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janeiro 07, 2010

Pausa para pizza

_Mia, oi! – me assustei, assim que entrei na cozinha.
 
Passamos pela porta e, para minha surpresa, lá estava ela. Sentada à mesa com o Fer, como se tivesse acabado de vir da rua, vestindo três vezes mais roupa do que eu e a Clara juntas. Tinha me esquecido completamente da possibilidade de encontrá-la no apartamento naquele sábado, droga. Me enrolei para disfarçar o espanto, subitamente nervosa:
 
_O-o que você tá f-fazendo aqui?
_Eu... vim... visitar o Fê? – ela respondeu, sem entender bem o porquê da pergunta.
_Ah. Óbvio!
_Cê bebeu, mano?! – o Fer me perguntou, como se eu fosse louca.
_Não, c-claro que não – eu ri, sem jeito, tentando disfarçar meu comportamento inadequado – Só n-não sabia que cês, cês tavam aqui...
_Eu ia lá te falar “oi” – ela explicou – Mas a porta do quarto tava fechada, então...
_É, e-eu tava meio... ocupada... – respondi e a Clara me abraçou pela cintura, afundando o rosto no meu ombro, discretamente rindo; a Mia pareceu incomodada – Bom, m-mas... Continuem aí o, o que quer q-que cês tavam fazendo, nós só vamos pegar o resto da pizza e já tamo saindo. Ignorem nossa presença!
 
Atravessamos a cozinha e a Clara cochichou no meu ouvido, ainda meio aos risos, me provocando – “a gente tá causando, meu”, achou graça. E eu sorri. É. Um pouco. Abraçou as minhas costas enquanto eu vasculhava a geladeira atrás do nosso almoço tardio. Perguntei se ela costumava comer pizza assim no Ártico e ela se divertiu, me apertando ainda mais, com carinho.
 
_Olha, essa aí acho que não... – brincou, olhando a caixa.
_Como assim? O delivery da Augusta não chega na Islândia, pô?
_Ah, se pá... – fez graça – ...ia levar só, o quê, uns 2 meses?
_Isso, meu. Rapidinho!
_E o bom é que dá tempo de colocar umas cervejas pro lado de fora da janela, né, pra já dar aquela gelada – ela riu, enquanto eu colocava nossos pedaços no microondas – Aproveitando a neve toda.
_Sim, muito prático...
 
Não conseguíamos parar de rir daquela baboseira, agindo como se estivéssemos completamente fumadas – o que era parcialmente verdade. Na mesa, o Fer e a Mia agora nos olhavam meio assustados e sem entender uma palavra. Mas com a Clara, não sei, eu me sentia bem, me sentia leve. A beijei um pouco mais forte, a puxando mais para perto.
 
_Hummm, Bowie... – ela zombou, me segurando pela cintura – Quem diria que eu ia gostar tanto de caras?
_Não se preocupa, gata... – me aproximei do seu ouvido e falei baixinho – ...eu fodo que nem mina.
 
Suas mãos agarraram ainda mais a minha camiseta. E nos beijamos de novo, rindo, nuns amassos contra a pia. Até o microondas apitar. A nossa presença contagiava todo o cômodo – provavelmente do jeito mais irritante. O Fer decidiu ignorar a nossa paixonite adolescente, descarada, lendo qualquer coisa na caixa de cereal, enquanto a Mia ainda nos olhava atentamente. Senti que lhe devia explicações:
 
_Eu s-sou... o Bowie... – apontei para a minha estampa – ...e tô pegando a-a Björk! – sorri, satisfeita – Entendeu?
 
Ela meio sorriu de volta, sem achar graça, enquanto a Clara escondia o riso no meu ombro de novo, com as mãos ainda na minha blusa. Fiquei parada, olhando para a Mia, tentando decifrar a sua reação. Inutilmente. Após alguns segundos, percebi que ficar lá não ia melhorar em nada o clima.
 
_Vamos, vou te mostrar onde fica o backstage, gata... – disse, sorrindo, e puxei a Clara pela mão.
 
Tirei o prato do microondas e fomos até a porta da cozinha, ainda de mãos dadas, nos divertindo com o papelão que estávamos fazendo. Olhei para a Mia mais uma vez antes de sair e ela continuava lá, parada, me observando. Não consigo te entender, pensei.
 
E saí.

1 comentários:

lu disse...

Este post é uma graça! Como a FM consegue, a cabeça em um lugar e o "resto do corpo" em outro!?! :/