- »

janeiro 02, 2010

Limite pra quê?

Pois é. Não foi proposital – não a princípio. Mas a cada minuto que eu passava com a argentina, o olhar da Mia se direcionava com mais frequência a nós duas. E quando me dei conta, a sua insistência em nos observar começou a me inquietar. Ah, isso muda tudo. Arrastei a Clara até o bar e nos arranjei duas doses de tequila, estacionando bem ao lado do Fer e da sua namorada, visivelmente intrigada pelos nossos beijos.
 
Ergui as sobrancelhas na direção da Mia e ri, achando graça – curiosa?
 
Aquela era a minha chance de testar o quanto de interesse real tinha por trás daqueles seus olhos castanhos. E mostrar para ela como era gostar de verdade de mulher. A Mia nunca tinha me visto com nenhuma garota. Não de fato. Viu uma ou outra indo comigo para o banheiro da balada ou passando pelo corredor do apê na manhã seguinte. Mas não assim como eu estava com a Clara, naquela obsessão meio chapada, numa paixonite de rolê, nos agarrando sem limites pelos cantos do Inferno e rindo, tagarelando, sem conseguir nos largar nem por um segundo.
 
E ah, estava prestes a ficar pior.
 
_E-essa é a Clara – apresentei, já falando arrastado – E esses... são o F-fernando e a, a Mia.
_Oi – a Clara acenou, sem muito interesse.
 
Tá. Com os cumprimentos concluídos, empurramos as tequilas para dentro e assim que os nossos copos vazios tocaram o balcão, a Clara me virou contra o bar. Apoiou as mãos na beirada e me cercou o corpo, me impedindo de sair dali. Achei certa graça – como se eu fosse louca de querer estar em qualquer outro lugar, garota. Aí nos beijamos. Demoradamente. Aproveitando cada milímetro uma da outra, numa intensidade crescente. E começamos a nos agarrar ali mesmo.
 
Os olhos da Mia observavam atentamente cada movimento das nossas bocas, descendo junto com as minhas mãos pelas curvas da Clara até os bolsos de trás da sua calça, a segurando contra o meu corpo. A gente ia ignorando todas as pessoas amontoadas ao nosso redor, aguardando para pedir uma bebida. Que se dane todo mundo. O Fer tagarelava sem parar ao lado da Mia e ela nos encarava fixamente, sem sequer disfarçar – não conseguia se conter. Mais um beijo, mais um olhar. Sequer ouvia o que ele estava dizendo. E então eu me atracava ainda mais com a Clara, completamente imersa no seu jeito, na sua boca. O problema, vejam bem, é que eu não resistia a uma perdida de linha.
 
E antes que a noite acabasse, eu e a Clara íamos perder todas elas.

0 comentários: