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janeiro 18, 2010

Desagradável, sempre

“Pq vc ñ me responde, gata?”.
 
Fiquei olhando para a mensagem por minutos a fio. Não queria mais a Clara na minha vida. E então não respondia – não queria ter que lidar com aquilo, com ela, com nada. Desaparece, por favor, só desaparece. Mas quando reabri os olhos, as suas palavras continuavam na minha frente, me incomodando. Argh.
 
A Clara vinha tentando falar comigo a semana toda, inadvertidamente. E eu ignorando. Por pura falta de respeito – tinha perdido o meu por ela. É. Parte de mim talvez esperasse que fosse se cansar e simplesmente parar de me ligar. Não queria começar uma briga, me desgastar, enfrentar o quanto gostava dela, me irritar de novo. Só queria que sumisse. Mas não te dei motivo, não é, garota?, raciocinei. E após quase uma hora de hesitação, decidi enfrentar o que há várias madrugadas eu procurava evitar – “fui no vegas quarta passada e te vi la, perdi o interesse”, digitei.
 
Não via motivo para me estender. E talvez a Clara lotasse minha caixa de entrada com justificativas, mas eu não ligava mais. Deleto tudo amanhã de manhã, decidi, com pressa de a cortar da minha vida. Não queria ouvir. A Clara tinha perdido esse direito. Desliguei o som do celular e afundei a cabeça no travesseiro, me virando para dormir. Chega.
 
Na manhã seguinte, levantei atrasada. Depois de uma noite inquieta, mal dormida. Era quinta-feira – o que me soava como uma grande merda. Coloquei qualquer regata no corpo, subi meu jeans surrado pelas pernas e saí do quarto. O mau-humor em pessoa. A real é que, por mais que eu me forçasse a não me importar com aquele rolo todo e com a Clara, ela continuava na minha cabeça. No meu subconsciente, me machucando. Inferno, eu gostava mesmo de você, garota, eu engolia em silêncio, mais solitária do que era capaz de admitir.
 
A minha angústia já se arrastava por dias. E eu vinha tornando minha infelicidade grosseiramente perceptível a todos que ousavam falar comigo ou sequer cruzar o meu caminho. Estava insuportável. Assim que coloquei meus pés na cozinha, dei de cara com a Mia e o Fer sentados à mesa, aproveitando todo o resto do cereal que eu pretendia comer. Fala sério. Amaldiçoei-os mentalmente e agarrei a caixa de um cereal-não-tão-gostoso que havia sobrado na prateleira. Aí me sentei grosseiramente para comer, deixando bem claro a miséria à qual meu café da manhã havia sido reduzido graças a eles. Os dois me olharam, sem entender.
 
Havia certa pena na forma como o Fer andava me observando nos últimos dias, mas ele nem tentava mais me animar. Eu estava intragável. Indesejavelmente, a presença da Mia naquela casa me distraía e a minha raiva era substituída por um desconforto tremendo. Ela sabia que eu gostava dela há dias e, desde então, não disse mais nada na minha direção – num silêncio bizarro entre nós. De novo. Me sentia duplamente idiota. Pra quê fui falar?
 
O café da manhã foi um martírio. Eu olhava para a Mia e ela fingia não me ver, então voltava a encarar o meu prato, o Fer me observava, piedoso, eu percebia e ele desviava o olhar rapidamente, eu olhava para ele e depois para a Mia, ah... Mia, a admirava por um tempo até que ela, enfim, me olhava de volta, aí eu forçava um sorriso discreto e desajeitado e ela imediatamente disfarçava, procurando outra coisa para olhar, droga. Numa dança silenciosa, fadada ao desastre.

1 comentários:

Noelly Castro disse...

Voy a ser honesta, me encanta los detalles de la realidad y las expresiones.. Yo diría que es a la vez ilustrativo y abierto a la imaginación.. lo que hace la lectura muy agradable.. hehe

mi amiga es una gran escritora..

besitos, gatita..