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julho 13, 2010

Saturday, wait

Abri os olhos lentamente, ainda me sentindo cansada apesar das horas dormidas. Bem mal dormidas. Rolei centímetro por centímetro do meu corpo na cama, aos poucos, me enrolando confusamente no lençol, na tentativa de chegar até a beirada e recuperar meu celular em algum lugar. Mia, foi meu primeiro pensamento. E me estiquei ali, na esperança de encontrar uma mensagem dela. Me sentia exausta. Meu corpo pesava mais do que o normal na cama – talvez por todo aquele trânsito mental – e eu não conseguia, de forma alguma, achar a porra do celular no meio daquela bagunça.
 
Foda-se, desisto. Larguei as roupas e tralhas que tirei do chão com as mãos. Não tá aqui essa merda. Aí voltei a deitar, com as costas contra o colchão, empurrando os lençóis de qualquer jeito com as pernas para me desfazer daquele nó no qual eu havia me enfiado. Só aquilo já me cansou – eu estava acabada. Me esparramei mais ainda na cama e cruzei as mãos atrás da cabeça, por debaixo do travesseiro. Olhei para o lado e vi o meu celular caído, preso entre a parede e o colchão.
 
Aí está você, desgraçado.
 
Resgatei-o do vão da cama e olhei cheia de esperanças para a tela, mas não havia mensagem alguma. Abri a caixa de entrada: nada. Havia, porém, uma na de saída. Merda. Cliquei, sem realmente querer ver o que estava ali, consciente de que se tratava de um lapso irrefletido da minha angústia da noite anterior, quando eu me encontrava entre o sono e o “acordada”. Ou seja, burrada na certa.
 
E era, de fato.
 
Mal li a pergunta contida no interior do SMS e já larguei o celular fora da cama, com raiva de mim mesma. É óbvio que ela estava com ele, sua imbecil. Com quem mais ela poderia estar?, eu apertei as mãos contra o rosto, indignada com a obviedade da minha pergunta. Aquilo tinha sido extremamente desnecessário. A Mia não só não respondeu como, pior, eu declarei com todas as letras o meu descontrole ciumento. Argh. Afundei no travesseiro, me odiando.
 
Levei algum tempo para me recompor, como eu sou idiota. Mas aí levantei. Fucei no armário atrás de uma blusa larga e confortável. Apanhei meu maço no bolso da calça do dia anterior, largada no chão, mas desencanei de vesti-la. Já está feito, que se dane, tentei esquecer a mensagem. E saí para a cozinha, rodando o isqueiro em mãos. Peguei uma panela e coloquei água para ferver. Miojo – a solução rápida para os meus problemas. Não comia nada desde o almoço no trabalho. Estava faminta.
 
_Ah, você tá aí... – ouvi a voz do Fer, a alguns metros atrás de mim, enquanto eu me espichava para pegar o pacote na prateleira.
 
Bosta, apertei os olhos, sem querer acreditar que aquilo estava acontecendo. Aí respondi com um resmungo qualquer, sem me virar, e tentei focar na minha pseudo-refeição. Pretendia ignorar a presença dele o máximo que pudesse e evitar qualquer contato visual. No entanto, ouvi o Fer arrastando uma das cadeiras, provavelmente para se sentar ali, e imediatamente desejei com todas as minhas forças que ele não o fizesse... Pois fez.
 
_Pô, parece que faz mó cara que não te vejo... – o Fer riu, sendo simpático – Cê ainda mora nesse apartamento?
_É... sei lá, a gente se desencontrou, eu acho – respondi, encarando com insistência a panela, o fogão ou qualquer coisa que não fosse o meu colega de anos e anos.
_E o show lá que cê ia? Foi bom?
_Aham...
_Você foi com quem mesmo? O Gabriel?
_É...
_No Itaim?
_Hmm-hum...
_E ontem, saiu? – ele continuou com o papo de elevador, como se não tivesse nada melhor para fazer a não ser sentar ali e me assistir cozinhando.
_Encontrei a Marina, depois do trampo.
_Ahhh... a Mariiina... Pô, anda vendo bastante ela, hein? Dormindo lá, saindo juntas... Praticamente um namoro já – ele riu, animado com a primeira informação não-onomatopéica que eu lhe dava – Tá rolando um remember aí?
_É. Sei lá... – eu murmurei, soando indiferente, enquanto na realidade eu não queria era prolongar a conversa.
 
E aí, infelizmente, percebi o problema da minha escolha de refeição. Aquela porra ficava pronta em três malditos minutos – o que me levava diretamente à mesa, onde o meu amigo se encontrava. Droga. Escorri a água e levei o máximo de tempo que pude para espalhar o caldo do pacotinho pelos fios tortos de macarrão. Peguei um garfo na gaveta à minha frente, apanhei o prato e sentei grosseiramente na mesa, ainda sem olhá-lo.
 
_Cê tá bem, meu? – o Fer estranhou.
 
Não respondi nada. Apenas acenei que “sim” com a cabeça, enquanto enrolava uma porção no meu garfo, focada no prato de miojo. Senti que ele desistiu de conversar, por um momento, e fiquei aliviada. No entanto, ele continuava lá. Ele e a sua presença indesejada. E a porra do silêncio. De repente, senti todos os questionamentos da noite anterior voltando, involuntariamente subindo pela minha espinha, e suspirei na tentativa de me livrar daquele ciúme todo. O que só o piorou, claro. Quanto mais se pensa a respeito, mais aquela merda impregna na sua mente.
 
