- »

fevereiro 06, 2010

Devaneios

Acendi um cigarro e soltei a fumaça lentamente, contemplando enquanto ela se desfazia no ar. Aquilo me dava uma certa paz. O sexo, digo. E não porque era com a Roberta – poderia ser com qualquer pessoa. Virei para o lado e olhei para ela por um instante. O seu rosto ainda estava vermelho e o quarto todo estava quente, abafado. Ela sorriu e eu sorri de volta.
 
Voltei a encarar o teto e traguei mais uma vez, segurando a fumaça por um tempo até soltar. E foi quando a Mia apareceu na minha cabeça. Suas mangas enroladas sobre os ombros, o jeito como sorria ao meu lado na varanda. Se algum dia eu te levar para a cama, garota, não vai me trazer paz nenhuma. Só a ideia fazia as minhas pernas se moverem sobre o colchão, se reajeitando. Ia acabar com a minha sanidade, isso sim, tive certeza ali mesmo. E respirei fundo.
 
_Hum. Senti falta disso...
 
A Roberta me abraçou pela barriga, encostando a cabeça no meu ombro. Não respondi, absorta nos meus pensamentos. Dei mais um trago e o meu olhar vagou pelas curvas que o seu corpo formava grudado no meu, encaixando-se com uma facilidade natural. Como alguém pode não gostar disso?, minha cabeça divagou. Não fazia sentido. Minas héteros. Caras gays. Digo, os viados ainda consigo perdoar. Mas como diabos uma mina não se sente atraída por outras mulheres?
 
_Você tá quieta...
 
A Roberta sussurrou, me observando. A fumaça formava círculos no ar e depois sumia.
 
_Tô só brisando... – murmurei de volta, tragando mais uma vez.
_Sobre o quê?
_Sobre gostar de mulher...
 
A Roberta ergueu a cabeça, me encarando.
 
_De mim?
_Não – a resposta saiu da minha boca, desatenta.
_Mano... – ela se irritou – ...cê é tão filha-da-puta às vezes, sabia?! Acho que cê nem percebe, puta merda!
_Calma, meu. Não foi isso que eu... – vi a Rô levantar e começar a vestir a calcinha – Caralho, volta para a cama, Rô. Não é isso!
_Em quem você tava pensando?
_Em ninguém!
_Me responde! – a situação saiu subitamente do controle – Gostar de quem, então?!?
_Mano, para. Peraí, vai... Porra, de ninguém, qual é!
_EU QUERO SABER!
_DE NINGUÉM, MEU!
_Você é inacreditável...
_EU?! O QUE EU FIZ? – subi de novo o tom de voz, também – Tava aqui na minha, pensando em qualquer merda, mas que inferno...
_Bom, você pode ficar “na sua” sozinha.
 
Respondeu já vestindo a blusa de qualquer jeito, como se quisesse sair o quanto antes do meu quarto. Passei as mãos no rosto, sem acreditar que tinha me metido naquela discussão sem pé, nem cabeça em plena madrugada. Entre uma peça de roupa e outra, a Roberta mal olhava na minha cara, furiosa.
 
_Rô... Rôôô... Rô, olha para mim... Roberta!
 
Mas que droga. Por que eu fui abrir a boca?
 
_Rô, me escuta, eu não quis dizer isso. Eu não tava pensando em ninguém! Mano, eu tava só... Sei lá! – comecei a me explicar, sem acreditar naquilo – T-tava, tava pensando em gostar de mulher no geral. Foi o jeito de falar! Caralho, não fiz nada... Cê vai mesmo fazer essa ceninha toda, porra, às 3 da manhã?
_CENINHA?!
 
Ela arregalou os olhos, ofendida. Merda.
 
_Rô, desculpa. Me escuta...
_Não. Não vou escutar. Não vou, tem sempre alguém. Sempre! Eu não sei por que DIABOS eu continuo saindo com você! Porque tem sempre alguma garota, outra babaca melhor para você pensar CINCO MINUTOS DEPOIS DE ME COMER! PORRA! QUAL É SEU PROBLEMA?
_NÃO FOI ISSO QUE ACONTECEU!
_Olha, quer saber? Que se dane. Sinceramente eu tenho pena de quem quer que seja, porque se relacionar com você é impossível! Eu cansei dessa merda.
_Roberta... – me levantei, abraçando-a quase à força – ...para, meu, não faz isso.
_Eu não devia ter vindo – balançou a cabeça, com os olhos marejados – Eu sou uma IDIOTA!
_Não! Claro que não. Para com isso. Porra, linda... Não tem nada a ver! Eu juro, eu não estava pensando em ninguém.
_Como você pode falar isso pra mim, mano? Depois de me chamar aqui?! Que não sou eu?!?
_Eu me expressei mal, e-eu não sei por que falei daquele jeito. Me desculpa. Não era isso! É sério. Eu não quis dizer que tava pensando em outra pessoa. Eu s-só... meu, dois segundos antes eu tava lá, olhando pra você sem roupa, o corpo no meu, e comecei a brisar sobre, s-sobre como é bom estar com mulher, gostar de mulher. Ser sapatão, sei lá! Pensei que é bizarro que existam minas héteros. Não sei. EU NÃO TAVA PENSANDO NADA COM NADA! Me desculpa. Fiz merda, Rô. Por favor, me perdoa.
 
Faço tudo errado, mas que droga, a abraçava sem desviar dos seus olhos, arrependida. A Roberta suspirou – a verdade é que uma única resposta minha vinha carregada de tantas outras. Apoiou a cabeça no meu colo, com os braços em volta de mim.
 
E o quarto ficou em silêncio de novo.

8 comentários:

Anônimo disse...

também não entendo mulheres heteros e homens gays.

Noelly Castro disse...

Realmente o post está ótimo.. descrições muito boas.. hehe

bjs

Rrr! ;**

Anônimo disse...

Também não entendo mulher heteros e homens gays/2 --'

Anônimo disse...

posso me apaixonar por uma personagem de blog? kkk

Chris disse...

voce eh mto boa

Stella disse...

a dani me passou o blog. li tudo num fôlego, tô adorando! você escreve bem. vou continuar acompanhando a saga :)

Ma disse...

Gata vc arrasa..muito bom!

sempre fico ansiosa pra ver o resto...

AmyLy Love disse...

Puth's velho viciei serio.
Vc escreve muito bem...
Bjoss