Observava as rosquinhas cor-de-mel afundadas no leite. O conjunto
me parecia algo semelhante a vômito. Colocava algumas rodelas ensopadas na
colher e logo despejava-as de volta ao prato. Que asco, eu pensava, enojada. O Fer tagarelava empolgado,
comentando os acontecimentos da festa, enquanto eu o ignorava – expressando
fisicamente a minha repulsa pelo cereal disposto na minha frente.
_Mano... – ele reclamou, interrompendo o assunto aos risos,
indignado – Só come logo!
_Não quero comer isso.
_Você tem que comer alguma coisa, meu, senão vai ficar zoada o
resto do dia todo...
Que se
dane. Eu aguento, me convenci mentalmente, é melhor
do que engolir isso. Argh. O domingo já estava quase no fim, mas a minha
ressaca estava realmente zoada.
Tá. Talvez eu não aguente. Minha cabeça parecia prestes a
explodir. Sentia meu corpo inteiro contorcer-se internamente, meus olhos
inchados, meus braços doloridos e qualquer ruído mínimo na cozinha despertava a
pior dor de cabeça do século. A culpa era toda minha, do Jameson e da vodca de
4,99.
E da Mia, claro, que estava sentada na sala. Me ignorando.
Respirei fundo e enfiei aquela gosma nojenta para dentro da boca.
Mastiguei a papa mole cor-de-vômito-com-mel e engoli, fazendo uma careta
involuntária. Credo. O Fer resmungava
qualquer coisa sobre como eu era “fresca” e ria da minha desgraça. Contra a
minha vontade, forcei mais uma colherada goela abaixo e senti cada pedacinho de
rosquinha mastigada e diluída em leite sendo digerido pelo meu estômago, em
meio aos litros e mais litros de porcarias alcoólicas que eu havia ingerido na
noite anterior.
Não. Merda,
vou vomitar.
Saí correndo em direção ao banheiro, às pressas, e coloquei a cara
na privada. O Fer entrou, assustado, logo em seguida:
_Cê tá bem?
_Tô! Cai fora! – reclamei, engasgada, e comecei a vomitar.
_Puta que pariu... Não devia ter feito você comer, desculpa. Merda!
– o Fer se desesperou – E-eu... eu vou chamar a Mia, meu, aguenta aí!
Não. Isso não. O Fer saiu correndo e senti que ia vomitar
mais uma vez, sem conseguir evitar que ele a chamasse, porcaria. Ele não
conseguia ficar perto de outras pessoas vomitando sem sentir ânsia também – o
que frequentemente era o caso nas nossas festas. Pouco tempo depois, ouvi a
porta se fechando. A Mia ajoelhou ao meu lado e segurou o meu cabelo para cima.
Senti a mão dela molhando a minha nuca. E aquilo ajudou. Logo quando eu achava
que ia ficar bem, a ânsia voltou e começou tudo de novo. Os meus olhos
lacrimejavam. E eu me contorcia violentamente, a cada episódio, durante uns 10
minutos seguidos. Sexy.
Tudo aquilo me deixou exausta. Encostei na parede do banheiro,
sentada no chão, e a Mia me deu um pano molhado. Limpei o rosto e deixei as
mãos caírem sobre as minhas pernas, me sentindo fraca.
6 comentários:
Parabéns, de verdade.
Esta muito bom ...
Mas o nome da menina (se não me engano) era Ana Luiza no post anterior e agora vc se refere a ela como Ana Julia
Obrigada :)
E é Ana Luiza mesmo hahaha acabei de trocar, a "Júlia" aparece um pouco mais tarde na história... me confundi, valeu por avisar!
Porre homérico. Parece um que tomei esses dias, hahaha
Mel, dá um ctrl + f e procura a palavra "assutado" e corrige.
Beijão da sua revisora ;)
Hahaha, adorando! Um beijo de volta e obrigada :)
Postar um comentário