_SAI DA MINHA FRENTE, CARALHO!
Subi a Rua Augusta transpirando ciúmes por todos os meus poros,
trombando em todos os tarados e idiotas que ocupavam a calçada. Não conseguia
acender um cigarro sequer, estava tão irritada que era capaz de começar uma
briga por motivo nenhum. Eu devia ter
falado alguma coisa, e-eu... eu devia ter ido até lá e tirado aquela idiota de
cima dela, e-eu devia... argh. Inferno. Não conseguia pensar direito, minha
cabeça estava cheia e a imagem da Clara se agarrando com outra insistia em
voltar à minha mente.
Desgraçada.
Eu realmente gostava dela. E não conseguia evitar toda aquela
angústia, a minha frustração. Vai se
foder, mano, eu resmungava
mentalmente, me sentindo
traída. Como eu sou idiota, uma porra de
uma idiota, aqui, que nem uma trouxa acreditando nela, achando que ela
realmente estava em casa, que esse tempo todo gostava mesmo de mim. E tá, talvez eu também não tivesse
sido exatamente sincera sobre meus sentimentos com a Clara. Ou melhor, até
disse a verdade – gostava mesmo dela –, só omiti tudo o que dizia respeito à
Mia. E eu sabia o quão hipócrita eu era por detestá-la agora. Mas vê-la com
outra garota ali, depois que ela passou meia hora reclamando que tinha que
arrumar a casa naquela noite, me tirou do sério.
Cheguei de volta ao meu prédio nem meia hora depois de sair, me
sentindo uma puta duma burra, num acesso de raiva, batendo a porta do
apartamento e chutando uma mochila largada em frente à entrada. O “Casal 20”
estava sentado no sofá e testemunhou o meu comportamento infantil e destrutivo.
O Fer se levantou na mesma hora, nervoso, perguntando por que diabos eu estava
chutando tudo e tentando quebrar a nossa porta. Pelo bem do nosso inevitável
convívio, resolvi não responder e atravessei a sala bufando, ignorando a
pergunta. Mas aí ele insistiu – e aquilo me irritou ainda mais.
_Mano – se indignou – QUE PORRA É ESSA??
_NÃO É DA SUA CONTA, CARALHO!!
_É da minha conta se você vai destruir o nosso apartamento!!
_Quer saber mesmo?? – eu me virei, prestes a me descontrolar – ACABEI DE PEGAR A CLARA PRATICAMENTE DANDO PRA OUTRA MINA NA BALADA! FOI ISSO QUE ACONTECEU!
_E você precisa agir que nem uma criança, meu?! A mina nem era sua namorada!
_FODA-SE! FODA-SE, FERNANDO! NÃO SOU OBRIGADA A GOSTAR!!
_TÁ! MAS TAMBÉM NÃO PRECISA SAIR CHUTANDO TUDO, PORRA!! VAI DESCONTAR NAS MINHAS COISAS AGORA?!?
_AH, VAI SE FODER, MANO!
Entrei no meu quarto, enfurecida, batendo a porta ainda mais
forte. Andei de um lado pro outro, impaciente. Filha da puta. Não
sabia o que fazer comigo mesma – então sentei na cadeira, que ficava
embaixo da janela, e procurei me acalmar, acendendo um cigarro. Não vou ligar para ela. Não vou ligar para
ela. Não vou ligar para ela. Não vou ligar para ela. Não vou ligar para ela – repeti
para mim mesma, numa tentativa de evitar um barraco. A Clara não é nada. Nada. Eu não preciso dela. De ninguém. Eu não tenho
nada para falar, nada.
Dei um trago, nervosa. E soltei a fumaça no ar. Que se foda. É, é isso! Que se foda a Clara!
E-eu, eu posso arranjar alguém melhor que ela. Eu não preciso disso. Foda-se.
Que se dane! Ela e aquela balada inteira! Que se foda todo mundo! Todavia,
por mais que eu tentasse me convencer de que era melhor ter passado por isso
agora do que dali alguns meses, mais eu pensava na Clara. E na possibilidade de
“meses”.
Porra. Por
que você foi fazer isso logo agora?
A verdade é que eu conseguia perdoar
quase qualquer coisa, mesmo que me ferisse o ego, mas não uma mentira tão
deslavada assim. Na minha cara. Ah, isso
não. Ela podia ter dito que não dava, que não
queria, sei lá, que já tinha outros planos. E talvez eu entendesse. Quer
dizer, não que eu fosse gostar – porque a porra da lembrança da sua boca em
outra ainda me doía, misturada com todas as coisas que dizíamos uma para outra
quando estávamos juntas, nos divertindo e nos gostando, cacete –, mas
entenderia. Entenderia que eu não era a única nos seus planos.
