Uma coisa não saía da minha cabeça – que diabos a Mia perguntou no Inferno?
Aquilo me perturbou a semana inteira, mas sabia que não podia
simplesmente retomar o assunto com o Fer. Seria burrice demais. Não havia motivo
para me interessar tão insistentemente pelo assunto. Então, dia após dia, me
torturei com a incerteza. Queria saber exatamente o que ela tinha dito, palavra
por palavra – descobrir até que ponto ela estava curiosa sobre aquilo tudo e,
especialmente, sobre mim.
A única coisa que me distraía daquela angústia eram minhas mensagens
com a Clara – que ocupava minhas madrugadas de um jeito despretensioso, leve,
me mandando músicas aleatórias e me fazendo sorrir a cada vez que o celular
apitava. Bomba Estéreo. Onda Vaga. Smiths. Billy Idol. Natalia Lafourcade. Portishead.
E talvez eu devesse deixá-la fora daquela bagunça, mas conforme o fim de semana
foi se aproximando, a verdade é que me deu vontade de vê-la. Então fiz o
que ninguém com o mínimo de moral faria – peguei o telefone e a chamei para
passar o sábado em casa.
Assim que desliguei, caí na real. Por que cargas d’água eu fui fazer isso?
Sempre fui boa em me autossabotar, mas andava exagerando nos
últimos tempos. Me enrolando sem pensar direito. Uma péssima estratégia caso eu
quisesse ter um relacionamento real – não ridiculamente platônico
– num futuro próximo. Com a boca numa, o coração na outra e a cabeça
terrivelmente confusa, sem saber para onde ir.
E a Clara veio. Tocou minha campainha lá pelas 11 da manhã no
sábado e eu abri a porta, dando de cara com as suas pernas num vestido desses de
ficar em casa. Caralho. Mais linda do
que eu me lembrava. Com os óculos escuros por cima do cabelo bagunçado, nuns
fios desiguais, e a palavra “subversão” tatuada bem pequenininha abaixo
da linha do ombro – parecia ter sido feita um dia antes. Olhou pra minha cara de
quem deu pegas demais num baseado antes mesmo de comer, largada numa bermuda velha
de moletom com uma camiseta que transformei em regata uns anos antes – o tecido
enrolado nas bordas cortadas, sabe –, e riu. Pois é. Naquela minha
vagabundice eu não era nem de longe digna daquela mulher. Mas passei a mão pelo
meu cabelo amassado e sorri para ela, de volta.
_Entra aí, meu...
Na casa. No
quarto. Em mim. O n d e v o c ê q u i s e r.
E pelas horas seguintes, ficamos tão imersas uma na outra, tão mergulhadas
nos meus lençóis que esquecemos do mundo. Com ela era fácil, não sei. Me
desliguei de tudo, metida entre suas pernas, seus beijos, que não prestei
atenção e não ouvi...
...quando a Mia chegou.
3 comentários:
ihh, vai da merdaa huahauahau to amando melzinha :]
Caraca, tri legal, guria!!! Da onde tirastes tanta inspiração!!! Por favor Nãooo pareee!!!
Clara Clara Clara <3
Postar um comentário