Não vi a Mia por uns três dias e, na quarta-feira, meu pai me
ligou. É, o meu pai. Aquele bonachão
adorável e ocupado que raramente entrava em contato comigo. Não que nós tivéssemos
motivos para não ligarmos um para o outro – nós dois simplesmente não gostávamos
de telefone. Sempre restringi o meu uso a situações de real necessidade, um
hábito que certamente puxei dele já que a minha mãe era a própria reencarnação
duma telefonista.
Sendo assim, me surpreendi ao ver o número do meu pai piscando na
tela do celular. Larguei o trabalho e o atendi. Estava com saudades de ouvir
sua voz. Já logo na primeira frase fui intimada a encontrá-lo para jantar. A
ligação chegou em boa hora – eu estava faminta e a quantidade absurda de álcool
comprada para a festa havia acabado com todos os meus últimos centavos.
O meu pai era um paulistano convicto – ainda que tenha nascido
numa cidadezinha de interior. Veio para São Paulo uns anos antes de conhecer a
minha mãe e, desde então, raramente pisava para fora do seu mundinho em Santo
Amaro. Era um tanto bairrista. Mas aquela quarta-feira era uma exceção: um fornecedor
qualquer o arrastou para as redondezas do estúdio onde eu trabalhava. Eis o porquê do telefonema, concluí. E
sem pensar duas vezes fui encontrá-lo num restaurante a poucas quadras dali,
assim que terminou meu expediente.
_E então... – perguntou, pouco tempo depois de começarmos a comer
– Como vai no emprego?
_Vai bem. Sei lá, normal. Muita coisa para fazer...
_E em casa, tudo bem?
_Tá, sim.
_Como vão as coisas entre você e o Fernando? – ele me olhou, forçando um olhar de “sogro” na minha direção – Hum?!
_Pai... O Fernando não é meu namorado, você sabe disso. Nós somos só amigos.
_Isso é o que você continua me dizendo, mas aquele garoto gosta de você – ele continuou, como se estivesse coberto de razão – Confia no que eu estou te dizendo. Eu sei como é...
_Não – eu ri – Escuta você o que eu estou dizendo: o Fernando gosta de garotas que gostam de garotos, como ele. E não de outras minas, que nem eu.
_Ah. Por favor! – me zombou – Vocês não desgrudam desde que eram pivetes!
Cê também não desgruda do pai dele, o encarei,
achando graça, e nem por isso eu tô aqui fazendo planos pro casamento de
vocês. A piada era antiga entre as nossas famílias. Todo mundo sempre achou
que íamos acabar nos casando. E apesar de ser o maior sonho do meu pai, na
esperança de que alguém me salvasse da sapatonice, provavelmente era o pior pesadelo
do pai do Fer. Os dois se conheciam através dum primo do meu velho, que eu
mesma nunca conheci. Meus pais ajudaram a família o Fer a se instalar na cidade
quando eles se mudaram para São Paulo, quando o Fer tinha 9 anos, e desde então
ficou todo mundo muito amigo. Dois anos depois, ele passou a estudar na mesma
escola que eu e nos tornamos inseparáveis. E terríveis.
_Eu nunca vejo ele com outra garota – meu pai retomou – Tá sempre aí,
com a minha filha linda, é ou não é?
_Nossa, pai... – balancei a cabeça, com uma careta de quem acabou de ouvir a maior besteira – Que absurdo. O Fer tá sempre com alguém, meu. Inclusive tá namorando!
_E quando vocês casam? – sorriu, com uma certa ironia.
_Não comigo... O nome dela é Mia.
_Mia? – ele colocou mais uma garfada na boca, falando de boca cheia – Sou mais a minha filha.
_Céus...
_Mas essa tal de Mia aí, você gosta dela?
Eita, quem te contou?
Me diverti em pensamento, o olhando à
espera da resposta – era estranho ter que explicar quem era a Mia para o meu
pai. Deixa eu ver, refleti, como posso
resumir? Gosto, pai, gosto mais do que deveria, muito mais, passo o dia inteiro
pensando nela, obsessivamente, é uma pena que o Fer chegou primeiro e, sim,
estou apaixonada, perdidamente apaixonada, a gente até já se pegou uma vez e
agora não estamos nos falando direito, mas sabe como é, né pai, coisa de amiga.
_Ah... – disse, por fim, evitando qualquer resposta sincera – É boa
gente, sei lá. Normal.
_Sei.
_Nada demais.
_Eu sabia! – ele riu – Sabia! Me diz se isso não é ciúmes do Fernando? Tá na cara!
_Pois é, pai, pois é...
Concordei, rindo, a fim de não prolongar o assunto. E voltei a
encarar a comida no meu prato, involuntariamente pensando na Mia. De novo. Droga.
_Vai bem. Sei lá, normal. Muita coisa para fazer...
_E em casa, tudo bem?
_Tá, sim.
_Como vão as coisas entre você e o Fernando? – ele me olhou, forçando um olhar de “sogro” na minha direção – Hum?!
_Pai... O Fernando não é meu namorado, você sabe disso. Nós somos só amigos.
_Isso é o que você continua me dizendo, mas aquele garoto gosta de você – ele continuou, como se estivesse coberto de razão – Confia no que eu estou te dizendo. Eu sei como é...
_Não – eu ri – Escuta você o que eu estou dizendo: o Fernando gosta de garotas que gostam de garotos, como ele. E não de outras minas, que nem eu.
_Ah. Por favor! – me zombou – Vocês não desgrudam desde que eram pivetes!
_Nossa, pai... – balancei a cabeça, com uma careta de quem acabou de ouvir a maior besteira – Que absurdo. O Fer tá sempre com alguém, meu. Inclusive tá namorando!
_E quando vocês casam? – sorriu, com uma certa ironia.
_Não comigo... O nome dela é Mia.
_Mia? – ele colocou mais uma garfada na boca, falando de boca cheia – Sou mais a minha filha.
_Céus...
_Mas essa tal de Mia aí, você gosta dela?
_Sei.
_Nada demais.
_Eu sabia! – ele riu – Sabia! Me diz se isso não é ciúmes do Fernando? Tá na cara!
_Pois é, pai, pois é...
3 comentários:
uhnn.. um pai foi ótimoo..
Desde: "Muito, acho que...", até: "...coisa de amiga!", sem comentários.. hehehe
(L)
;)
eu ri demais quando vc pensava no que fla pro pai. acabo fazendo isso o tempo todo, mas já percebi que nao é muito bom fazer isso. rs
FATO! As respostas pro pai são as melhores! kkkk rachei! perfeito
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