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janeiro 08, 2010

Ex-namoradas

Resolvi encontrar a Marina para um almoço no meio da semana e contar-lhe a história toda. Já fazia duas semanas e meia desde o beijo – a Mia continuava sumida e eu, desesperada. É. Eu preciso da Marina.
 
A Marina era uma ex-namorada minha que, alguns anos depois, tornou-se uma grande amiga. Não nos víamos há um tempo e logo me lembrei o porquê: encaixar os nossos horários foi uma tarefa ingrata e quase impossível. Ela estava trabalhando como jornalista numa revista e passava o dia correndo de um lado para o outro, sem horários fixos e nem tempo para respirar. Já eu ganhava os meus míseros 60 minutos de sempre – a serem consumidos na mesma hora, todo santo dia.
 
Com um atraso significativo, ela chegou para o nosso encontro em um bistrô próximo ao estúdio onde eu trabalhava, na Vila Madalena. De todas as minhas ex-namoradas, a Marina era de longe a mais culta e a mais desastrada – o que era bem charmoso, para ser sincera. Ela tinha o cabelo preto e encaracolado, frequentemente preso numa trança lateral, e estava sempre numas roupas de linho em tons terrosos. Sorriu ao me ver sentada ali e puxou uma cadeira. Ah, eu amava aquela garota.
 
Assim que se juntou a mim na mesa, começou a resmungar sobre ter ficado presa numa entrevista “com um mala que não parava de falar”. E revirou os olhos, erguendo o cardápio em frente ao rosto. A Marina detestava chegar tarde para qualquer coisa e, às vezes, eu me perguntava se tinha escolhido a carreira certa. Ou talvez fosse uma daquelas profissões tão caóticas que exigem pessoas muito mais organizadas do que o normal? Sei lá. Só sei que eu não sobreviveria um dia sequer no ramo.
 
Passadas as reclamações iniciais, chegou a minha vez de me lamentar. E como a Marina já sabia do meu encantamento pela Mia, por conversas anteriores que tivemos, não foi difícil inteirá-la sobre os últimos acontecimentos.
 
_Hum, assim? Sem mais, nem menos? – perguntou, interessada.
_É! Simplesmente beijei. Caralho, Má, eu sou uma completa idiota... IDIOTA!
_E ela não disse mais nada?!
_“Por que cê tá fazendo isso comigo?” – revirei os olhos – E eu, e-eu não consegui responder!
_Bom, isso é sugestivo... – analisou – Mas ela te beijou de volta?
_Não sei... Mais ou menos – a Marina me olhava, insatisfeita com a resposta – Ah, sei lá, Má... Ela não me impediu, mas também não fez porra nenhuma! Não foi um “beijo beijo”, sabe?
_Mas ela parecia brava? Digo, depois, ela ficou brava?
_...mais pra assustada. Ela tava triste, e-eu não sei – a lembrança dos olhos da Mia surgiu na minha cabeça, de repente – M-mas era estranho, não parecia ser comigo...
_Com quem, então?
_Não sei – respondi, acendendo um cigarro, ainda nervosa.
_É. Meio difícil de entender... – ela parecia refletir, com os olhos focados acima da minha cabeça, perdidos no espaço – Quer dizer, achei que ela tinha batido na sua porta pra isso, não?
_Foi o q-que eu achei também... Mano, MAS QUE MERDA! – amassei o rosto com as mãos, com raiva de toda a situação – Eu me senti como se fosse a droga do namoradinho de infância dela, sabe? Partindo a porra do coração dela com aquele beijo, do nada. E e-eu não sabia o que falar depois... Tipo, em minha defesa, sabe. Fiquei lá parada. Ai, Má, acho que interpretei tudo errado. Foi um desastre!
_Olha, eu acho... – a Marina conteve um sorriso – ...que ela está saindo do armário.
 
Fiquei parada, olhando-a, sem acreditar no que ouvia.
 
