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janeiro 07, 2010

Bang, bang!

Era quase meia-noite quando saí de novo do quarto. A noite estava terrivelmente abafada e o ar quente pesava sobre meu corpo. Já fazia duas horas desde que a Clara tinha ido embora e o Fer estava ocupando todo o sofá com a Mia numa longa maratona de filmes ruins. Não senti vontade alguma de me juntar aos pombinhos, então me limitei a perguntar do corredor se tinham alguma maconha sobrando. Mas também estavam zerados. Merda.
 
Eu tinha fumado toda a minha com a Clara. E agora, num tédio tremendo, procurava algo para fazer. Qualquer coisa. Sentei na pia da cozinha com uma garrafa de Bacardi na mão, sem muita criatividade, e me mantive entretida com o movimento da luz refletida no rum. Nesse nível de tédio, é. Algum tempo depois, nem dez minutos, para a minha surpresa a Mia entrou pela porta. Sozinha. Olhou rapidamente para a garrafa que eu estava segurando e aí riu, meio irônica:
 
_Nossa, achei que o seu dia tinha sido bom...
_O meu dia foi ótimo – respondi, um pouco ríspida, incomodada com o tom dela – Por quê?
_Sei lá, cê tá aí com uma garrafa na mão...
_E cê só bebe quando tá mal? É isso?
_Sozinha, sim.
_Bom, nesse caso... – sugeri – ...toma aí comigo, então.
 
E como se eu a desafiasse, a Mia chegou perto de mim. Bem mais do que deveria, considerando que o seu namorado estava logo ali na sala. Tão perto que os meus joelhos esbarraram no tecido da sua blusa. Bem de leve. O que cê tá fazendo, garota? E aí, sem dizer nada, pegou a garrafa da minha mão e virou um gole. Mantendo os olhos grudados nos meus o tempo todo.
 
Por algum motivo, a sua atitude me irritou. Não é como se a gente nunca bebesse juntas – normalmente a gente nem se largava –, mas desde o dia do Inferno a Mia andava estranha comigo. Ficou ali me observando, sem se mover um milímetro, enquanto eu colocava minha mão por cima da sua, tomando a garrafa dela. Levei o gargalo até a boca e virei outro gole – os seus olhos pareciam tentar penetrar os meus. Insistentemente.
 
_Cê sempre gostou de minas? – disse, do nada.
 
E eu quase engasguei. Como é?
 
Forcei o rum garganta abaixo e a encarei de volta, surpresa, por uns segundos. Ainda podia ouvir o filme rolando ao fundo no outro cômodo. A Mia me fitava com seriedade, à espera da resposta. Onde cê quer chegar com isso, garota? As possibilidades faziam o meu coração disparar precipitadamente. Tentei me acalmar e tomei mais um gole antes de responder – “sempre”.
 
_Sempre?
_É. Mas algumas garotas demoram mais para perceber o que realmente querem...
_O que “realmente querem”? – ela levantou a sobrancelha e riu, repetindo tudo o que eu dizia.
_É – ergui o queixo, com certa arrogância – O que realmente querem.
_Hum. E o que você quer?
 
O meu coração estava prestes a sair do meu peito. Podia sentir o som quase escapar da minha boca: você.
 
A Mia se movia com certa insolência, instigante, e eu precisava me controlar. Isso tá mesmo acontecendo?, respirei fundo. Não posso falar a verdade. E então não lhe disse nada – não sabia o que responder além do óbvio. Fiquei tentada a lhe devolver a pergunta, por um instante, mas me contive. Bebi mais um pouco. O silêncio se estendeu e a Mia fez um gesto, impaciente, como se insistisse numa resposta.
 
_O que exatamente você não entendeu? – a questionei.
_Como assim?
_Achei que cê já sabia que eu gostava de mina – falei, quase ofendida, e ela confirmou com a cabeça – Então... que parte você não entendeu?
_Acho que não faz sentido para mim... – soou genuinamente confusa – ...n-não consigo entender o, o que cê acha de, de tão interessante em garotas.
_Nossa... – eu ri – ...você realmente não consegue pensar em nada?
 
Contive o meu riso e bebi mais um gole, antes de colocar o rum de lado. Aí me apoiei na pia, com as mãos ao lado das pernas, projetando o corpo para a frente, e olhei a Mia nos olhos. Quer mesmo saber, garota?, arqueei a sobrancelha. E então desci o olhar, indiscretamente, acompanhando cada centímetro dela ali. Na minha frente. Cada curva que eu já tinha memorizado tão bem, da que sua pele fazia ao redor da boca quando ela sorria ao jeito que suas coxas se encostavam. E senti uma vontade desgraçada de puxá-la na minha direção, cacete.
 
_Eu gosto de mulheres... – disse, por fim, e os seus olhos não desviaram dos meus – ...pelo simples fato de serem mulheres.
_Hum... – murmurou – ...e você, v-você gosta dessa Clara, não é?
_Gosto.
 
Agora me pergunta de quem mais eu gosto, porra.
 
_P-por quê?
_Bom... – comecei a rir de novo – ...porque a gente se dá bem, o papo flui, ela é interessante, o sexo é ótimo... sei lá, Mia, o de sempre.
_“O de sempre”?
_É, ué... Eu só saí com ela duas vezes, não é como se eu já tivesse encontrado razões suficientes para amar a menina... – achei graça e ela pareceu se irritar com a minha atitude – Por quê? Você não gosta dela?
_Não, n-não é isso. É só que... – argumentou com desdém – ...sei lá, você nem sabe quem ela é. Quer dizer, v-vocês acabaram de se conhecer, mas mesmo assim cê já parece que tá toda afim dela, meu.
 
Virou moralista agora, ah pronto.
 
_E eu tô afim mesmo – emendei levemente alterada – Só não sei por que você tá achando ruim...
_Não disse isso!
_Não sei, né, cê tá aí com essa cara, meu...
_N-não acho ruim, não falei isso, porra, só não entendo c-como você... conhece alguém na balada num dia e, e no outro já tá gostando assim!
_É o que toda sapatão faz... – brinquei e ela não entendeu a piada.
_O que isso quer dizer?
_Nada. Olha... – puxei um cigarro do meu maço, perdendo um pouco a paciência –...é só uma garota, Mia.
_Eu sei, caralho, e-eu não acho ruim! – se atrapalhou um pouco para falar, agitada – Mas é, é só que c-cê passou o dia inteiro com ela e, e...
_...e não com você? – a interrompi.
 
Me arrependi do comentário assim que o fiz. Bosta. A Mia ficou quieta na mesma hora. Abaixou a cabeça, desconfortável, e nenhuma de nós fez nada. Nada. Por segundos insuportáveis, até que o Fer a chamou da sala. Argh. Então ela se virou, como se nossa conversa já tivesse terminado, e foi em direção à porta. Pulei em pé no chão, com o cigarro na boca, e deixei a garrafa na pia. A Mia se virou e me olhou mais uma vez, forçando um sorriso, sem intenção alguma de parecer sincera:
 
_Bom... cê certamente parece feliz – comentou.
_Você ficaria surpresa, gata.
 
Ela ergueu as sobrancelhas, com indiferença, e eu a olhei sair.
 
Droga.

2 comentários:

Lari disse...

catfight! huahsuahsuua

isso ta demais demais!! cada vez melhor! posta logoo o resto meww

bjss

Gehh Santos disse...

"Eu não presto" Ainda bem que assume, hsuhaushaushauhusa =)