Aquele domingo, apesar de nublado, ia se tornando progressivamente
menos frio, o que me permitia ficar de boxer e moletom no quarto. A minha amiga
se entretinha sozinha, se entupindo de Coca-Cola e fuçando na vida social da ex
pelo Facebook. O que talvez fosse pouco saudável, em todos os sentidos, mas né
– quem nunca? Eu brisava na minha, deitada à toa na cama. E conforme as
horas passavam, a playlist do computador ia rodando aleatoriamente pelas
milhares de músicas que eu tinha salvas no PC.
_Do you see... do you see...
do you see how you huuurt me, baby? – eu cantarolava, com um baseado na
mão, já levemente chapada – ...so I hurt
you too... – tragava mais uma vez, entre um verso e outro, conforme meus
pés descalços deslizavam lentos pelo colchão – ...then we both get soooo bluuuuuuueeeeee.
_Ei, Joni Mitchell? Me ouviu, porra?! – me interromperam, de
repente.
Olhei para cima, ainda deitada, e vi o Fer na porta com o braço
apoiado no batente, rindo. Estava com o mesmo jeans e camiseta branca que saiu
na noite anterior e cara de quem tinha acabado de acordar.
_Pois não? – perguntei.
_Seus pais tão subindo aí. Vim te chamar... – colocou a cabeça
para dentro do quarto e riu – ...mano, tá puta marofa aqui dentro! Seus pais
não vão entrar aqui, não?
_MANO, SERÁ?! – pulei da cama, meio assustada, e a Lê achou graça.
_Relaxa – o Fer começou a rir de novo – Vai lá, meu. Eu abro a
janela...
Meti qualquer calça no corpo, enquanto ele entrava no quarto para
ajudar. Não sabia se meus pais iam, de fato, pisar ali dentro – mas era sempre
melhor evitar o desgaste. Para a minha sorte, ambos nunca souberam reconhecer o
cheiro da maconha em si. Se pudessem, certamente a minha adolescência teria
sido bem diferente do que foi. Mas aquela fumaceira acumulada não pegava bem.
Deixei o Fer lá e fui até a sala, encontrando os meus pais já do
lado de fora do apartamento. À primeira vista, meu pai estava mais gordo e
simpático do que nunca.
_Acordou agora? – ele perguntou, me abraçando pelo ombro.
_Não, acordei cedo – respondi – Espera dois segundos aí na sala, que
eu vou trocar de roupa e a gente sai pra comer em algum lugar, pode ser? Cês
querem ir lá no shopping?
_Tá. E ah! Chama o Fernando aí, quero trocar uma palavrinha com
ele.
_Seu pai comprou um laptop novo – minha mãe revirou os olhos,
explicando.
Eu ri e os deixei esperando no sofá, voltando para o quarto. O Fer
tinha acendido um cigarro normal e estava fumando na janela, enquanto
conversava com a Lê, ainda sentada na cadeira do computador. Apenas olhei para
ele e fiz um gesto para que voltasse à sala, indicando que meu pai o queria lá,
para variar.
A admiração do velho pelo Fernando, às vezes, me cansava. O Fer
viveu boa parte da nossa adolescência lá em casa e acabou se tornando o filho
que meu pai nunca teve – ou pelo menos, essa era a minha teoria. Viam futebol
juntos, se provocavam, o meu pai sobre o Corinthians e o Fer sobre o Paysandu,
um zoando o outro, aí debatiam inovações tecnológicas, de carro, falavam incessantemente
de assuntos que não me interessavam. Era o clichê da broderagem masculina. Para
ajudar a situação, o Fer não se dava lá muito bem com o próprio velho, então a
amizade com o meu se intensificou ao longo dos anos.
Agora, parei em
frente ao armário, meio brisada, preciso
de uma roupa.
7 comentários:
acho que nao consegui ser a primeira dessa vez :(
é tão gostoso acordar de bom humor *-* (e quem me dera meus pais fossem ruins com esse cheiro :x)
espero que de tudo certo no almoço da FM com os pais
Não conhecia a música, é lindaaaaaaaa *-*
Momento familiaaaaa, eh acho que ela ta precisandoo..
Papai curte demais todos menos eu kkkkkkkkkkkkkkkk
Devassa chapada, posso ver o estado... olhinhos vermelhos e fumaçal da porra kkkkkkkkkkk
ótimozão ;*
Eu sei!! Renata Campos é minha amiga!! Sério...
Mas ela acabou de casar.... com um cara....
:/
O Patife gosta disto.
Nham quem que nao gosta do Fer?T1
ee é hot aiai T1
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