilmente dormir por algumas horas. Virei o rosto e
observei a Thaís, que se esticava para fora da cama como se procurasse algo no
chão. Então voltou com um dichavador e um pacote de seda na mão. E
imediatamente repensei o meu desejo para aquele fim de sábado – fumar um,
cochilar e aí comer uma pizza quando acordar, é, é isso.
Alheia aos meus planos, sentada mais acima no colchão, a Thaís
desfazia a ponta que acendemos juntas em frente ao boteco horas antes. Misturou
o resto com um pouco mais de erva no dichavador, depois fechou e começou a
girar. Suas mãos eram inteiras tatuadas – uma mariposa old school na
direita e um pardal na esquerda, além duns desenhos menores rabiscados nos
dedos. Tinha os dois braços fechados, as costas, a lateral do pescoço e parte
das pernas, onde os traços se misturavam com seus pelos. Era um tesão.
Caralho – a admirei, imersa no momento. Então virei o
corpo na sua direção, deslizando os dedos instintivamente pelos seus pelos,
enquanto ela dichavava, e a lambendo perna acima. Bem lentamente. Subindo pelo
seu joelho, sua coxa, sentindo a sua pele arrepiar contra a minha língua.
_Meu... – ela riu – ...acho que preciso dar um tempo, cara.
Argh. Joguei o corpo de volta no colchão e revirei
os olhos para ela, rindo.
_Arregona.
_Velho, sou nada, cê que é muito intensona... – resmungou – Sossega aí.
A Thaís balançou a cabeça, achando graça, enquanto abria o
dichavador e virava toda a maconha numa seda. Bolou habilidosamente entre os
dedos e lambeu a beirada, apertando o baseado. Então o acendeu.
_Mano, mas... – comentei, observando ela tragar – ...cê não sente
que a melhor parte do sexo é quando cê num aguenta mais e mesmo assim continua?
_Hum – soltou a fumaça e sorriu, me passando o baseado – Pode ser.
_Sabe quando cê pensa “num dá mais” e aí dá?
_Sei – ela riu, enquanto eu dava um pega – Mas eu ainda preciso dar uns 10...
Passou a mão no cabelo curtinho e a esticou em seguida, para pegar
o baseado de volta. Notei o seu olhar percorrer o meu corpo discretamente. E
então sorriu, balançando mais uma vez a cabeça:
_Velho, isso é muito doido...
_O quê? – perguntei, soltando a fumaça para cima.
_Isso. Eu e você, aqui.
_Né?
_Se alguém me perguntasse hoje de manhã como ia ser minha tarde... – achou graça – ...eu nunca ia ter adivinhado.
_Olha... – me espreguicei mais uma vez – Por outro lado, sei lá, eu meio que sempre soube que ia acontecer um dia. Cê não?
_Pode crer.
_Rolava uma curiosidade...
_Mano, muito fogo no rabo – ela riu – Era só questão de tempo...
Nos olhamos por um instante e a Thaís me empurrou de leve, fazendo
graça. Me sentia bem de poder falar com ela sobre o nosso pequeno delito.
Sentei na beirada da cama e alcancei meu maço no bolso da calça, que estava
amassada num canto do colchão. Coloquei um dos cigarros na boca e olhei para a
janela – o apartamento dela ficava no terceiro andar dum predinho baixo da
Peixoto Gomide.
Me levantei e senti o olhar da Thaís me acompanhar pelo quarto.
Abri o vidro, me apoiando no parapeito sem uma roupa sequer no corpo, enquanto
os sons de São Paulo invadiam o cômodo. A juventude porralouca paulistana já
começava a lotar a rua – e qualquer um que olhasse para cima da calçada
facilmente veria os meus peitos ali. Mas que se dane. Acendi o cigarro e
pus-me a observar o movimento naquele começo de noite gelado. Passei a mão no
meu cabelo bagunçado, tirando-o da cara meio de qualquer jeito. E senti o vento
arrepiar toda a minha pele.
De repente, ao fundo, ouvi a Thaís murmurar algo.
_Cê falou alguma coisa? – apoiei as costas contra a janela, me
virando para dentro por um instante.
_Falei... – ela riu – ...eu perguntei... – repetiu, colocando o braço atrás da cabeça – ...quando que cê vai me deixar tatuar essa sua pele aí.
Com os seus olhos em mim, o comentário soava mais como um xaveco.
E me fez sorrir.
_Olha, quando cê quiser, eu também topo...
_É? – ela sorriu de volta, como se falássemos de outra coisa – Tá faltando uns rabiscos meus aí.
_Tá. Tá sobrando muito espaço... – eu ri.
