O ônibus de volta para Jardins estava vazio. Ou quase. Um playboy
babaca falava irritantemente no celular, em alto e bom som, bem ao lado do
pobre cobrador. Que "maravilha", pensei
sarcasticamente, ao passar pela catraca. Sentei o mais longe que pude, no
fundo, e apoiei os pés no banco da frente.
Olhei para o lado e um velhinho me encarava, como se desaprovasse
o meu descaso com os meios de transporte público. Algum problema?, o encarei de volta. Então ele levantou as sobrancelhas, impaciente, e indicou o moleque
rapidamente com os olhos. Comecei a rir e concordei com a cabeça. Sem dizer
nada. Velhinho simpático, pensei. E
coloquei os meus fones de ouvido. Deitei a cabeça para trás, numa tentativa
inútil de descansar o que não havia descansado naquela noite.
Fracasso total.
A Mia continuava na minha cabeça. Não conseguia tirar ela de lá.
Ficava revivendo cada segundo da noite anterior – mas algo me incomodava. Me
sentia irritada. Talvez porque não havia dormido nem meia horinha ou quem sabe por
causa da Michelle, que resolveu passar o sábado com a minha – minha? – garota. Fui praticamente
enxotada do apartamento da Mia quando a infeliz resolveu arrastar ela para a
sua casa e não me convidou. Inconveniente.
Agora eu voltava, com sono e desacompanhada, para o meu apê na Frei Caneca.
Puta merda!
Do
nada, o ônibus passou por um buraco e eu bati a nuca violentamente no banco. Sentei
reto e decidi não tentar mais dormir, a fim de preservar a minha integridade
física. Sabe como é. Argh. Que vontade de estar com a Mia agora,
lamentei. O problema era que, de
repente, a noite anterior já não parecia mais a maravilha que realmente foi.
Talvez fosse a ressaca ou o meu azedume matinal, resultado direto da amiga
empata-foda e do playboy que coexistia escandalosamente comigo no ônibus, não sei. Mas algo revirava o meu
estômago.
É. À luz do
dia, a imagem da Mia se misturava com a do Fernando.
E eu me sentia um lixo. A pior amiga do universo. Não tinha
desculpa para aquela filha da putice monstra, não desta vez – eu tinha agido
com total consciência e falta de escrúpulos. Essa foi pra valer, pensei. E me incomodei comigo mesma, sentada no
banco do ônibus, sem conseguir lidar bem com o que tinha feito. Após inúmeros
esforços e investidas frustradas, eu finalmente tinha pegado a namorada do meu
melhor amigo. Que merda eu fui fazer?,
balancei a cabeça, tentando fugir da responsabilidade.
Desci na Av. Paulista e caminhei pela minha rua, sentindo o peso
de cada tonelada da minha consciência. Os meus passos pareciam afundar o chão,
de tão nervosa que eu estava. Acendi um cigarro e, antes que o acabasse, já
tinha chegado na porta do prédio. Respirei fundo. Joguei o cigarro ainda aceso
na sarjeta e entrei. Não estava pronta para encarar o meu melhor amigo. Droga. No elevador, tudo o que eu
conseguia pensar era na cara do Fernando e na porra do orgasmo da Mia. A culpa era minha – em todos os sentidos.
Parei na frente do nosso apartamento e ouvi algum som qualquer ao
fundo. Isso é Sepultura?, estranhei.
A música me indicava que o Fernando estava em casa. Bosta. O que diabos eu vou
falar? Passei a mão no rosto, ansiosa.
O problema não era mentir. Eu
sabia mentir, podia mentir facilmente para qualquer garota, pai, mãe, chefe ou segurança
inconveniente de balada. Mas para o Fernando, não. E menos ainda nessas
circunstâncias – eu não ia conseguir viver comigo mesma.
Abri a porta. Sentia todas as minhas entranhas se contorcerem, angustiada.
O som do rádio dominava a sala inteira, num volume inacreditável. É, é Sepultura. Não vi ninguém ali,
então gritei qualquer coisa à procura de quem quer que estava ouvindo àquela
barulheira dos infernos, para que desligasse. E o Fer logo apareceu do
corredor. Estava só de jeans, exibindo as tatuagens, e com uma cara de quem
havia acabado de acordar. Ou de trepar. Os seus olhos pareciam estranhamente
surpresos em me ver ali. E foi quando vi, atrás dele, a Júlia – a tal ex
hipsterzinha de merda.
Ahh,
cachorro.
18 comentários:
acho que agora ela nao precisa mais ficar com a conciencia pesada XD
mto bommm
parabenss mel :D
;*
É agora o bicho vai pegar...Huahuahua...!!!
Estar com a Julia resume que a Mia não é tão importante assim pra ele, e isso deixa as portas beeem abertas para a nossa protagonista querida...
O Fer só ajuda! xD
Que maravilha isso aqui!!! Li tudo em dois dias e ando ansiosa/nervosa para os proximos capitulos!!! Aquele abraco frio dos EUA!
boaaa ;D
Tá bom, mas venhamos o Fer interessado ou não na Mia, não vai perdoar a amiga... Certo? Esse já era!
Anyway, quando chega o próximo capítulo?
Olá, soube do blog pele sua entrevista no saite Dykerama e estou adorando oq eu já li, e estou anciosa para saber o que vai acontecer daqui pra frente. Meus parabéns pelo blog Mel M Beijo.
Tô adorando o blog e ansiosa pelo proximo post... Parabéns pelo blog, sucessoooo linda!
ah, Mel... assim fica fácil!
Só eu que sinto uma tara pelo fer?
enfim ...
maaais
;*
Aaaah, adoro
Fer pilantrinha... :o
Ansiosa pelo proximo post.
õ/
eitaaaa...
e agora?
ai meu deus do céu...sabe que xifre trocado não dói,né...rs...esse Fernando também é filho da puta,hein...tadinha da Mia!
to ansiosa...posta logo,hein!
e parabéns de novo!
Nossaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa!!!!!!!
Ctz que a consciência emagreceu 10kg!!!!!!!kkkk
Puta merda heim! A história ta cada vez + enrolada!!!A-D-O-R-O!!!
Bjaummmm lindona!!!
Nosssa achei seu blog hpje super por acaso e amei li toda historia ...e agora estou ansiosa pela continuidade da mesma !!!
voce é otima com as palavras
parabens muito bom
Tara pelo Fer? Nãã...
Tara pela Mia!! ;P
Ansiosa para o próximo!
Beijo.
Nossa, vc ta super de parabens, virei fã total desse blog! So hoje ja entrei umas mil vezes pra ver se vc ja tinha escrito mais...queremos maisssss :) parabens viu! beijos!
Fiquei sabendo do blog pelo dikerama e adorei! Li tudo em algumas horas...
Vc escreve super bem e sabe construir muito bem os personagens. Estou realmente impressionada! Parabéns!
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