_É. Eu sei... – ele riu – Deu pra ouvir.
_Eita, desculpa.
_“Desculpa”, sei. Tá muito arrependida você...
_Ah, meu... – fechei de novo os olhos, com a cabeça ainda apoiada no encosto do sofá – ...essa mina aí era da hora, a Clara.
_Era, né – riu – E vocês conversaram mais alguma coisa? Ou cê só sabe o nome dela?
_Olha, pra sua informação, a gente conversou pra caralho...
_Aham.
_É sério, meu, ela é massa – elogiei – Tava me contando aí, ontem, que já viajou pra tudo quanto é canto, fez mochilão na América Latina. Puta mina da hora. Trocamos mó ideia! Falamos de Anzaldúa, de Whitman. Ela quer tatuar um trecho daquele livro lá, o “Folhas de sei-lá-o-quê”, sabe?
_Sei. Folhas de relva.
_“Relva”?!
_Isso – o Fer achou graça, tomando mais um gole da sua cerveja.
_Não, meu, não é possível que seja “relva”.
_É, mano. Eu tenho o livro, caralho, tô te falando!
_Tá. Que seja.
_Mas, pô, firmeza a mina então...
_Nossa, demais. A gente conversou a madrugada toda, foi massa...
_É. Deu pra ver que cê gostou mesmo da “conversa”... – me zombou.
_Ah! Vai cagar, Fernando.
_Bom, vocês pareciam estar se divertindo... – deu mais um gole e me olhou como se eu fosse uma adolescente, balançando a cabeça – A Mia ficou puta da cara, velho... A gente não conseguia dormir...
_Ah, nem vem! – me revoltei – Sou sempre eu que fico escutando vocês, porra, toda maldita noite. Desagradável pra caralho!
_É. Acho que a gente precisa dumas paredes melhores... – o Fer riu.
_E a Mia, afinal, tá aí?
_De mim? Hoje?
_Não... ontem.
_Ontem?
_É... Enquanto você se agarrava com essa mina aí no Inferno... – ele riu, coçando a parte de trás da cabeça – ...acho que não tava acostumada.
_Como assim? Mas perguntou o quê?
_Ah, meu, n-não sei... Essas coisas... – deu de ombros, sem elaborar muito, mas eu insistia em olhá-lo à espera de uma resposta melhor – ...cê sabe, sobre você e a menina, meu.
_Ah, até parece, né? Essas minas que ela anda do Mackenzie ficam dando selinho na balada para fazer graça pra marmanjo, nenhuma delas se pega ali, não...
_É. Talvez – ele riu.
_Hum... – me espreguicei ao seu lado no sofá, esticando as pernas adiante, e joguei um verde – ...mas eu achava que a Mia já sabia de mim faz tempo. Não?
_Ah, ela sabe... – ele riu e me ofereceu a sua cerveja, que eu aceitei contra todo bom senso latejando na minha cabeça – Ou cê realmente acha que eu não ia avisar a minha própria namorada?
_Credo, mano, cê fala como se eu fosse pior que o Lobo Mau...
_Quê? – zombou, me provocando – Cê num sossega, mano!
_Vai se foder! – resmunguei e comecei a argumentar, indignada – Sabe, eu tenho 23 anos, tô fazendo exatamente o que eu deveria estar fazendo... Cê que tá aí, idoso, nessa vida de casado!
_Fala mal, mas bem que queria... – ele riu e eu o empurrei para o lado.
4 comentários:
ADOOOOORO !!
Estou adorando , você escreve muito bem ...
Não consigo parar de ler *-*
Na 18ª linha de baixo pra cima tem "tantos" no lugar de "tanto"... Tô relendo o blog e achei que devia comentar. Beijos Mel ;D
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