_Meu... Eu não ia dizer nada, mas tá mesmo, velho – mudou o tom, me zombando – Tá vergonhoso isso aí. Porra! Já num basta o vexame que cê é na sinuca, nem para compensar em tatuagem...
_Ah! Vai se foder, mano!
_Quê?!
_Num ouvi ninguém reclamando meia hora atrás.
Arqueei as sobrancelhas e a Thaís deu de ombros, debochada, como
se tivesse razão. Revirei os olhos e me virei outra vez para fumar na janela,
achando graça, apoiando o corpo contra o parapeito. O barulho do lado de fora
intensificava junto com a aglomeração que se formava na Peixoto. E assim que
coloquei o cigarro na boca, em meio às buzinas e gritos bêbados da rua, tive a
impressão de escutar algo também do lado de dentro.
_O quê? – encarei o quarto mais uma vez, para ouvir direito.
_Que foi?
_Achei que cê tinha falado alguma coisa...
_Não – ela riu – É o Bruce que tá fazendo escândalo na porta.
O Bruce era um vira-lata misturado com
boxer, já velho e meio cego, que a Thaís tinha adotado um ou dois anos antes.
Era o amor da vida dela e o cachorro mais boa praça de toda Baixo Augusta – e
que agora arranhava o vão da porta do quarto, choramingando, como se a sua vida
dependesse de um passeio para mijar nos postes da vizinhança. Traguei mais
uma vez, soltando a fumaça rapidamente para o lado de fora, e caminhei até a
beirada da cama.
_Vamos dar um rolê com ele – falei, esticando a mão e oferecendo o
cigarro para a Thaís.
_Agora?
_É – peguei a cueca no chão e vesti, rindo – A gente desce rapidinho.
_Bora então.
_Velho, sou nada, cê que é muito intensona... – resmungou – Sossega aí.
_Hum – soltou a fumaça e sorriu, me passando o baseado – Pode ser.
_Sabe quando cê pensa “num dá mais” e aí dá?
_Sei – ela riu, enquanto eu dava um pega – Mas eu ainda preciso dar uns 10...
_O quê? – perguntei, soltando a fumaça para cima.
_Isso. Eu e você, aqui.
_Né?
_Se alguém me perguntasse hoje de manhã como ia ser minha tarde... – achou graça – ...eu nunca ia ter adivinhado.
_Olha... – me espreguicei mais uma vez – Por outro lado, sei lá, eu meio que sempre soube que ia acontecer um dia. Cê não?
_Pode crer.
_Rolava uma curiosidade...
_Mano, muito fogo no rabo – ela riu – Era só questão de tempo...
_Falei... – ela riu – ...eu perguntei... – repetiu, colocando o braço atrás da cabeça – ...quando que cê vai me deixar tatuar essa sua pele aí.
_É? – ela sorriu de volta, como se falássemos de outra coisa – Tá faltando uns rabiscos meus aí.
_Tá. Tá sobrando muito espaço... – eu ri.
_Meu... Eu não ia dizer nada, mas tá mesmo, velho – mudou o tom, me zombando – Tá vergonhoso isso aí. Porra! Já num basta o vexame que cê é na sinuca, nem para compensar em tatuagem...
_Ah! Vai se foder, mano!
_Quê?!
_Num ouvi ninguém reclamando meia hora atrás.
_Que foi?
_Achei que cê tinha falado alguma coisa...
_Não – ela riu – É o Bruce que tá fazendo escândalo na porta.
_Agora?
_É – peguei a cueca no chão e vesti, rindo – A gente desce rapidinho.
_Bora então.
10 comentários:
Pegou pesado... mas se saiu bem.. rs..
Sempre nos surpreendendo!!
Mel, tem uns dois erros ortograficos ai ;)
AMEI esse post, a FM tá ficando mais sensível... dá pra perceber.
Aww... thanks! :) esqueci mega na pressa hahaha vou ver se acho e corrijo, obrigada! ;***
A FM é mto filha da puta com as gurias, mas ela tem sorte de "sempre" encontrar minas bacanas pelo caminho dela. Acho que ela ainda vai provar do próprio veneno nessa relação com a Mia. Bjoooo Mel ;*
Nossa, cresceu no meu conceito... O que eu estou falando? Sou Devassa Team 4ever! :)
Ai. Pronto. Devia esquecer a Mia e ficar com a Thaís. Olha que lindinha que ela foi com a Devassa. Um amor. Sou super a favor.
to adoraaaaaando, deu pra perceber que a FM tá realmente apaixonada pela Mia!!! o blog tá de parabéns! :)
Eu tõ procurando uma thaís no contato auisuahushauhsua
ai, que legal... a thaís é muito gente boa! ela nao podia ter pensado em alguém melhor pra... isso. hahahaha
Viajei no momento desabafo da Devassa. Super eu, cara! HAHA
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