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janeiro 07, 2010

4 a.m.

Todo mundo já tinha ido dormir há horas, menos eu. A porra da Mia não saía da minha cabeça. Aquela conversa me tirou o sono, a paciência, a sanidade. Eu estava inquieta. Não sabia o que pensar, nem o que fazer comigo mesma. Todos os cigarros que eu acendia acabavam esmagados no cinzeiro depois da segunda ou terceira tragada. Era inútil. Não sabia sequer o que sentir – não conseguia decidir se nós só havíamos conversado, de fato, ou nos metido numa discussão passivo-agressiva do caralho. Filha da mãe. Aquilo tudo me irritou desde o começo, mas alguma coisa me sugeria que eu não estava entendendo a situação por completo.
 
Não. Não pode ser ciúmes, eu pensava, mas não conseguia me livrar da ideia.
 
A Mia me confundia, sempre foi assim. Aquilo me tirava do sério. É só eu achar uma mina decente, alguém que eu gosto, que você vem e faz isso comigo. De repente se interessa. Porra. Não tem mais ninguém para você ir torturar? Isso é cruel, Mia. Cruel. Que merda foi aquela?! Eu não posso nem me divertir um pouquinho. Não posso curtir um dia que seja. Não sem pensar em você, sem estragar tudo. Sem ter você me emboscando na droga da cozinha no meio da noite, enquanto seu namorado tá na sala ao lado. Não posso fazer nada. Nada. Estou presa e acorrentada e afogada bem no fundo desse seu pocinho de malevolência. Por toda a maldita eternidade, aparentemente. Argh.
 
Eu quase podia vê-la portando um par de chifrinhos e um tridente. A ideia me divertia – você é diabólica, Mia, eu pensava, mas o meu estômago logo embrulhava em angústia. A verdade é que talvez a Mia não tivesse consciência alguma de como me machucava. De como cada palavra e gesto seu me afetavam violentamente – ainda mais os daquela noite. Era cruel, sim, mas de forma alguma intencional. Enquanto eu, por outro lado, sabia muito bem o que estava fazendo. E era capaz, conscientemente, de causar um mal ainda maior à Mia caso continuasse me comportando como uma adolescente apaixonada e inconsequente.
 
Para piorar a situação, tinha toda aquela vontade... dela. Céus. Só ficar no mesmo lugar do que a desgraçada já me desestruturava. Não conseguia tirar os olhos da Mia, numas tensões silenciosas. Ficava nervosa, agia como uma trouxa. Acho que nunca quis tanto alguém assim. Não importava o quanto, às vezes, ela pudesse me irritar – com aquele seu jeito de me fazer questionar a minha sanidade, cacete –, tudo o que eu queria ainda era segurá-la com toda a minha força e não soltar mais. Me perder nela. Podia gastar, juro, o resto da minha vida beijando a boca daquela mulher. Puta merda, suspirei. Ela era incrível e o meu coraçãozinho não tinha chance alguma desde a primeira vez que eu a vi. Esfreguei as mãos no rosto, angustiada, me sentindo terrivelmente errada. Inferno.
 
Quando, de repente, alguém bateu na porta.
 
Todos os pensamentos que me atormentavam sumiram subitamente e eu me encontrei sozinha no meu quarto, de novo. Mas o que...? Já estava tarde, plena madrugada. O silêncio contaminava há horas cada canto do apartamento. Tirei os pés de cima da escrivaninha e levantei da cadeira, em direção à porta. Levei a mão até a maçaneta e, quando abri, a vi ali. Mia? Estava em pé no corredor, só de blusão e com as pernas de fora. Tinha os olhos inchados, parecia estar acordada há tanto tempo quanto eu.
 
_N-não consigo dormir... – sussurrou, já soando arrependida.
 
Havia uma certa fragilidade melancólica na sua voz.
 
_E-eu também não... – respondi, sincera, a olhando de volta – ...você não quer entrar?
_Não! – ela hesitou, como num susto.
 
Seus olhos estavam cheios de lágrimas, retidas com certa dificuldade. E ela tremia na minha frente, prestes a desmoronar. Caralho. Eu não sabia o que fazer. Parecia cansada, física e emocionalmente exausta, desesperada por um pouco de paz. E me olhava, insegura – como se ansiasse por um gesto meu, por qualquer solução para aquilo tudo. Meu coração disparou.
 
E assim, sem pensar, eu a beijei.

12 comentários:

Marcella disse...

Ai que orgulho de ser sua namorada! Ahahaha
Parabéns, gatinha... isso só fica melhor a cada post ;*

Noelly Castro disse...

aeee.. novela das oito, que acaba nos melhores momentos..

Hoje eu robo aquele caderno, sabe pq? to viciada. E é como trauma, não se explica...

ps.: dps do beijo.. agora vamos esperar por algo que consegue ser melhor, o sexooo! hehe

RrrRr!

Bruna disse...

vai se ferra q acaba assim, cadê o proximo???????

ta maravilhoso o blog!! sempre!!!

Isabela Kanupp disse...

Agora quero maiss! hahaha
muito bom!

Dea disse...

a Mah TEM que se exibir, né? tsc tsc!

meu, eu engoli seu blog inteiro em uma hora. eu já tinha entrado aqui, dado uma fuçada, mas nunca tinha tempo pra ler. hoje, como os passeios terminaram cedo, resolvi atacar. meeeeeeeeeu, você deveria fazer uma mini-série pós meia noite na Globo a lá L Word!

tá MUITO bom! termina hoje!!!!!!

Mikaylla disse...

aaaahhh agora o próximo que é o fundamental! hauhaua
Tô ansiosa pra ler. Bjo

Anônimo disse...

descobri o blog hoje numa comunidade qualquer no orkut. cliquei meio sem fé, mas adorei.

história envolvente, marcante
já coloquei nos favoritos :D

Luh disse...

Enfim saiu esse beijo .. tô adorando o blog e olha que eu nunca tive paciência p ler nada em blog..rsrs

Diana Banana disse...

Nesse post me escapuliu uma lágrima (L)

Gica disse...

Quero isso comigo e com a minha anjelita ......:'(
Araaaa Mel, me ajuda,
I'm love sick ...........

Roberta disse...

Caralho, se eu disser que chorei, acredita?

Roberta disse...

Caralho, chorei, mesmo