_Não... – comecei a rir – ...você escutou uma só palavra do que eu te disse?
_Por que outro motivo a garota apareceria chorando na sua porta em plena madrugada?!
_Por um bilhão de motivos! Porque tava incomodada com a nossa discussão, sei lá! – eu retruquei – Ela não tava esperando aquilo. Eu vi na cara dela! Nós somos amigas, Má! E ela namora. Pior, ela namora o Fer – a ideia me consumiu por um instante e eu me frustrei – Sabe, ela, e-ela voltou pro quarto dele depois... De volta pros malditos braços d-dele. Passou a noite lá, Má! E depois sumiu!
_Ela tá confusa, linda...
_Não tá. Eu que tô confusa! Eu é que não sei mais porra nenhuma do que tá acontecendo – me desesperei – E fora que ela mora em São Paulo, caralho, essa é a cidade mais viada do país. E ela vive indo nos rolês da Augusta, e-ela já tem 20 anos, mano...  ELA NÃO TÁ SAINDO DO ARMÁRIO!
_Isso não quer dizer nada. Até aí, quantos anos eu tinha quando a gente começou a sair? – a Marina deu de ombros – Eu já tava na faculdade...
_É diferente. A Mia é toda, sei lá, livre e porralouca. Não faz sentido! – balancei a cabeça – Outro dia mesmo ela tava me contando que foi expulsa da Pizza Hut quando tinha 17 porque deu prum moleque no banheiro, porra. Se ela quisesse pegar mina, já tinha pegado!
_Escuta o que eu estou te falando...
_Não, não... – eu ri.
 
Eu adorava a cara de gênio incompreendido que a Marina fazia, por trás dos seus óculos pretinhos de intelectual, quando achava que já tinha entendido tudo.
 
_Você tá em negação. Você e essa menina. Você mesma disse que não sente que ela é 100% hétero! Os sinais estão todos aí, na boa, depois não vem dizer que eu não te avisei...
 
Antes que eu pudesse me defender, o garçom apareceu ao meu lado, pedindo que eu apagasse o cigarro. Porcaria de lei antifumo. E enquanto eu guardava o maço no bolso, emburrada, a Marina retomou:
 
_Olha, essas coisas levam tempo. Provavelmente vai demorar bastante pra ela...
_Pra ela o quê? – eu interrompi, achando graça.
_...pra ela se assumir – ela concluiu e eu comecei a rir de novo, imediatamente negando com a cabeça – e isso vai acontecer cedo ou tarde – a Marina enfatizou – mas não acho saudável você ficar sofrendo pela garota, sabe, ficar aí esperando ela aparecer. Ela não vai resolver isso da noite para o dia. Leva tempo.
_Mas, meu... Não é como se eu quisesse estar nessa situação, né? Eu não consigo evitar, porra. Sei lá, acho que eu preciso de algum desfecho, sabe? Ter certeza de que ela não me odeia, saber como vamos ficar agora, se vai ser uma merda toda vez que a gente se encontrar, mas... M-mas ela não aparece na porra do apartamento! – suspirei, irritada – Eu só queria um sinal de que eu não fodi de vez com tudo, de que tá tudo bem. Qualquer sinal. É ruim demais não saber porra nenhuma!
_Calma...
_Eu não sei, Má... Não sei mesmo o que eu faço para tirar ela da minha cabeça, de dentro de mim, da minha vida...
_Sai, meu!
_Sair pra onde???
_Vai para a balada, sei lá! Vai se divertir, encher a cara, pegar uma dessas tontas que ainda te dão bola, fazer o que você faz de melhor... – ela riu – ...esquece ela um pouco. De-sen-ca-na! Uma hora essa Mia aí aparece...
 
É fácil pra você dizer, né, pensei.

5 comentários:

Nana disse...

AMO seu blog! jah espalhei pra td mundo!!!! :DD

lu disse...

Cê sabe que eu quase cai nessa dela (FM) sair pra balada pra esquecer a Mia! Mas aí, o mundo já tava virado! E, nesse caso, tá claro que a Mia tentou frear as coisas!
Eu declaro a Mia: Inocente! Bom... pelo menos até aqui! :/

Camyla disse...

Ooown, a primeira aparição da fofa da Marina *-*
(Na falta de post novo, relendo o blog :D )

Anônimo disse...

Marina LIIIIIIIIIINDA!

@livia_skw disse...

Marina 'grilo falante' <3