Ficamos quietas ali, pelo que me pareceu uma eternidade. Todas as
luzes apagadas. A Mia tinha arrumado os colchões no chão do seu quarto e o meu
estava ao lado da sua cama. Duas garotas foram embora e as outras três capotaram
numa rapidez que só era possível depois da quantidade de cerveja que consumimos
nas horas anteriores. É. Exageramos. Eu estava igualmente cansada,
mas o meu coração não me deixava dormir, acelerado. Restava agora saber se o
álcool teria o mesmo efeito na Mia que teve nas amigas. Ou se, como eu, ela
também não conseguia fechar a porra dos olhos.
Então esperei. Não posso
parecer desesperada, pensava, insegura. E continuava ali deitada, olhando
para a luz que vinha da janela. Os minutos se prolongavam. E eu estranhava o
quão silencioso era o apartamento da Mia. Estava acostumada com o meu quarto na
Frei Caneca que, todas as noites, era invadido pelos ruídos ensurdecedores de
carros e viaturas e viados e a juventude porralouca
que ocupava os bares da Augusta. A calmaria dos bairros residenciais me inquietava.
Me sentia como se tivesse 15 anos de novo, deitada no meu quarto, numa rua excessivamente
tranquila em Santo Amaro.
E foi quando ouvi um barulho.
Do nada, como se alguém estivesse se mexendo no escuro, na minha
direção. Olhei para cima e não havia nada. Nada
dela. A sua cama continuava a mesma, a poucos centímetros acima de onde eu
estava deitada. Estática. Só que agora a mão da Mia pendia no ar, ali, sobrando
para fora do colchão. Quase em cima de mim. E por um tempo, fiquei observando
os seus dedos no escuro. Contemplando a forma como a luz que vinha da rua
tocava a sua mão discretamente.
O meu coração acelerou. E me senti idiota, como se estivesse na
terceira série e quisesse pegar na mão de alguma garota da minha classe. Sabe
aquele medo bobo e infantil? Pois é. Parada ali, completamente
imobilizada, olhando para a mão dela. A
que ponto eu cheguei, suspirei. E logo engoli toda aquela ansiedade
irracional – eu consigo fazer isso. Levantei
o braço e segurei a sua mão, com carinho.
De repente, ouvi a Mia falar baixinho no escuro:
_Você tá acordada?
_Tô... – sorri, ainda sem vê-la.
Ficamos em silêncio por um instante. Com a sua mão entrelaçada na
minha, ali, no breu. Até que tomei coragem e me levantei. Sentei no meu colchão,
prestando atenção se alguma das outras garotas se movia, se haviam me ouvido. E
sem fazer o mínimo ruído, subi na cama da Mia. Me deitei ao seu lado e os seus
olhos me encontraram no escuro. Ela se moveu para perto de mim e apoiou a
cabeça no meu ombro, enquanto eu colocava o braço ao seu redor. As nossas mãos
se entrelaçaram de novo. Eu a olhava e ela sorria, com o cantinho da boca.
_Gostou de hoje? – cochichou, baixo suficiente para que apenas eu
escutasse.
_Muito.
_Hum. Talvez você devesse vir mais vezes...
_Todas as que você quiser – respondi, descendo a mão pelo seu rosto.
A admirava, nós conversávamos lentamente.
_Você... – sussurrou – ...v-você faz eu me sentir estranha.
_Estranha?
_É. Fico nervosa quando tô com você...
_Eu também – confessei.
_Mas é diferente. E-eu... sei lá. Me sinto como uma criança, às vezes, não sei bem o que fazer.
Comecei a rir, em silêncio, e ela me perguntou o que era.
_É que eu tava pensando isso, nem cinco minutos atrás.
_Você? – ela me olhou de volta, eu conseguia ver apenas alguns de seus traços no escuro – Por quê?
_Porque eu queria segurar a sua mão e não sabia como.
_Mas agora você já tá segurando...
_Agora eu não tô mais nervosa – cochichei.
E Tentando não fazer barulho, me aproximei do seu rosto, encostando
a pontinha do meu nariz no dela. Fui virando o meu rosto lentamente, como se
deslizasse pelo seu. O breu escondia os nossos movimentos. Senti a sua respiração morna sobre a minha pele e fechei os meus
olhos, até enfim nos beijarmos.
E é. Era mentira – eu estava nervosa pra caralho.
_Tô... – sorri, ainda sem vê-la.
_Muito.
_Hum. Talvez você devesse vir mais vezes...
_Todas as que você quiser – respondi, descendo a mão pelo seu rosto.
_Estranha?
_É. Fico nervosa quando tô com você...
_Eu também – confessei.
_Mas é diferente. E-eu... sei lá. Me sinto como uma criança, às vezes, não sei bem o que fazer.
_Você? – ela me olhou de volta, eu conseguia ver apenas alguns de seus traços no escuro – Por quê?
_Porque eu queria segurar a sua mão e não sabia como.
_Mas agora você já tá segurando...
_Agora eu não tô mais nervosa – cochichei.
19 comentários:
coitado do Fernando! A Mia descobriu uma das 8 maravilhas do mundo! ahahahhaa
Olha só, no sábado por algum motivo que eu não sei qual, encontrei o seu blog. (Ou teria sido na segunda-feira?) Li todos os posts (alguns mais de uma vez) e estou aqui, todos os dias, ansiosa por saber o que vai acontecer. Sabe o que é pior? É uma coisa tão "universal", em algum momento todo mundo já se sentiu pelo menos próximo disso.
Ai, como é complicado!!
Parabéns, você escreve REALMENTE muito bem. XD
beijos
otimo....
Hhuhauhauaha!!!!!
Tah lindo! ADORO !!!
Cada vez melhor *--*
Parabens :*
Muito bom!
Ansiosa pelos próximos ;*
*.*
Nossa, muito bom mesmo!
Começei a ler o blog a pouco tempo e viciei!
Parabeens ;)
beeijos!
A Mia descobriu a MAIOR maravilha do mundo (6)
aiii aiaii quero maisssss
posta varios de uma vez hahah
brincadeira, assim nao teria graça!!
Acho que tem uma bloqueira feliz com tanto comentários..
E.. acho que tem várias leitoras felizes com tanta pegação..
ps.: aww! Tenho um carinho por este blog
Rrr!;)
Nossa q fofis,amei
Euzinha, as 3 da manhã, lendo num domingo, tendo aula amanhã de manhã, aliás, relendo e não conseguindo parar *.*
Que lindo.
É claro que estava mentindo, meu hahahahahaha nervosismo.
Depois desses meses lendo o blog, eu confesso q tenho uma certa raivinha da Mia (e amo a Clarinha *-*). Mas assim, lendo tudo de novo, eu consigo entender o pq da FM ainda ser tão ligada nela. E talvez depois dessa re-leitura eu vire Team-Mia (acho q exagerei kkk'). Tem muita coisa q eu tinha esquecido! Amando ler de novo <3
É o tipo de história q vc lê mil vezes e se apaixona e se envolve mil vezes com as personagens!
Não lembro de ter dado muita bola pra esse post quando li a primeira vez, mas como disse a Camys, parece que quanto mais a gente lê, mais se envolve.
Esse é lindo, nhom *-*
É um dos posts mais delicados
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