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janeiro 22, 2010

A Festa 2

Horas depois e a festa estava sendo um sucesso – no sentido mais depreciativo e imoral da palavra. Toda alma paulistana que não estivesse bebendo, conversando, fodendo ou dançando no nosso apartamento naquele sábado à noite estava, com certeza, arrependida. E todos os meus adoráveis vizinhos encontravam-se declaradamente furiosos. Foda-se. Eu estava me divertindo, por fim, e a multa certamente não ultrapassaria o limite do impagável. Eu e o Fernando já tínhamos praticamente um fundo mensal reservado só para as advertências do prédio.
 
As duas doses iniciais de tequilas passaram por mim quase despercebidas e o rum não fez nem cócegas. Foi só quando eu cheguei no whisky que a minha cabeça começou a me enviar sinais reais – e latejantes – de que eu ia ficar muito louca. Não era minha culpa: algum santo trouxe Jameson para a festa e eu simplesmente não podia resistir àquela garrafinha verde. God bless the irish.
 
Sentamos, eu e o meu irlandês, num canto espremido do sofá. Ao meu lado, estava o fabuloso Gui e mais umas dez pessoas amontoadas. Lá fiquei por um tempo, entre um gole e outro, ouvindo meu amigo incalável discursar sobre a noite em que o deixei sozinho no Vegas e as suas peripécias sexuais com o DJ misterioso. Tudo me soava extremamente exagerado e fora de proporção, mas assim era o Guilherme.
 
_...ai, enfim, tô apaixonado.
_Ah, jura? – eu levantei a sobrancelha e comecei a rir.
 
O Gui era um romântico incurável com um problema de foco. E de fidelidade – diga-se de passagem. Então raramente tinha seu coração partido, era sempre o primeiro do casal a cair de amores por um outro cara qualquer e seguir a sua nova “paixão verdadeira” até a cama. Os seus sentimentos o mantinham entretido e os seus pobres exs acabavam sozinhos, sempre um passo atrás dele.
 
No auge dos meus 20 e poucos, eu poderia facilmente me identificar com o Gui. Exceto pela parte de me apaixonar tão efusivamente – desde que me conheço por gente, eu insisto em reservar o meu coração para raras e muito mal escolhidas ocasiões. Sendo assim, lances como o que rolou entre mim e a Clara eram muito mais comuns na situação inversa. E isso evidentemente divertia o Gui:
 
_Agora você saaaaabe como toda a sua hortinha se seeeente quando você resolve ir regar outra florziiiiinha mais interessante... – ele debochava, quase cantarolando.
_Ela não era mais interessante!
_Ui. Alguém está bravinha...
_Não tô nada! – contestei, já consideravelmente bêbada, levantando o indicador na direção do Gui – E a Clara é uma idiota. Todas elas são – eu esbravejava, amarga, falando besteira – Não tem nada que preste em porra de horta nenhuma nessa cidade e eu já tô de saco cheio de comer sempre a, a mesma...
_Planta?
_É.
 
O Gui se divertia com o meu azedume alcoolizado. Eu estava completamente fora do ar.
 
_E o que você vai fazer então? Passar fome? – me zombou.
_Ah, não mesmo...
 
Respondi, olhando fixamente para a Mia. Ela conversava em pé a alguns metros do sofá, absolutamente maravilhosa. O Gui olhou na direção dela e depois para mim, indignado, rapidamente dando-se conta das minhas intenções.
 
_Cê não pode realmente tá pensando nisso!
_Ah, se tô...
_Cê tá muito louca, bicha – o Gui questionou, ao perceber o que se passava pela minha cabeça – CÊ PERDEU O JUÍZO?!
_Não, não perdi... Aí que cê se engana! – argumentei, completamente embriagada e afundada no sofá – As coisas finalmente começaram a se encaixar, gato... Tudo o que eu sentia por ela, toda aquela confusão, de repente faz sentido.
_Mas isso é... v-você não... você... v-você olha lá o que vai fazer, meu, presta bem atenção, porque...
_Não quero nem saber – prossegui, bebendo mais um pouco do whisky já quase esquecido na minha mão, e olhei para o Gui, confiante no que estava dizendo – Hoje, ela é minha.
_Amada! – ele se revoltou e riu, como se eu estivesse prestes a cometer algum tipo de loucura – Essa é justamente a questão: ela NÃO é sua. E VOCÊ SABE, PORRA! Me escuta, cê não pode fazer isso...
_Ah, mas eu vou... – garanti, sem tirar os olhos da Mia, e me levantei do sofá.
_Pelo amor de deus, senta!
 
Ignorei-o. Aquela conversa havia deixado muito claro para mim o que precisava ser feito – o exato oposto do que o Gui aconselhou. Não ouvi nada do que o meu amigo sensato disse e concluí deliberadamente que devia fazer o que me desse na telha. Estava decidida a botar o meu plano em prática. Então, sem pensar duas vezes, andei em direção à Mia, como se não tivesse tomado nem uma gota de álcool – segura do que estava prestes a fazer. Me aproximei por trás dela e coloquei a mão na sua cintura.
 
_Vem comigo – pedi em segredo, a pegando pela mão.
 
E ela me seguiu.

4 comentários:

Ketlen K. disse...

Aaah nao acredito...
To mais curiosa ainda
É agora que elas se pegam (?)
;*

Juliana Freitas Toque de SPA disse...

Caralhoooooooooooooooooo Mellll!!!!!!Vc me deixa lokaaaaa com esses postssss!!!Quando acabam eu dou um grito de raiva pq qro saberrrr oq vai acontecerrr kkk!!!

Bjaummm - ADOOOOOROOOOO!!!!!!

Anônimo disse...

manooo agora vai

Marina disse...

Huahuahua. Acho esse post demais ;)