Não foi proposital – não a princípio.
Mas a cada minuto que eu passava com a Clara, o olhar da Mia se
direcionava cada vez com mais frequência a nós duas. Não sei bem se por
interesse ou estranheza. Mas toda vez que olhava na sua direção, ela abaixava a
cabeça tentando disfarçar. Ah, isso
muda tudo. Assim que me dei conta, arrastei a Clara até o bar, estacionando
bem ao lado do Fer e da sua namorada visivelmente intrigada. Então ergui as
sobrancelhas na direção da Mia e ri, curiosa?
Não que eu me orgulhe. Mas eu tava mais louca do que o Batman e
aquela era a minha chance de testar o quanto de interesse real tinha por trás
dos seus olhos castanhos. A Mia nunca tinha me visto com uma garota. Não de
fato. Talvez uma ou outra indo comigo para o banheiro da balada ou passando
pelo corredor do apê na manhã seguinte. Mas não assim como eu estava com a
Clara, naquela obsessão, casadas no rolê, nos agarrando sem limites
pelos cantos do Inferno e tagarelando, nos divertindo, sem nos largar por um
segundo.
_E-essa é a Clara – a apresentei, falando arrastado – E esses...
são o F-fernando e a, a Mia.
Tá. Com os cumprimentos concluídos, empurramos duas
tequilas para dentro e assim que os nossos copos tocaram o balcão vazios, nos
agarramos contra o bar mesmo. Ignorando todas as pessoas amontoadas ao nosso
redor, que aguardavam para pedir uma bebida. Que se dane. O Fer
tagarelava sem parar ao lado da Mia sobre como a música que estava tocando era
melhor na versão do The Knife ou sei-lá-o-quê e ela nos encarava fixamente, sem
nem disfarçar. Não conseguia se conter – mais um beijo, mais um olhar. Sequer
ouvindo o que ele dizia. Meus olhos se abriam e a encontravam, num milésimo de
segundo. Então se fechavam de novo. Imersa cada vez mais no gosto de tequila, na
Clara.
O problema, vejam bem, é que eu não resistia a uma perdida
de linha. E antes que a noite acabasse, nós íamos perder todas elas.
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