“Pq vc ñ me
responde, gata?”.
Fiquei olhando para a mensagem por minutos a fio. Não queria mais
a Clara na minha vida. E então não respondia – não queria ter que lidar com
aquilo, com ela, com nada. Desaparece,
por favor, só desaparece. Mas quando reabri os olhos, as suas palavras
continuavam na minha frente, me incomodando. Argh.
A Clara vinha tentando falar comigo a semana toda, inadvertidamente. E eu ignorando. Por
pura falta de respeito – tinha perdido o meu por ela. É. Parte de mim
talvez esperasse que fosse se cansar e simplesmente parar de me ligar. Não
queria começar uma briga, me desgastar, enfrentar o quanto gostava dela,
me irritar de novo. Só queria que sumisse. Mas
não te dei motivo, não é, garota?, raciocinei. E após quase uma hora de
hesitação, decidi enfrentar o que há várias madrugadas eu procurava evitar – “fui no vegas quarta passada e te vi la, perdi
o interesse”, digitei.
Não via motivo para me estender. E talvez a
Clara lotasse minha caixa de entrada com justificativas, mas eu não ligava mais.
Deleto tudo amanhã de manhã, decidi, com
pressa de a cortar da minha vida. Não queria ouvir. A Clara tinha perdido esse
direito. Desliguei o som do
celular e afundei a cabeça no travesseiro, me virando para dormir. Chega.
Na manhã seguinte, levantei atrasada. Depois de uma noite inquieta,
mal dormida. Era quinta-feira – o que me soava como uma grande merda. Coloquei
qualquer regata no corpo, subi meu jeans surrado pelas pernas e saí do quarto. O
mau-humor em pessoa. A real é que, por mais que eu me forçasse a não me
importar com aquele rolo todo e com a Clara, ela continuava na minha cabeça. No
meu subconsciente, me machucando. Inferno, eu gostava mesmo de você, garota,
eu engolia em silêncio, mais solitária do que era capaz de admitir.
A minha angústia já se arrastava por dias. E eu vinha tornando
minha infelicidade grosseiramente perceptível a todos que ousavam falar comigo
ou sequer cruzar o meu caminho. Estava insuportável. Assim que coloquei meus
pés na cozinha, dei de cara com a Mia e o Fer sentados à mesa, aproveitando
todo o resto do cereal que eu pretendia comer. Fala sério. Amaldiçoei-os mentalmente e agarrei a caixa de um
cereal-não-tão-gostoso que havia sobrado na prateleira. Aí me sentei grosseiramente
para comer, deixando bem claro a miséria à qual meu café da manhã havia sido
reduzido graças a eles. Os dois me olharam, sem entender.
Havia certa pena na forma como o Fer andava me observando nos
últimos dias, mas ele nem tentava mais me animar. Eu estava intragável. Indesejavelmente,
a presença da Mia naquela casa me distraía e a minha raiva era substituída por
um desconforto tremendo. Ela sabia que eu gostava dela há dias e, desde então,
não disse mais nada na minha direção – num silêncio bizarro entre nós. De novo.
Me sentia duplamente idiota. Pra quê fui
falar?
O café da manhã foi um martírio. Eu olhava para a Mia e ela fingia
não me ver, então voltava a encarar o meu prato, o Fer me observava, piedoso, eu
percebia e ele desviava o olhar rapidamente, eu olhava para ele e depois para a
Mia, ah... Mia, a admirava por um
tempo até que ela, enfim, me olhava de volta, aí eu forçava um sorriso discreto
e desajeitado e ela imediatamente disfarçava, procurando outra coisa para olhar,
droga. Numa dança silenciosa, fadada
ao desastre.
1 comentários:
Voy a ser honesta, me encanta los detalles de la realidad y las expresiones.. Yo diría que es a la vez ilustrativo y abierto a la imaginación.. lo que hace la lectura muy agradable.. hehe
mi amiga es una gran escritora..
besitos, gatita..
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