Mas aquilo, não. Daquele jeito, assim, pega de surpresa e
feita de trouxa. Isso não, argh. Minha cabeça começava então a repassar
todas as vezes em que não estivemos juntas, todas as vezes em que possivelmente
ela tivesse mentido para mim, como agora. E eu me sentia um nada. Inferno. Foi
quando, de repente, toda a minha confusão mental foi interrompida pela Mia –
que bateu sutilmente na porta, pedindo para entrar.
_Vim só ver se você tá bem... – ela disse, baixinho.
_Sai! – a cortei, irritada – Não quero falar.
E a Mia ficou quieta ali, me olhando. O silêncio dominou todo o
quarto. A última coisa que quero fazer é conversar
sobre a Clara com você, caralho. E tá
– a Mia parecia genuinamente querer ajudar, mas só a ideia de ter uma conversa
dessas com ela como se fôssemos “amigas” piorava mil vezes a situação. Então
continuei fumando sem olhá-la de volta, encarando o chão. Nem um ruído, nada.
Absorvida nos meus pensamentos. Mas que bosta,
como fui me meter nessa? Senti o meu coração disparar no meu peito.
E então, sem saber bem o porquê, abri a boca:
_Eu menti para você.
_Pra mim? – a Mia estranhou – Sobre o quê??
_Sobre o nosso beijo. Eu sei por que eu fiz aquilo.
_A gente n-não devia falar disso a-agora...
Se inquietou. E com razão – a porta continuava aberta e o Fer
estava logo ali na sala, no fim do corredor.
_A verdade é que eu quis te beijar, Mia – as palavras simplesmente
escaparam da minha boca – E... e a Clara não significava porra nenhuma pra mim.
_V-você só tá falando isso p-porque tá brava com ela – argumentou, me encarando, confusa.
_Não – a interrompi – Eu gosto de você, porra, e-eu... – continuei, olhando nos seus olhos e a forçando a acreditar em mim – ...gosto mais do que devia gostar, Mia.
Ela deu um passo para trás, hesitante – mas não havia mais volta.
Ela finalmente sabia.
_NÃO É DA SUA CONTA, CARALHO!!
_É da minha conta se você vai destruir o nosso apartamento!!
_Quer saber mesmo?? – eu me virei, prestes a me descontrolar – ACABEI DE PEGAR A CLARA PRATICAMENTE DANDO PRA OUTRA MINA NA BALADA! FOI ISSO QUE ACONTECEU!
_E você precisa agir que nem uma criança, meu?! A mina nem era sua namorada!
_FODA-SE! FODA-SE, FERNANDO! NÃO SOU OBRIGADA A GOSTAR!!
_TÁ! MAS TAMBÉM NÃO PRECISA SAIR CHUTANDO TUDO, PORRA!! VAI DESCONTAR NAS MINHAS COISAS AGORA?!?
_AH, VAI SE FODER, MANO!
_Sai! – a cortei, irritada – Não quero falar.
_Pra mim? – a Mia estranhou – Sobre o quê??
_Sobre o nosso beijo. Eu sei por que eu fiz aquilo.
_A gente n-não devia falar disso a-agora...
_V-você só tá falando isso p-porque tá brava com ela – argumentou, me encarando, confusa.
_Não – a interrompi – Eu gosto de você, porra, e-eu... – continuei, olhando nos seus olhos e a forçando a acreditar em mim – ...gosto mais do que devia gostar, Mia.
12 comentários:
puta que pariu
puta que pariu 2
AMOOO! MAIS MAIS MAIS!!!
Minha nossa senhora da bicicletinha!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!rs
Ainda me mata S2!!!!!!!Qdo leio seus posts é como estar vendo a cena acontecendo na vida real... vc escreve MUITO bem! Bju lindona!!!=D
Putz, esse drama com a Mia me lembra tanto um drama pessoal (tudo bem que era hetero, mas o ser em questao tb precisava sair do armario rs)
Tem muita coisa em comum mesmo hahaha
ansiosa pelo proximo post
=**
ahh.. adorei.. mas, o que mais eu amo, é que, mesmo com prévias e tentando associar as coisas sempre me surpreendo e adoro as surpresas deste blog e da cabecinha da "gatita(mucho)" que escreve este blog..
sim, sim.. ansiosa pelo próximo post.
;**
Uouuuu, o que era bom ficou ainda melhor!!!!!
Mais, mais, mais.... *__*
Como faz para conhecer a escritora por tras desta história?
Quando vai postar maissss?!!?!?!? =D
Daqui a pouquinhooo... ;)
A raiva é uma péssima conselheira...o que será que vem por aí?
Quase três anos depois eu sei que esse post foi um dos melhores. Foda!
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