Talvez fosse a proximidade – física – na qual eu me encontrava do Fer, do seu corpo, sem saber por onde ele esteve ou com quem. Ou talvez fosse só o silêncio crescente, não sei. Mas parei. Parei de repente de comer, larguei o talher de qualquer jeito no prato e apoiei os braços prontamente na mesa.
 
_E você? – olhei diretamente pra ele, o encarando – Saiu ontem?!

22 comentários:

Anônimo disse...

maravilhosa!! haha
adoro essa tensão.

Nayra O. disse...

pois é fer, saiu ontem? ¬¬

Rayssa disse...

ta,fiquei com vontade de comer miojo .-.


HAUHAU eu tbm to curiosa, e ai fer o que fez ontem?

Anônimo disse...

tenso? que isso....rsrrs

legal, ela já tá toda se mordendo de ciúmes só de imaginar.
O problema nunca é ter coragem de fazer as perguntas, o foda é estar (ou não) preparado pra aguentar as respostas...E claro, eaí Fer? Onde é que você estava hein? kkkkk

Pri Araújo disse...

Meeeuuu, ela poderia ter escolhido qualquer outro assunto pra conversar com o Fer, né, mas tinha que falar da noite anterior. Auto-flagelo. hahaha
Ele já está achando que ela não tá bem porque não quer conversar, imagina se ele começa a contar que tava com a Mia e tudo mais... Ela vai surtar! Quero só ver!

Anônimo disse...

Esse 'Saturday, Wait' seria da música do The Cure? estava escutando agora friday i'm in love

• the girl fucking Mia • disse...

Siiim... Que lindo! Alguém sacou... hahahaha é, sim, da própria! (agora, sabe me dizer por que?) ;*

priguiducci disse...

Sexta feira ela esta apaixonada...sábado, espera pelo que a espera.

Nayra O. disse...

como é q eu ia lembrar que era the cure, se, com tanta tensão, eu ja nem sabia q dia da semana era? hahahahahahha

Ta disse...

E voltamos ao ''o amor não passa de um sadomasoquismo do caralho''rsrs sabe a resposta mais ainda vai e pergunta...rs ahh o amor..rs

Anônimo disse...

Bom, pelo contexto da música, eu acho que sei. Na música diz 'Monday you can fall apart
Tuesday, wednesday break my heart
Thursday doesn't even start
It's friday I'm in love'
Acho que é bem a situação dela,né?
A mia fica nesse vai não vai com ela, só saindo com ela na sexta e olhe lá, fudendo com a cabeça dela.
Enfim, acho que deu pra entender.
Quando sair o livro, autografa o meu?

• the girl fucking Mia • disse...

Bem por aí... Certíssima! ;)

Hahaha olha, sequer tenho uma assinatura hahahaha mas até lá resolvo isso e, claro, autografo siim! Com prazer ♥

Anônimo disse...

Não é que não custou nada perguntar?
Hahaha
Obrigada por ser simpática, não é todo blogueiro que é assim.

Dejacoby disse...

Hahahah mto bom o post.Me vejo na mesma piração da FM em relação à Mia,de querer saber onde está,com quem está,se está com saudades e tals... pelo menos elas moram na mesma cidade né,o que ñ é o meu caso ¬¬¬.Já a atitude dela em relação ao Fer é exatamente o que faço tdos os dias com minha tia que fica me sondando e tentando tirar de mim alguma coisa sobre algo q ñ quero falar,cada minuto do dia é uma tensão diferente,isso te faz surtar,quase enlouquecer e isso é foda. Perfeito Mel, tu tens o Dom de escrever o que rola no cotidiano de inúmeras gurias sem ao menos conhecê las e isso é lindo,pq acaba criando um elo mto forte entre autor e leitor fazendo com que nos sintamos próximas de ti,a impressão que te conhecemos e que tenhamos um carinho imenso. Bjoo

Mari disse...

Para o tempo. A respiração. Para tudo; agora fala Fer, onde você foi!?

Uuuuuuuu.

Num sei, mas acho que ele num tava com a Mia não. Ele pode dar uma mentida, falando que tava, mas devia tá "comendo fora de casa"...

Noelly Castro disse...

ahhh.. todo mundo quer saber onde tava o Fer, quem ele comeu, uhnn.. talvez no fim do comments eu conto..
fiquei com peninha do Fer, super querendo trocar uma ideia e a amiguinha super fria e cheia de ciumes.. mas o né.. reações humanas hahahahahaha
adorei a referencia da música.

é "clichê" eu falar que o blog tá cada vez mais perfeito, envolvente e que adoro esses finais? ;P
olha.. comentei e acho que todos deveriam fazer o mesmo..

Gatiiita, você é foooda pra caralhoo!!
RrRrrRr! ;) ♥

ps. o Fer ontem tava comigo hahahahhahahahah

Tatiana disse...

Certeza que o Fer tava com outra! Ele é sacana hahah

The cure o/ Mel arrasando nas bandas heheh

Dea disse...

sunday always comes too late, friday never hesitates, haha! bom título =D

Bianca S. disse...

Fiquei com peninha do Fer +1, puxando assunto com a FM, e ela toda ignorante. AUHAHUAHU Coitado! KK.

Lu disse...

Não sei se admiro essa coragem masoquista da Devassa e seu descontrole generalizado. Esse ciúmes não era pra ser cultivado, ela sabia onde tava se metendo! Não sabia?
Tá... e se ela agora, ao invés de ouvir q ele tava com a Mia, descobre que era com a Noelly!?!? Ferrou de vez! ;)

Ana Zamur disse...



Ponto.

Ariqueiroz disse...

Muito bom, li por 3 dias. Simplesmente viciante e bem escrito.