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novembro 27, 2010

A saga

Dez minutos antes da seis, sem ter dormido quase nada, o meu celular me despertou. A Mia ainda dormia abraçada em mim – o que tornava sair daquela cama quentinha ainda mais difícil. Cacete. O que eu não daria para poder ficar o resto da minha vida manhã com ela. Mas um dia cinza já começava a amanhecer do lado de fora e encontrar com os pais da Mia no meio da sala não estava nos meus planos. Então, me convenci a desvencilhar-me dos seus braços.
 
Andei até a estante do seu quarto e peguei o primeiro papel que encontrei – um flyer desses de farol. “Bom dia, bonita! :)”, escrevi e dobrei o papel ao meio, o colocando erguido sobre a mesa de cabeceira. Deixei a Mia dormindo e fechei a porta do seu quarto, atravessando aquele apartamento gigante o mais silenciosamente possível. Estava tão concentrada torcendo para não ter ninguém acordado que só fui respirar de novo quando cheguei no elevador e apertei o botão do térreo.
 
Ufa.
 
A rua estava deserta. Caminhei até o ponto de ônibus, naquele frio desgraçado, ainda vestida na minha calça de pijama da noite anterior. Devo ter esperado uns quarenta minutos, congelando, até a porra do ônibus passar. E quando cheguei na Frei Caneca já eram mais de 7:30. Merda. Entrei no apartamento tentando passar despercebida, fechando a porta cuidadosamente. Mas quando fui virar – puta que pariu. Senti uma pancada na cabeça, do nada.
 
_É MUITA CARA DE PAU, HEIN?! – ouvi a Lê gritar, rindo, depois de tacar uma almofada na minha cara – APARECENDO AQUI ESSA HORA!
_Mano. Fala baixo, caralho!
_ONDE CÊ TAVA, HEIN, Ô VAGABUNDA?!
 
Ela se divertia, sentada no sofá, me ameaçando com outra almofada. Me aproximei com os braços na frente da cara, numa tentativa de me proteger, e larguei o corpo ao seu lado. Exausta. Então a Lê me bateu mais duas ou três vezes com a almofada em mãos, me xingando – até eu pedir trégua. Era pra você tá dormindo, inferno. Olhei para a cara dela, sem saber onde enfiar a minha, e comecei a rir. Aí espiei para trás, checando se a porta do quarto do Fer estava fechada.
 
_O Fer já acordou?
_Não – a Lê riu, percebendo na hora onde eu tinha passado a noite – Já sei até o que cê aprontou, cachorra.
_Ah, velho... – passei a mão no rosto, suspirando – Ela é demais, Lê. Cê num tem ideia.
_Ai, ai... “É o amooor...” – ela começou a cantar, me zombando – “...que mexe com a suuua cabeeeça e te deeeixa assiiiim”.

E claro, sucedeu-se um contrataque de almofadas da minha parte. Folgada do caralho, revirei os olhos, rindo.

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