Por que o
meio da semana é sempre o pior?
Argh. Meu tédio mortal se prolongava pelo mais lento de todos os dias de trabalho.
Lá estava eu, fingindo me concentrar numa seleção de fotos de casamento,
apoiando o rosto nas mãos e quase caindo da cadeira. Qual é a dos
héteros e essas cerimônias de merda?, me indaguei, amarga, olhando para as
fotos no computador e ignorando o meu dever em editá-las. Na boa, isso
é uma grande piada, refleti, e o pior é que eles sabem. Todo mundo sabe. Sabe
que é tosco, continuei,
passando foto por foto, indignada com a cultura do matrimônio. Não tem como, mano, eles têm que saber. Não é possível que alguém leve isso a sério.
Meus pensamentos heterofóbicos me
distraíam improdutivamente da minha função. A verdade é que eu achava até certa
graça naquele tipo de trabalho. As fotos eram sempre iguais e pareciam me dizer
muito sobre as pessoas – ficava horas observando os sorrisos posados e os
olhares bêbados de fim de festa, procurando qualquer descuido do noivo ou da
noiva. Aquilo me entretinha. Era como procurar indícios de uma conspiração,
sinais escondidos de que ninguém ali realmente se gostava, de que era tudo só
para manter as aparências. Ou para ostentar.
Pois lá estava eu, absolutamente
compenetrada na minha viagem sociocrítica, quando meu celular tocou – me
despertando de volta para a realidade. Do outro lado da linha, a voz afeminada de
um dos meus melhores amigos começou imediatamente a tagarelar qualquer coisa
sobre acompanhá-lo ao Vegas... e blá blá blá e que ele precisava de companhia porque
ia encontrar um bofe e que a gente tinha que encher a cara e escandalizar na
pista a noite toda e que ele não ia aceitar não, entre muitos comentários
vomitados de uma só vez.
Ah, é tudo o que eu preciso. O Gui é a minha salvação.
_Cê não tem desculpa, são dois minutos
da tua casa, você vai!
_Lógico que vou, Gui – eu ri – Quando foi que eu deixei de sair com você, meu?
_Melhor eu não responder essa, né, sua vagabunda...
_Ok, tá... – eu ri, de novo, consciente do meu desempenho vergonhoso como amiga nos últimos meses – ...mas juro, desta vez eu vou.
_Vai mesmo! CÊ NÃO OUSE FURAR COMIGO! – me advertiu, gritando escandalosamente ao telefone, enquanto eu cruzava as pernas e me afundava na cadeira, me divertindo com a bronca – Sério. Quero muito te ver!
_Não vou furar, mano.
Desliguei o celular instantes depois, feliz
e com uma perspectiva melhor para o restante do meu dia. Inesperadamente salva
por um telefonema. É – o Gui era a companhia ideal para distrair a minha cabeça. Era exatamente
o que eu precisava depois daquele fim de semana conturbado. Ao fim do
expediente, no caminho de volta para casa, já fumei menos cigarros do que vinha
consumindo naqueles dias todos. Não tive vontade. Digitei para a Clara,
animada, quando desci do metrô – “oq vc vai
fazer hj?”. E assim que entrei em casa, chegou a
sua resposta:
“Faxina,
01 porre! :/”.
Achei certa graça na desgraça alheia. Ninguém merece. E atravessei a sala, sem falar com a Mia, que não saía mais da porra
da minha casa e estava ali, bolando um baseado sobre a mesinha de centro recém-consertada.
Fui direto para o meu quarto e comecei a vasculhar o meu armário atrás dos meus
trapos de flanela, de alguma regata que prestasse, pronta para uma noite digna
de Las Vegas. Ou a
versão paulistana disso.
_Lógico que vou, Gui – eu ri – Quando foi que eu deixei de sair com você, meu?
_Melhor eu não responder essa, né, sua vagabunda...
_Ok, tá... – eu ri, de novo, consciente do meu desempenho vergonhoso como amiga nos últimos meses – ...mas juro, desta vez eu vou.
_Vai mesmo! CÊ NÃO OUSE FURAR COMIGO! – me advertiu, gritando escandalosamente ao telefone, enquanto eu cruzava as pernas e me afundava na cadeira, me divertindo com a bronca – Sério. Quero muito te ver!
_Não vou furar, mano.
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