Dez
minutos antes da seis, sem ter dormido quase nada, o meu celular me despertou.
A Mia ainda dormia abraçada em mim – o que tornava sair daquela cama quentinha ainda
mais difícil. Cacete. O que eu não daria para poder ficar o resto da
minha vida manhã com ela. Mas um dia cinza já começava a amanhecer do
lado de fora e encontrar com os pais da Mia no meio da sala não estava nos meus
planos. Então, me convenci a desvencilhar-me dos seus braços.
Andei até
a estante do seu quarto e peguei o primeiro papel que encontrei – um flyer
desses de farol. “Bom dia, bonita! :)”, escrevi e dobrei o papel ao meio, o colocando
erguido sobre a mesa de cabeceira. Deixei a Mia dormindo e fechei a porta do
seu quarto, atravessando aquele apartamento gigante o mais silenciosamente
possível. Estava tão concentrada torcendo para não ter ninguém acordado que só fui
respirar de novo quando cheguei no elevador e apertei o botão do térreo.
Ufa.
A rua
estava deserta. Caminhei até o ponto de ônibus, naquele frio desgraçado, ainda
vestida na minha calça de pijama da noite anterior. Devo ter esperado uns quarenta
minutos, congelando, até a porra do ônibus passar. E quando cheguei na Frei
Caneca já eram mais de 7:30. Merda. Entrei no apartamento tentando passar
despercebida, fechando a porta cuidadosamente. Mas quando fui virar – puta
que pariu. Senti uma pancada na cabeça, do nada.
_É MUITA
CARA DE PAU, HEIN?! – ouvi a Lê gritar, rindo, depois de tacar uma almofada na
minha cara – APARECENDO AQUI ESSA HORA!
_Mano. Fala
baixo, caralho!
_ONDE CÊ
TAVA, HEIN, Ô VAGABUNDA?!
Ela se
divertia, sentada no sofá, me ameaçando com outra almofada. Me aproximei com os
braços na frente da cara, numa tentativa de me proteger, e larguei o corpo ao
seu lado. Exausta. Então a Lê me bateu mais duas ou três vezes com a almofada
em mãos, me xingando – até eu pedir trégua. Era pra você tá dormindo, inferno.
Olhei para a cara dela, sem saber onde enfiar a minha, e comecei a rir. Aí espiei
para trás, checando se a porta do quarto do Fer estava fechada.
_O Fer já
acordou?
_Não – a Lê
riu, percebendo na hora onde eu tinha passado a noite – Já sei até o que cê aprontou,
cachorra.
_Ah,
velho... – passei a mão no rosto, suspirando – Ela é demais, Lê. Cê num tem
ideia.
_Ai, ai... “É o amooor...” – ela começou a cantar, me zombando – “...que mexe
com a suuua cabeeeça e te deeeixa assiiiim”.
E claro, sucedeu-se um contrataque de almofadas da minha parte. Folgada do caralho,
revirei os olhos, rindo.
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